Tardei a entender algumas
coisas... uma das últimas,
foi que meu corpo
temporariamente me hospeda,
e o que vejo, não sou eu, sou
apenas um disfarce.
Sou casca, exterioridade, um
vulto, um espectro,
uma imagem difusa.
Olho e não me vejo, se vejo
não me acho,
minha aparência desvitaliza,
finda... vira terra seca.
Ela é apenas a
superficialidade de mim, uma imagem confusa.
E ai, o tempo fluiu, e na
descoberta, vi que...
Eu sou, o que não se vê, eu
sou o de dentro, sou o meu sonho,
o invisível do meu ser,
e o olhar que tenho sobre a
minha passagem por aqui, sou alma.
Quando necessito me
encontrar, salto profundamente,
enraízo-me na própria
essência, que me recebe em calma.
Antes espelhava solidão,
olhava com sofreguidão,
hoje me recolhi, virei
remanso, sou mansidão,
ando comigo...
Não deixo a carência de mim,
dominar o meu eu,
descubro-me, me acho... encontro-me.
Danço em devaneios com minha
pequenez,
e bailo ao som dos meus
soluços.
Rasgo-me de rir dos meus
medos,
e das vezes que perdi o
caminho.
Sou suscetível as mudança,
arrisco nos abraços,
para não caminhar sozinho.
Tardei a entender algumas
coisas...
Continuo não compreendendo
outras tantas.
Só sei... que antes achava
que eu era aquele que o espelho refletia.
Hoje, tenho outra perspectiva
de mim,
sou compreensão, evolução...
sou uma energia.
E que além de tudo e depois
de tudo... um sonhador,
que brinca de ser poeta.
Recita: é preciso ter coragem
para ser feliz.
E em silêncio poetiza
o amor.
Ari Mota