domingo, 30 de setembro de 2012

OLHAR COM A ALMA

Um dia... cansado, fechei os olhos, quase querendo fugir de mim,
achei... que de tudo, ali era o meu limite,
e que esta fronteira tênue, esta linha estremada,
não era o começo de nada, mas invariavelmente o fim.
Quase abandonei a ilusão da busca, a utopia da conquista,
a fantasia da descoberta, os devaneios de existir,
quase desisti da estrada.
Mas só o tempo me ensinou a ver na escuridão...
A vida é um efêmero sonho, é um relâmpago em noites de temporal,
é um quase tudo, outras vezes um quase nada,
é espesso como uma rocha, descomedido como a solidão,
fugaz como uma despedida, vazio como uma distancia abismal,
viver é um talvez, e às vezes afigura ser o que não é,
e de tudo... fica somente vivê-la intensamente,
e ter sempre a coragem de reiniciar, reconstruir o caminho,
rir dos desacertos, da singeleza dos desencontros em desalinho,
e exausto abandonar as paixões menores e olhar a vida com a alma.
E assim tenho vivido...
Faço que o meu silêncio mude o mundo, o meu mundo,
e a calmaria me invada e faça de mim quietude,
e o fascínio em ser feliz, possa permear-me até nas vicissitudes.
Assim sou eu... já não procuro as respostas, nem perguntas faço mais,
sou contemplação.
Sei que sou diferente... ando, em sinergia com o universo,
conto estrelas, inda percebo uma lagrima que rola face abaixo,
um sorriso descomprometido, um beijo perdido, um verso,
uma falta de abraço, um carinho em descompasso, uma emoção.
Às vezes e sempre saio por ai, sozinho, caminhando ao anoitecer.
Mas o tempo me ensinou a ver na escuridão.
Olho com a alma e sem segredo,
e depois continuo a caminhada sem medo,
e com amor.

Ari Mota


domingo, 16 de setembro de 2012

QUANDO SE CHEGA À ALMA

Em minhas viagens, a melhor delas foi quando cheguei... em mim,
custou, demorou... achei que não ia me encontrar.
Óbvio foi... que antes, tive que espantar alguns fantasmas,
combater temores adormecidos, escondidos aqui dentro,
espectros da minha meninice, sandices trazidas pelo vento,
pelo desassossego com a espera, com a busca...
inquietação com o caminho, com a pressa, com o desgarrar do tempo.
E na inocência, sonhador e atrevido... de todos... destoei,
dos que, disseram-me que tudo seria difícil, e que nada me era permitido,
fiz tudo do meu jeito... tentei de novo, e varias vezes recomecei.
De todas as batalhas, confesso... de todas eu temi,
tremi em noites de aflição, assustei quando encontrei a solidão.
Hoje... ando a procura de leveza... sou um fugitivo da rudeza.
Quando uma lagrima inadvertidamente escapa face abaixo,
liquefaço-a em tempestades de alegria,
danço em devaneios com a agonia,
depois... eu sigo em frente, pego carona com a ventania.
Em minhas viagens, a melhor delas foi quando cheguei... em mim,
passei a respirar a minha verdade, e o tão pequeno que sou.
Desvaneço a minha soberba, desconstruo a minha altivez,
ando reconstruindo o meu fim.
Claro... que é a conclusão material, ficarei nos meus poemas,
no que sou, nos meus sentimentos... na minha poesia,
ficarei no que mais acredito “é preciso ter coragem para ser feliz.”
Tanto que, até alterei os meus passos, as minhas escolhas,
os meus atalhos... a minha travessia.
Efêmero pode ser o meu olhar,
fugaz os meus abraços, os meus beijos, os meus minutos para amar,
mais serão intensamente e os farei eternos enquanto existirem.
Hoje... só tenho uma estrada, uma direção.
Tenho apenas um destino... vou somente para dentro de mim...
E quando se chega à alma,
tudo vira silencio...
Paz.
Contemplação.
E invariavelmente transforma-se
em amor.

Ari Mota

domingo, 2 de setembro de 2012

TENHO QUE IR...

Olha...
A minha vida é uma viagem... inda tenho que andar muito, eu vou longe.
Só parei... porque sei... que é nas estações que se encontra... os amores,
reabastece a alma, aquece a carne, oferece colo,
dança em desvario ao som de uma orquestra de borboletas,
e anda de mãos dadas em torno do coreto,
perde-se na praça, abraça e todo sem graça... oferece flores.
Só parei... para oferecer o meu olhar,
abrigar-te em meus braços em noites de solidão,
e em extremo exagero te adorar,
e depois... bem depois da madrugada, te acarinhar,
e roubar-lhe a aflição.
Só parei... para convidar-lhe... a ir comigo.
Inda tenho que andar muito, eu vou longe, nem sei mais a distância,
sou assim... tenho que ir sempre, só assim amenizo a minha ânsia.
Estou indo... nem sei mais se poderei voltar.
Só parei... porque eu tenho que ir... não posso parar.
Só parei... para te chamar.
A minha vida é uma viagem...
E existir... é nada mais que descobrir um grande amor,
porquanto isto... aqui estou, e parei.
Olha... tenho que ir.
Se você fugiu das tempestades, das minhas tempestades, é melhor ficar.
Mais... saiba, eu estaria em todas as que ainda irá um dia passar.
Eu vou longe,
Sei que posso até me perde pelo caminho,
e viver é isso... desejar alguém para não caminhar sozinho.
Como tenho outras estações para parar...
Vou descer... dançar... olhar em demasia,
viver todas as noites, todas as madrugadas,
aquecer outras camas, outras almas e não deixá-las ao frio,
vou ser feliz,
e novamente amar.

Ari Mota