domingo, 19 de abril de 2020

O MUNDO DEPOIS DA SOLIDÃO

Olhei...
Para o mundo... e ele estava ali sepulcral,
vazio,
o silencio me doeu,
ardeu como noites de abandono,
me vi... sem alguns dos meu amores,
abriu um vão aqui dentro...
um nada... colossal.
Tive que redimensionar os sonhos,
redescobrir o existir,
e olha... eu já vinha fazendo isso,
virei poeta, deixei de coisificar os desejos,
- Só que esse momento é impar,
saio à rua e não encontro ninguém,
o que nos foi oferecido nos assusta, e tudo é fugaz,
como um raio em noites de temporal,
posso desaparecer sem se despedir.
Mas aí... eu... estava quase... esquecendo,
tenho a resiliência como companhia,
tenho umas obras inacabadas,
e ainda não é tempo de partir.

Sabe o que vou fazer?
Com o mundo depois dessa solidão?
Vou me recarregar de mais leveza,
cuidar com mais desvelo,
os jardins que carrego na alma,
desses devaneios, desses delírios inocentes,
que se avizinham a uma doce loucura,
mas, amenizam a minha aflição.
Vou ter mais olhares que cicatrizam,
e mais palavras que se silencia,
vou emudecer mais, somatizar mais ternura,
revivificar a minha própria luz,
robustecer a paixão pela vida,
e viver cada dia com mais brandura.

Olhei...
Para o mundo... e ele estava ali... frágil,
intenso... regenerando almas,
restaurando valores, temperando sentimentos,
permitindo congraçar consigo mesmo a própria historia.
Sabe o que vou fazer?
Com o mundo depois dessa solidão?
Vou levar menos peso, abrandar todas as angústias,
e tudo será vivido com mais esplendor.
Percebi que aquele que não se regenerou,
viverá vagando por aí, como um apedeuta,
sem amor.

Ari Mota