sábado, 19 de outubro de 2013

A VALIDEZ DE UM SONHO

Podes... até achar que a multidão é companhia,
ou que vaguear em solitude... é andar sozinho.
Podes... inclusive verter-se em desespero,
construir hiatos... no meio da madrugada,
e desesperançar... no transcorrer da estrada,
por não atinar o caminho.
Podes... até planear pedir ajuda,
ou estender os braços oferecendo o seu destino.
Podes... inclusive acovardar-se em desculpas,
fugir, fingir e não assumir as culpas,
e perder-se em desatino.
Mas... verás... que para orquestrar o próprio sonho,
não precisarás de coadjuvante, terás que ser o protagonista.
Terás que fazer as malas... ir passear na frente do próprio tempo,
e em todas as manhãs se refazer... livre de qualquer vento,
e crer, que tudo ainda está para acontecer... e vendo isso... insista.
E verás ainda... que podes até tropeçar nos sonhos, no meio da via,
e não fazer dele uma rampa... onde se salta sem limites.
Mas... então, terás que... acender os olhos, afoguear os desejos,
ser... o único interprete das suas escolhas, ser faísca... lampejos,
ser uma coletânea de si mesmo, em silêncio, sem que... grites.
O tempo de um homem... é a validez do seu sonho,
a ressonância da sua energia... que contamina, espalha.
Sonhar... é estar feliz, é caber no instante presente,
sem ressentimento do que viveu, ou do que virá em vertente,
é maturar candura, farejar equilíbrio... abandonar o que abrutalha.
A validez de um sonho... está nas tentativas,
na insistência, na formatação da luta.
Na ousadia de levantar mais cedo, rasgar os velhos projetos,
provocar o novo, fazer uma assepsia na alma, nos desafetos,
e reiniciar com brilho, renascer latejante, de forma revoluta.
A validez de um sonho... está nos segredos da alma,
que descortina... para os que não querem o comum,
e fazem... diferente, com toda a serenidade, e calma.
A validez de um sonho... principia com todo o fulgor,
para os que são maestros de si mesmo,
que erram, entram em descompasso... perdem o ritmo,
e precisam recomeçar...
e passam a entender que não basta... sonhar,
tem que revalidar o que carregam de visceral:
o amor.

Ari Mota


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SABES...DE ONDE EU VIM?

Eu vim de uma terra chamada “luxeza.”
Moram nela... os utopistas e os poetas.
Lá é um luxo só... não temos nada,
é tão... escasso as “coisas”, que pactuamos só ter sentimentos,
e tudo parece um paradoxo... um disparate.
Mas, vez em quando... cruzamos por lá, com:
Raul, o Profeta Gentileza, Osho e Nietzsche...
e passeamos em silêncio, sem nenhum debate.
E depois... surfamos em manhãs de delírios, com Fernando Pessoa,
Vinicius, Drumont e fazemo-nos ao mar... em ondas inquietas.
Lá, tudo é para sempre... não lidamos com o imediatismo.
Como vamos ter que conviver até o fim, com... o que somos,
gargalhamos com os nossos defeitos e ocultamos nossas virtudes,
mais amiúde, aprendemos a nos amar...
sem ser menos, ou aumentar... não nos embriagamos com altitudes.
Lá não há declínio da vida, é só um lugar que vamos passar.
Morrer como? Lá tem uma praça... tem um coreto,
compomos nossos poemas, e perpetuamo-nos... em nosso soneto.
Lá não tem muros... são apenas cercas vivas... de rosas vermelhas.
Eu vim de um lugar que os meninos são mais homens,
e a beleza... das meninas, não esta na zona inferior do dorso,
estampam e resplandecem na alma... e a tudo espelhas,
e são pétalas brancas, sutileza... flores,
e em vez de selos... colecionamos amores.
O nosso Deus... lá, não tem religião,
não nos provoca medo, e nem conosco tem... segredo.
E o nosso único templo é o universo,
e a ele nada pedimos, só agradecemos em oração,
às vezes... na singeleza de uma poesia, ou de um verso.
Lá tem rampa para saltar livre sobre os abismos... em alegria,
tem rock and roll, para as noites de solidão,
Albinoni para as tardes de calmaria,
mas, tem Ravel para dançar em madrugadas de paixão.
Sabes... de onde eu vim?
Eu vim de uma terra chamada “luxeza.”
Lá se fala de sonhos, planta-se sensatez,
estamos em sintonia com a alma e a própria luz,
firmamos contratos... só com o olhar,
e, há apreço entre nós... e tudo se transmuda em beleza.
E agora... sem demora... estou indo embora.
Até tentei ficar... sem palavrear nenhum clamor.
Mas enojado... com as posturas irascíveis, deste lugar,
e cansado... e com saudades... tenho que voltar.
Lá, de onde eu vim... tem mais amor,
e não é tão longe assim...
- é aqui... dentro de mim.

Ari Mota