sexta-feira, 27 de agosto de 2010

FUI CONDENADO A SER FELIZ


Ao longo da minha viagem fui acometido de solavancos,
vieram de forma imprevista,
e sucederam de maneira fugaz
e fizeram do meu existir um severo estremecimento...
sacudiu minha alma.
A minha travessia tem sido demasiadamente longa,
sempre tenho que firmar meus pés ao solo...
sem hesitação,
e meu caminhar sem perplexidade.
Às vezes o chão que piso, trepida como se fora abater-me,
intentam tirar-me o equilíbrio,
apossar-se da minha coerência,
e roubar-me a lucidez.
Às vezes detenho-me preso à fronteira do medo e da coragem,
meu andar leva-me aos confins e me entrego a duvida e a certeza.
Uma lagrima tênue escorre face abaixo embebendo o riso e a dor.
Em devaneios deparo com os descaminhos,
e realinho-me nos sonhos.
Desvencilho-me dos rancores,
ponho-me em paralelo aos amores.
E em vôos... suporto as turbulências do existir...
e resisto.
Recupero-me quando me amarrotam, tiram-me o original,
ofuscam-me o brilho... dissimulam-me o lustro.
Supero o adverso... insisto,
insisto tanto, resisto tanto,
que hoje sou prisioneiro das minhas vontades,
senhorio dos meus anseios, e independente no arbítrio.
E defronte de tudo isso, o destino...
fez de mim o que sou:
Fui condenado a ser feliz.

Ari Mota

terça-feira, 24 de agosto de 2010

UM LOUCO AMOR

Acreditem...
Todas as manhãs, desperto com uma algazarra de borboletas azuis,
fazendo festa no meu amanhecer.
E depois uma louca bailarina em fantasia,
vem num rodopio alegrar-me,
e dançar nas pontas dos pés... sorrindo para mim.
E em devaneios segreda em deleite à minha alma... que me ama,
me abraça,
e de assalto rouba-me um beijo e sai enlouquecida.
Extasio-me a este incitar de amor,
esta loucura desmedida, este disparate de paixão,
esta ardente declaração.
Acreditem...
De tudo nosso amor sobreviveu...
Dos vendavais impostos pelo cotidiano, aos terremotos ocasionais,
que arrasaram coisas, desfez sonhos, demoliram planos,
interromperam caminhos.
De tudo sobreviveu... o nosso amor.
Dos momentos tempestuosos, carregados de incertezas,
dos medos... do abandono, e do divergir da convivência.
Sobrevivemos às intempéries do existir...
E a cada instante tentávamos mais uma vez.
E tudo foi muito intenso, e tudo foi superação...
Reedificamos, reconstruímos tudo que o destino nos tirou,
recompomos e refizemos todas as trilhas que sumiram do nosso olhar.
Hoje... o destino não me permitiu ter castelos, nem uma princesa,
como não me permito ficar em desuso, nem obsoleto...
Em desvario virei poeta... só pra te conquistar.
E fazer de ti minha louca bailarina,
com amor.

Ari Mota

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

TRAVESSIA


Todas as vezes que mudei de caminho, alterei o rumo,
busquei um novo trajeto, ou avistei outra travessia...
encontrei o esplendor do talvez, do acaso.
Todas as vezes que o inusitado fez-me companhia,
e o incerto bateu em minha porta, convidando-me à uma aventura...
saí... em vôo,
como uma águia solitária que ganha os céus em busca da descoberta,
fiz minhas escolhas, desfilo com minhas decisões,
meus tropeços,
coloco riso na sisudez do medo, e gracejo nos enganos,
tenho... é obvio, que conviver com a solidão,
e saltar profundamente nos abismos do imprevisto.
Mudo a cada instante, faço da ocasião o agora, aconteço de súbito,
altero-me na concepção, inquieto-me na imaginação,
sou metamorfose em delírios, resiliência em demasia.
A mudança é um balsamo que me alivia,
a duvida um deleite que me aquieta,
delicio-me com novos olhares, com novos encontros,
novos lugares.
Assumo o risco de não possuir ancoradouro, ou de não ter uma paragem,
e não ter onde guardar coisas, e não ficar refém delas.
Procuro rampas que possam impulsionar meus vôos,
plano inclinado que possa lançar-me em devaneios.
Procuro despenhadeiro que me dê vertigens,
e sensações irresistíveis ao temor da perda.
Procuro sempre outras travessias...
pelas estradas dos nãos, minha alma encontrou os sins.
Se me procurardes por aí...
fui buscar com minhas escolhas o que me pertencia...
amor,
e já volto.

Ari Mota

terça-feira, 17 de agosto de 2010

UM OUTRO FIM


O passado me fez uma breve visita, acomodou-se ao meu lado,
encostou-se ao meu ombro, afagou meus cabelos,
e suavemente beijou-me a face.
Lembrou-me das vezes que caí, sussurrou verdades que passei,
das mentiras que me impuseram, e das tantas vezes que levantei.
Fez vir à memória os medos que senti,
das vezes que quase me perdi,
dos calafrios de solidão,
da imensidão das incertezas, da duvida,
do receio do abandono, do perigo da escuridão.
Foi tamanha a lembrança que verteu pingos de dentro da alma,
e quase se fez pranto, choro em gotas...
desejo de voltar.
E o passado de forma acintosa, convidou-me a refazer a trajetória,
reparar erros que cometi, resgatar beijos que não dei,
reedificar desassossegos que consenti, abraços que abandonei,
restaurar amores que não declarei, camas que não esquentei.
Abriu a porta e pediu-me para entrar.
Permitiu-me retirar dele todas as minhas renuncias,
tudo que reneguei, tudo que senti, todos os preconceitos que tive,
todas as desconfianças que manifestei,
todos os desprezos que apresentei.
Mas, não tive coragem de extrair do passado nada que vivi,
tudo compõe a minha historia... que ainda não acabou.
Nada posso extirpar do meu existir,
nada posso arrancar da minha essência.
Não posso censurar-me pela inocência,
nem castigar-me pelo tempo que se é aprendiz.
Tudo foi alicerce... que hoje me transforma,
deixa-me melhor,
prepara-me para um outro fim...
com amor.

Ari Mota

sábado, 14 de agosto de 2010

A LUZ


Houve um dia em que o destino roubou-me o conforto,
subtraiu-me a delicadeza, fez de mim um caminhante,
sem direção,
tive que enfrentar a rudeza do cotidiano, o desamor dos homens,
saí para viver o dia, o convívio, encontrar amores, afetos,
desafetos,
saí para o combate... enveredei-me na conquista, no ter,
no possuir,
houve ausência de cores no meu existir,
assustei-me com a negrura da noite,
ao léu... vaguei desnudamente com os meus medos,
sem emoção.
Busquei pelas estradas, luz...
pelo existir... atalhos que luzisse clareza,
e luminosidade que viesse resplandecer meu caminho,
um sinal que realçasse trilhas, ofuscasse crepúsculos, cintilasse o sol,
e fizesse alvorada em todos os meus desejos,
em todos os meus sonhos,
brilhasse com fulgor meus devaneios,
minhas secretas loucuras.
Saí em busca do esplendor do brilho, do teatro iluminado...
do aplauso.
Fiz espera na esquina... de claridade para os meus passos,
para o meu andar, e sol a prumo para o meu viver.
De nada valeu a busca, de nada valeu a espera,
não deparei com um candeeiro ou uma vela a minha frente,
no meu caminhar.
Em silêncio... fugi para dentro de mim mesmo,
fiz das adversidades, geradores de energia, encontrei a luz,
na descoberta fiz da minha alma... brilho,
passei a iluminar o meu existir,
ter luz própria, revelar-se em deslumbramento,
ter vertigens de amor, encanto pelo encontro, embriagar-se de orvalho,
rir-se do nada,
seduzir-se pelo simples, pela fugacidade da vida.
De tudo que passei, tudo foi muito intenso, ou talvez muito pouco,
mais valeu.
Sobrevivi aos descaminhos do andar, tive que brilhar para mim mesmo.
E hoje as velas que acendo não são para pedir,
nem para clarear meu caminho,
já o percorri de olhos fechados...
hoje acendo velas...
para agradecer.

Ari Mota


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ESPERANÇA

Careci sonhar quando exigiram minha apresentação no palco da vida,
e tudo foi muito intenso, tudo foi muito repentino, teatral,
imenso.
Hesitei com as circunstancias, com o medo visceral da perda,
fiz do meu existir um teatro de incertezas, uma duvida banal.
Coube-me tão somente devanear em primazia, supor,
conjecturar.
Fiz das madrugadas... um cismar de menino, uma inocência,
pura fantasia.
Quis fabricar sonhos, e produzir realidades...
achei-me invisível dentro do meu mundo utópico,
minha imagem irrefletida perdeu-se no horizonte do meu destino,
quase fiquei pelos caminhos... em devaneios, em sonhos.
Ainda assim, minha alma reclamou ousadia,
fez-me ver o abismo entre sonhar, e a infinita necessidade de realizar.
E que também um dependia do outro, e que sonhar é preciso,
fundamental.
Mas, que tudo tem seu tempo, seu instante, tudo termina,
e que devemos aprazar até nossos sonhos,
para tudo continuar.
Passei a plantar grãos em pleno temporal, regar em manhãs de geada,
trabalhar ao sol, expor as fraquezas, o rigor da labuta,
passei a transitar no meu existir realizando os sonhos,
os fazendo acontecer... ser.
É um combate por minuto, travo uma batalha em cada segundo,
ressurjo em cada alvorada, ressurjo em cada sorriso,
em cada abraço,
em cada manifestação de afeto.
Ressurjo em cada desejo, em cada olhar,
em cada momento.
Tudo porque meu maior sonho é nunca perder a esperança,
de que tudo valeu, nada foi um vazio,
e que da dor se tira o riso,
e do riso... amor.

Ari Mota

terça-feira, 10 de agosto de 2010

DESARMADO


 
O destino fez de mim um guerreiro desarmado,
desaparelhou-me a espada, desguarneceu-me da fúria,
escondeu-me o ódio.
Adentrei nos campos de batalha sem a temeridade de um bruto,
e sem a avidez de um covarde.
Fui pelejando pelo existir...
empreguei em meus combates apenas, e tão somente... argumentos,
discerni o meu existir com a sutileza da razão, expus meu equilíbrio,
fiz do raciocínio a lógica da convivência, e do meu grito... silêncio.
Fugi da desinteligência coletiva... fiz do isolamento um recolher estratégico,
cresci com a solidão.
Pactuei com minha alma, negociar nossa intimidade com as diferenças,
e apossar-se de preposições evidentes que nos ofertassem... verdades.
Não sangrei a carne, nem afanei destinos e sonhos,
e jamais discrepei vôos, desejos e escolhas, nunca interrompi caminhos.
Fiz da minha voz... um canto suave... as lancei no espaço,
não quis ouvir eco, nem respostas,
e minhas palavras... as perpetuei em paginas vazias, invisíveis,
nunca convenci ninguém.
Falei pouco, olhei com prudência, espiei com reserva as aparências.
Negociei meu riso, minhas angustias, minhas ausências, meus medos.
Encontrei-me tomado de vazios, me vi invisível,
e quando se apoderava de mim o desconforto de existir,
minha alma resiliente tornava meus soluços em esperanças, força.
E de guerreiro desarmado, fez de mim um poeta,
deu-me em delírios... palavras...
que as escrevo,
com amor.
Para você.

Ari Mota

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

RISCOS


Houve um tempo em que escondi meus medos,
impus silêncio as minhas incertezas...
fiz calar meu grito,
atemorizei-me com o inusitado, distanciei-me do combate,
da disputa,
fiz do meu existir uma fuga, um esconder...
ocultei-me das circunstancias, esquivei-me da luta.
Houve um tempo em que o destino exigiu-me impetuosidade,
atrevimento,
tive que romper barreiras, destruir paradigmas,
lançar fora conceitos.
No limiar da minha descoberta... ousei mudar, alterar o rumo,
erguer-se em vôo.
Fiz da minha alma um fulgor latente, e a externei em tenacidade,
e ousadia,
fiz de mim um acontecimento, dos meus sonhos... riscos,
e da minha estrada a duvida... extasia-me o competir,
o irresoluto.
Perdi o medo de perder... obstino tentar sempre,
teimo em recomeçar, intento em arriscar.
Mudo todas as manhãs... todas as perspectivas.
Redescubro-me em novos sonhos, em novos amigos,
em novos amores.
Redescubro-me em novos perigos, em novas teimosias,
teimo em ser feliz.
Fiz resiliência em minha alma,
recupero e supero as adversidades,
mudo pelo prazer de recomeçar...
todos os dias... com amor.

Ari Mota

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O QUE CARREGO


Houve um tempo em que andei guardando coisas,
amealhando objetos,
guardava quinquilharias, conservava miudezas e o dourado dos metais,
depois passei a colecionar frivolidades, perdi a sutileza do encanto,
arrastava pelo meu existir... ressentimentos, magoas infundadas,
medos incompreendidos, olhares incertos, gestos inseguros...
perdido.
Houve um tempo em que guardei ninharias pelo caminho.
Esqueci de escolher, separar, dizer sim a mim... não aos outros.
Percorrer em silêncio as veredas do meu destino,
do desprender-se dos meus desejos, e o abrir-se das minhas fantasias,
e em delírios poetizar a ousadia dos vôos, e a imensidão do livre.
Voar desprendido das amarras, das cercas, dos muros,
e dos fins de estradas.
Mas, um dia a alma reclamou em alta voz, e aos gritos... jogou tudo fora,
fui perdendo coisas, foi ficando pelo caminho:
álbuns, magoas, canivetes,
copo de shop, selos, figurinhas, saldos de bancos,
moedas, medalhas,
incertezas.
Estou no tempo do desprendimento, da renuncia,
desapeguei ao frívolo, a futilidade do confronto,
a exacerbação do volúvel.
Estou no melhor do meu tempo... em crescimento, embora no final.
Hoje não arrasto pelo meu existir nada além do que meus sonhos,
não carrego bagagens, nem tão pouco... coisas,
só guardo dentro de mim...
amor.

Ari Mota

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O ÚLTIMO INSTANTE


Ontem confabulando singelamente com minha alma,
num canto do meu existir, divagamos ao acaso,
e em silencio.
Diligenciamos sobre o tempo, o que experimentamos...
o que sucedeu,
o que nos veio pelas mãos do destino, e o que tivemos que buscar,
às vezes em desespero, outras vezes em profunda luta,
ou em enormes desatinos.
Ontem eu e minha alma em retrospectiva, trouxemos à memória,
o que sentimos com toda a intensidade, todos os caminhos que passamos,
das vezes que nos perdemos, e das noites frias que nos achamos,
do riso nas vitorias, e dos soluços nas derrotas,
suscitamos a dor que a saudade produziu, o vazio que nos atingiu,
dos amores que perdemos, dos adeuses que não acenamos,
das despedidas que não provocamos.
Ontem eu e minha alma, em delírios...
tornamos solene nosso existir:
Sobrevivi ao medo de ser feliz, e a indiferença dos homens,
ninguém direcionou meu caminhar, nem tão pouco meus devaneios,
fiz de mim um aprendiz da minha própria essência, me descubro,
renovo... renovo tanto, que eu mesmo não me encontro,
nasço todos os dias, broto em cada gesto, em cada olhar,
em cada ensejo, e faço de todas as ocasiões... momentos de ternura,
uma oportunidade de amar,
vivo intensamente,
como se fora... o último instante,
o último fôlego,
a última expressão de amor.

Ari Mota