terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O XAMÃ E O POETA


















Acordei assustado...
vinha de dentro do peito uma batida que não era do meu coração,
uma batida cadenciada, de repente... senti uma dor imensa na alma,
dor de saudade, sentimento perdido no tempo, perdido em outras vidas.
Entendi ser sons de atabaque num ritual afro em noites enluarada,
depois achei ser sons de Taiko em madrugadas de neve, em terras nipônicas,
senti um vento gelado trazer entre nevoas, sons celtas em noites chuvosas,
depois confundi com a suntuosa cadência do Olodum, em dias de sol.
Na verdade minha alma, deixou escapar sons de outras existências,
maravilhei-me com aquele tambor em minha alma...era meu lado primitivo.
O tambor dava-me acesso através do ritmo à força da vida... ao meu principio,
através dele viajei por outros mundos, era uma ponte entre a terra e as estrelas,
e o caminho que me permitiu viajar no centro do mundo, no coração da mãe-terra.
Nas minhas descobertas, me achei em um Xamâ, em busca de resposta, de amor.
Aquele som vinha do passado, época de procura, de busca, de desencontro, de dor,
vez por outra uma lagrima brotava lá de dentro da alma... era de saudade,
amores desfeitos, olhares perdidos, camas vazias, noites silenciosas e frias.
Os tambores... as vezes soam dentro da alma, uma angustia surge nos olhos,
vidas passadas, escondidas, nutrem um som imaginário no meu peito.
Em pranto volto a mundos imaginários, vidas desconhecidas, sem nome.
De guerreiro tornei-me um escritor.
De selvagem transformei-me em lucidez.
De primitivo tornei-me sonhador.
De Xamã virei poeta...

Ari Mota

2 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Ari
Lindissimo texto, como sempre.
obrigada pelo carinho.

Beijinhos

Elaine Barnes disse...

Ari, adorei! Parece que estava lendo a descrição dos relatos que minha filha faz ao telefone .Ela vive isso quase que diariamente. Muito bom de ler. bjão