terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PARA SEMPRE


Quando a juventude apossou-se dos meus sonhos,
ouvi uma musica vinda de longe, uma linda melodia,
e ela dizia... sussurrava impiedosamente,
atormentava o meu dia,
punha dúvida nas minhas emoções,
me sacudia,
seus versos em reversos fez de mim espera,
fez do meu querer silencio, da minha angustia...
quimera.
E a letra traiu a minha inocência... enganou o meu coração,
diz que o amor machuca,
fere e depois se transforma em solidão.
Receei sucumbir ao abandono, ficar ao desalento,
esfriar a carne nas madrugadas e ao vento.
Mas... um dia o destino, jogou no meu colo,
atirou nos meus braços, aderiu na minha pele,
e fez passar para dentro do meu peito em esplendor,
uma louca bailarina... algumas borboletas azuis,
e tudo isso chamou de: amor.
E assim tenho vivido... abandonei o medo de amar,
danço sempre em devaneio,
e salto profundo nas minhas vertigens,
porque além da procura, busco alucinadamente o que anseio.
Hoje sou mais desejo, mais delírio, aprendiz em desvairar.
Ando às vezes vasculhando a alma atrás de cicatrizes... de vestígio,
de algum estrago que o amor causou, e nada encontro, nada a olhar.
Presencio tão somente um refugio de mim mesmo,
onde preservo, guardo
nutro todo o amor
que cintila, brilha
por você...
e para sempre.

Ari Mota

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

UM PRESENTE PARA MIM


Andei distribuindo coisas, presenteando amigos e amores,
brindei com o amarelo esplêndido do ouro,
e o brilhante reluzente das pedras e flores.
Abracei em noites de festa e beijei em madrugadas de desejos,
celebrei ciclos, solenizei esperanças,
aplaudi a pirotecnia das noites em brilho,
brindei ao bater das taças a procura de ensejos.
Comemorei em cobiça e apetecido, e em busca... fui atrás da alegria,
e em euforia comovi em êxtase o mudar dos tempos.
Dancei valsa à meia noite, beberiquei vinho em fantasia.
E mesmo assim e embriagado... voltava sozinho.
Eram tempos... de vazios, de procura.
E presentear coisas, era como se fosse conquistar afeto e carinho.
E em busca... procurava a mim mesmo.
Mas, um dia... após uma ventania... que até chorei,
apercebi que as raízes da minha alma estavam expostas,
tive que escorá-las, ampará-las... e a replantei,
a cravei forte dentro do peito,
borrifei delicadeza e a umedeci com gotas de sutileza.
E desde então, passei a presentear a mim... todos os sentimentos.
Renasço em todas as manhãs, em todos os olhares,
não vivo de ciclos... vivo de hoje... somente do agora.
E todos os dias... amanheço em festa, em contentamento,
doei a mim mesmo, coragem para ser feliz.
E o destino, como se não bastasse, também me presenteou:
sempre colho rosas vermelhas, por onde vou,
sempre borboletas azuis cantam para mim,
e uma louca bailarina... baila comigo,
e em juras disse-me, que é por amor,
e até o fim.

Ari Mota

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

REPAGINAR O FIM


Regressei em revisão às paginas da minha história,
e percebi que não houve extravio e todas estavam lá.
Bem que... umas já amareladas tinham resto de solidão,
outras vazias... estampavam em suplica, sofreguidão.
Encontrei, algumas com resíduo de incerteza,
ainda umedecida de lagrimas que escaparam da alma,
mas regaram meus dias, e tudo se fez beleza.
E fui folheando uma a uma.
As paginas da meninice... continham inocência,
tolices, mais eram repletas de sonhos,
despertava a descoberta, provocava êxtase onde havia dúvida,
desmentia a volta, porque acreditava que tudo seria partida,
incitava a insolência, e tudo era atrevimento, de forma desmedida.
Tempos de insensatez, travessura, descuido e aventura.
E fugazes foram os anos... cresci, tive que fazer minhas escolhas,
amadurecer as pressas, correr contra as intempéries, os temporais,
adaptar-me ao rigor da existência, da indelicadeza do cotidiano,
da rudeza dos homens, da distancia dos desiguais.
E as paginas foram sendo viradas, relembradas.
Uma... de tão intensa, que doeu o peito, encontrei os ausentes,
verteu soluços do que passou, saudade dos que não estão presentes.
Uma até... roubou-me o riso, arrancou-me a graça,
meus desacertos, meus erros, meus fracassos,
e consegui rir de mim mesmo... porque tudo passa.
Regressei em retrospectiva para repaginar o meu existir,
quis reparar alguns enganos,
restaurar abraços esquecidos,
refazer caminhos que não terminei
recuperar olhares perdidos.
Quis repaginar o meu existir, e não foi possível,
o destino proibiu alterar a minha história, a deixou inacessível.
Hoje... só posso escrever o meu fim, com todo o meu fulgor,
com toda a minha loucura,
meus devaneios,
meu amor.

Ari Mota

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

INSPIRAÇÃO

Já vivi outras tantas vidas,
mas o destino as lançou no esquecimento,
não me lembro de nenhuma delas... fugiu-me da lembrança.
Não consegui... inspiração para esculpi-las nas estrelas,
nem entalhá-las no horizonte, nem estampá-las ao vento.
Foi me permitido apenas a emoção de viver esta que estou atravessando,
e em segredo, em sussurros, disse-me que tudo seria efêmero,
e que a fugacidade do existir iria interromper o riso,
cessar os desejos, calar a voz, suspender os beijos,
e tudo findaria inesperadamente, e tudo seria impreciso.
E assim... apenas com a emoção da descoberta, e o desejo de querer,
insisto... teimo em ser feliz, faço do instante incerteza,
embriago-me da duvida, e faço dela beleza,
destemido brinco com as vicissitudes, com o acaso,
sou mais hoje... que amanhã, sou mais o agora,
sou mais silencio, sou mais olhar, sou muito mais o que extravaso.
Já vivi outras tantas vidas... e sei como são tênues as horas, frágil o tempo,
não me permito o desassossego da ausência, nem a inquietação do vazio.
E em resiliência ofusco a negrura do medo, a melancolia da solidão,
ilumino minha alma todas as manhãs, em inocente inspiração.
Perpetuo minha essência na arte de construir versos, de fazer poesia,
eternizo-me em palavras, em sensações... em magia,
refugio-me em noites frias dentro de minha própria alma,
inspiro-me... em sempre ter coragem para ser feliz, sem provocar dor.
Já vivi outras tantas vidas... talvez em conflitos, talvez em imensa calma,
mas esta... decidi vivê-la melhor...
vivê-la por amor.

Ari Mota

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CARINHO

Hoje envelhecido...
percebi que a minha vida não me foi um imprevisto,
nem o destino um acaso.
Embora sendo o meu existir uma súbita viagem,
um segredo, um desconfiar e às vezes uma dúvida,
em miragem,
tive tempo de sondar minhas emoções, e aprender com elas.
Quando jovem me faltou carinho, afago, abraços,
e na descoberta, e como aprendiz, e antes da solidão,
propus oferecer os meus chamegos, rendi-me a brandura
prestei em caricias meus beijos, e a pele em ternura.
Fiz do toque minha primeira forma de carinho,
e em cortesia afaguei a face, sequei a lagrima,
não deixei ninguém sozinho.
Usei minhas mãos para acarinhar meus amores,
os acalentei em meu peito, e lhes ofereci flores,
e nada foi ilusão.
O tempo passou... o carinho me fugiu das mãos,
mas, os perpetuei no olhar.
Passei a contemplar tudo com mais leveza,
encaro as perdas com mais resiliência,
e antes de tudo... faço do meu existir mais beleza.
O carinho que ainda tenho na pele,
o tenho mais intenso no que encaro, no que vejo,
sou mais meiguice, sou mais desejo.
Hoje...
Todo o meu carinho alojou-se dentro da minha alma,
Inda... abraço, todos os meus amores.
Inda... contemplo tudo com ternura.
Mas, hoje... o carinho é para mim mesmo,
porque eu me amo
em loucura.

Ari Mota

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

NÃO EMBRUTECER A ALMA


Não esquivei dos caminhos, nem procurei atalhos,
minha trajetória foi em sol de meio-dia.
Suportei o desgaste do improvável, o medo da incerteza,
o descaminho da duvida, e o pavor do vazio.
E tudo foi crescimento... dilatava-me no silêncio,
difundia-me nos refúgios, fui mais recolhimento,
que revelação.
E sem os aplausos... fui quietude... contemplação.
Tornei-me aprendiz de mim mesmo...
Aprendi que às vezes não dá tempo para retardar os adeuses,
e de nada adiantaria colocar rosas nas despedidas,
elas são energias na vida, e quase nada valem nas partidas.
Aprendi não embrutar à alma antes do amor,
e que... não poderia paralisar o segundo, nem comprar o tempo,
para abreviar a dor.
E se um dia tiver que ir embora... em vez de ausência...
deixe saudades.
E que o afeto possa ser mais forte que o orgulho,
e que não fique preso ao ontem,
nem refém de lagrimas já vertidas da alma,
e que eu possa em vez de oferecer desequilíbrio,
distribua calma.
E que o destino me permita repartir todos os sentimentos...
menos a solidão.
E que no palco da vida possa ensaiar todas as emoções,
e apresentá-las em verdades, sem ilusões.
Aprendi... aprimorar o olhar...
e não embrutecer a alma.
Hoje ando colhendo flores,
espiando as borboletas, reconhecendo rosas,
cuidando dos meus amores.
Virei poeta...

Ari  Mota

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

CALMARIA


Vislumbrei achar que tudo seria fácil, calmaria,
e que brisas, vindas do sul trouxessem aromas de alfazema,
e as ventanias recendessem sândalos em alegria.
Devaneei em espera, como se a perspectiva fosse iludir a vida,
e a aparência em disfarce fosse uma mascara pegada a alma.
Fingi alegria, simulei emoção, dissimulei afeto em alucinação.
Fantasiei-me de outros, e não de mim mesmo, fui ilusão.
Enganei-me, e em desacertos cometi algumas tolices,
mais tudo coisas da meninice...
E tudo passou como uma tempestade, resiliente que sou,
catei todos os cacos, recolhi todos os fragmentos,
colei os pedaços, recompus os sentimentos,
lavei a alma, arranquei do peito toda a dor,
abandonei os discursos, fiz do olhar franqueza,
do abraço beleza, da declaração um ato sem temor.
Fiz silêncio onde tinha ausência, e me encontrei.
E hoje envelheci... sem cair em desuso,
fiquei seletivo... às vezes ando só, e comigo mesmo, recluso,
sem estar em solidão, existo em calmaria, em mansidão.
Falo comigo, em noites de isolamento, me chamo,
grito o meu nome, berro para dentro a procura de eco,
e para mim, sempre é todo dia, e nunca estou sozinho,
nem quando me passam e me deixam a beira do caminho.
Vislumbrei achar que seria fácil... e tudo vivi, e tudo aconteceu.
Hoje é o meu tempo de calmaria, nada ficou, nada se perdeu.
Quando me pedem coisas, corro ao jardim e ofereço flores,
quando indagam meus afetos,
suspeitam dos meus beijos,
duvidam dos meus abraços... olho com ternura...
para todos os meus amores.
Vislumbrei redimensionar o meu existir em calmaria,
e o fiz... com todo o esplendor,
e hoje tenho coragem de viver em alegria,
e amor.

Ari Mota

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

UM ANJO CHAMADO SOLIDÃO


Todas as vezes que a solidão tomou meu braço,
reclinou sua face no meu ombro, querendo colo,
reclamando chamego, e querendo minha companhia,
gritei ao vento...
o mundo estava ocupado, as pessoas apressadas,
absolutamente só, transparente, ninguém me ouviu.
Resiliente que sou, fiz dela companheira,
segui seus passos, e muitas das vezes o seu caminho,
partilhei estradas, horizontes, segredos,
e ela vagueou ao meu lado como uma sombra,
importunou-me como uma aparição.
Acordamos... um não ingerir no existir do outro.
E assim, ela vive ao meu lado,
não esvazia minha alma, nem esgota minha essência,
não me traz desassossego, nem cerceia minhas vontades,
não me inquieta, nem me provoca medo,
não me perturba, nem eu a ela.
Trocamos sempre olhares de respeito, nunca de desdém,
finjo que ela não existe, e ela também.
Na verdade dispo-me da solidão em dias de loucura,
mas, visto-a em manhãs de lucidez.
Acostumei tanto com sua presença, que a chamo de anjo,
a transformei em meu silêncio...
em quietude,
na minha calma.
E antes que a solidão rebele-se em dor,
finjo que ela é um anjo,
e amor.

Ari Mota