segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

UM LUGAR SAGRADO


 









Viver... é esse disparate,
essa insensatez indescritível,
esse absurdo.
De repente, sem se perceber...
saciamo-nos de inutilidades,
absorvemos a vida dos outros,
e permitimos sem desvelo,
invadirem nossa alma:
- Esse lugar sagrado,
sem qualquer embate.
 
E chegam assim... em aflição,
despejam suas dúvidas,
sua agonia, seu cinismo,
dissimulam a sua vileza,
entopem-nos com os seus vazios...
sua miséria espiritual,
sua sofreguidão.
 
Prudente é não arrastar esse desassossego,
para não tornar-se vitima de si mesmo,
e dele ficar refém.
É preciso resguardar esse refúgio:
- para suportar a solidão dos outros,
e a solidão de si.
Filtre quem ficará ao seu lado,
e quem permanecerá lá dentro,
não vislumbre o seu amanhã... sem ninguém.
 
A alma tem que ser intocável.
E quem nela transitar:
Tem que estar descalço,
e ter leveza no andar.
Tem que compreender a sua loucura,
e seus temporais.
Ouvir o seu silêncio,
e tolerar os seus rituais.
Tem que aceitar a sua imunidade,
venerar sua alma... como um templo em delicadeza,
e nela nada entulhar, nem levar,
apenas... vasculhar a sua profundeza.
 
Esse é o seu lugar sagrado,
e guardarás nele, o seu segredo:
- a dimensão da sua coragem,
e o tamanho do seu medo.
Só deixe entrar quem chegue com brandura,
e seja cúmplice de seus sonhos, da sua dor,
e na hora do cansaço... conceda-lhe o braço,
e admire a sutileza como você manifesta o seu amor.
Ari Mota


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

REGRESSE EM TI










Podes até roubar um segundo do tempo,
chamá-lo de seu.
Mas, não demores muito,
se nele não tiver encanto.
Podes até achar que ele é apenas um instante,
efêmero como um vendaval.
Mas, não acredites em sua intensidade,
se ele não carregar delicadeza.
Assim... é o existir,
às vezes tem o tamanho de um “agora”,
a beleza de um relâmpago,
e tudo pode mudar...
- saiba o que fazer com o que já viveu.
 
Atenha aos ventos ocasionais,
esses que chegam em silêncio, e a esmo,
esses brandos, suaves e inocentes,
que às vezes arrastam uma neblina densa,
e sutilmente umedece a alma,
fazendo gotas distraídas caírem face abaixo,
implorando... recomeços,
suplicando... o repaginar dos sonhos,
o equilíbrio com as estrelas,
e a transcendência de si mesmo.
 
E existir é isso...
É um manobrar entre o medo e a intrepidez,
é entrelaçar entre a coragem e o desistir,
entre o abandono e o desejo de amar,
é entender de lonjura e admitir a solidão,
e depois transitar com equilíbrio entre as duas,
diminuindo a profundidade do desespero,
e se revitalizar todos os dias,
sem se machucar.
  
Regresse sempre...
A alma é o único porto para se voltar:
- regresse em ti.
 
 Ari Mota 


domingo, 10 de outubro de 2021

RETALHOS DA ALMA


 







Mesmo sabendo das águas incertas,
dos ventos intempestivos,
não parei de navegar, e sempre...
estou à procura do que me tornei, e sou.
Tive alguns cuidados comigo:
- não me machuquei com os próprios pensamentos,
nem me flagelei com as vicissitudes,
quando o dia me apequenou.
 
Vim... recolhendo retalhos, do que vi e senti,
e fui costurando tudo em minha alma,
ela ficou maior que eu.
cerquei-me de silencio e sutileza,
de gratidão e poesia,
e orbita em mim, os melhores humanos que conheci,
e fui me edificando com retalhos,
remendei-me, me consertei,
com o que a vida me ofereceu.
 
Mesmo sabendo da fragilidade humana,
das tempestades ocasionais
espelhei-me em grandes almas,
naquelas que exalam ternura,
e são sensíveis, silenciosas e invisíveis,
aquelas que verbalizavam com os olhos,
e dançam felizes em noites de solidão,
parecem poetas desvalidos, mas são resilientes,
uma é uma bailarina louca e as outras... duas borboletas,
transbordam de amor e finura.
 
E venho me formatando... assim.
Desses humanos que me amam,
capturo pequenos gestos,
que refletem em mim... luz e calmaria,
tocam-me como aragem celestial,
reinicio-me todas as manhãs,
e todas as vezes que deparo com o medo,
mantenho o olhar, o encaro de frente,
hoje... o medo tem medo de mim.
 
Fiz tantos remendos para retribuir o que recebi,
para amar como fui... que utilizei de todos os atalhos,
atravessei todos os meus desertos, todos os meus acasos,
hoje... sou a soma de outras almas, de outros amores,
de outros sonhos, de outros abraços,
deixei de ser eu, de ser sozinho,
até posso deixar os meus excessos pelo caminho,
e em fez de receber... oferecer o que me tornei,
em retalhos.
 
Ari Mota

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

TENHO PRESSA DE MIM











Sei que... Tenho muito passado e pouco amanhã.
Sei da fugacidade do tempo, e agora em outro compasso.
E isso já me amedrontou,
arrancou-me da cama em madrugadas de insônia,
desesperei-me com vidas que não vivi,
estradas que não passei,
viagens que não fiz.
Mas, toda essa ausência...
formatou esse... que hoje sou.
 
Sei que... agora,
tenho que descobrir o que ainda não sei de mim.
Foram tantos experimentos,
foram tantas travessias para lugar nenhum,
procurei tanto, que quase me perdi,
- também pudera... procurava: olhares alheios,
para preencher esse vazio no peito, esse vão,
quis buscar lá fora algo para me por em sossego,
acalentar a minha solidão.
 
Sei que... O amargo do silêncio, já me importunou,
mas foi nele que escutei os gritos que não dei,
e eclodiu o amor por três dos melhores humanos...
que conheci.
- E me encontrei.
 
Tenho pressa de mim...
Foram tantas barbáries que vi,
foram tamanhas insanidades que presenciei,
que preciso agora no final... de refúgio,
de abrigo, que me permita desacelerar,
sem perder a ousadia pelas batalhas.
Preciso viver em êxtase o que me resta,
e em gratidão... o que me tornei.
 
Tenho pressa de mim...
O destino me tratou com delicadeza,
permitiu-me envelhecer.
Embora tudo que vi, me embruteceu,
é hora de resgatar a candura.
E que de ora em diante, seja tudo apoteótico:
Que em todos os amanheceres rebrote vida,
que o meu olhar sereno contemple mais,
que todas as estradas revele um encontro,
e cada passo seja uma longa viagem,
e eu compreenda as vibrações da própria essência,
- e defina: esse sou eu, esse é o meu tamanho.
Como tenho pressa de mim...
Que esse último lapidar, esse último brilho...
Seja eu a fazer... com lucidez e brandura.

Ari Mota 


domingo, 25 de julho de 2021

DESCONSTRUA-SE


 








Ao perceber que o frescor da alma...
desmaia em noites de desespero,
e uma estreiteza desponta por dentro,
saqueando o riso,
desconstruindo a brandura,
roubando-lhe a quietude,
criando uma aflição incomum,
- não desaponte os sonhos.
Isso tem cura:
O que será preciso é... desvestir-se,
de tudo que incorporou vida afora,
é hora de despojar de todos os paradigmas,
procurar outra estrada,
diferenciar... não ser mais um.
 
Se for preciso...
fuja de tudo que te inutiliza,
dispa-se desses seus disfarces,
daquilo que você não é,
dos medos que te atemoriza.
 
Desconstrua-se para não adoecer.
Em vez de...
potencializar a dor,
loucure-se... passe a carregar leveza,
pressentir o instante,
a grandeza das coisas simples,
e não permita a fugacidade do tempo,
subtrair-lhe um grande amor.
 
Em vez de...
estigmatizar o lamento,
silencie em vez de desatar o grito,
não dê, a saber, a muitos, os seus desassossegos,
cada um tem a sua historia,
desaposse da sua verdade,
viva como se estivesse indo aonde o vento sopra,
espalhe elegância... espalhe atrevimento.
 
Descontrua-se...
Como se fosse um… desfolhar,
mas, não perca o viço... o fulgor,
e nem o fim,
ressurja com toda a sua exuberância,
com toda a sua resiliência,
volte maior,
diferente do que foi... melhor,
inda tens muito para amar,
e tempestades para transpor.


Ari Mota



sábado, 12 de junho de 2021

SEGUIR











Que desatino é esse...
Ao meio de tanta selvageria,
-eu aqui insistindo com a minha poesia.
Que desvario é esse...
Ao meio de tamanha irreflexão,
- eu aqui regendo a minha solidão.
 
E tudo era tão simples,
quase não se ouvia o pranto:
- era um tocar de almas, e tudo era encanto.
Bastava ir e a vida esbarrava na gente,
cortejar era apenas com um riso,
abraçar era só cingir os braços sem aviso.
 
E hoje parece que viver ficou proibido,
encontrar tornou-se uma insensatez, um perigo,
não se pode abrir o peito... oferecer abrigo.
A praça virou um desperdício,
e a solitude sentou-se à mesa de bar,
impedindo o ensejo para amar.
 
Que esquisitice é essa...
Mascaramos o riso, andamos tão impreciso,
que estamos distanciando do esplendor.
Deslembramos o tocar da pele,
intervalamos a carícia na cama,
vagamos por aí como um autômato,
e hoje o que nos separa,
e o que nos medeia é o amor.
 
E tudo era leveza...
Foi nos escapando do olhar... a simetria,
levamos ao sacrifício a emoção,
que não mais nos arrepia.
De repente tudo ficou estranho,
expirou a quietude, a harmonia,
permitimos o despertar dos nossos fantasmas,
e esquecemos da nossa teimosia.
 
Que desatino é esse...
Vamos ter que brotar de novo.
Mergulhar nas profundezas da alma,
não deixar o medo submerso:
- e emergir.
Remendar as asas, revitalizar os sonhos,
ter novas escolhas, novos caminhos,
nova tribo, novos livros, novos amores.
E seguir.
 
Ari Mota 


domingo, 25 de abril de 2021

EM BUSCA DE LUCIDEZ
















Se, andas atrás de lucidez,
mesmo... nesses dias ensandecidos,
não se desespere, e se pensas em fugir,
e se precisas fugir...  serena-te.
E fugir para onde?
Mas, se foi seduzido pela dúvida,
e ainda não sabe onde ir...
experimente fugir para dentro,
procurar seus pedaços desconhecidos.
 
A magia deste lugar... enternece,
e se queres lucidez... este será o seu palco,
encontrará tudo que procurou fora de ti.
verdade foi que... quando saiu para viver a vida,
inalou incertezas, ingeriu sonhos,
absorveu energias de outras almas...
e abandonou a si mesmo.
É hora de renunciar das inutilidades e voltar.
E se queres lucidez... fuja da rudeza cotidiana,
da indiferença espelhada em cada olhar,
da avidez sobre as coisas,
e agasalhe-se da frieza dos homens,
abrigue-se onde ninguém te hostilize.
- Dentro é o melhor lugar.
 
Aquieta-te...
A lucidez está onde guardas teus mistérios,
esse tesouro que tanto busca,
essa sinergia que tanto precisas,
e tudo está envolto... onde esconde o seu amor.
Não se desespere... salte para dentro,
e não se preocupe... se deparar com a solidão,
será o melhor ensejo para se encontrar,
varrer as impurezas da alma,
e reaprender a falar com os olhos,
ouvir além das palavras,
entender a fugacidade do existir
e aceitar que entre o começo e o fim...
tudo foi apenas uma ilusão.
 
Não se desespere... se procuras lucidez.
Silencie... ela está dentro de ti.
- ela tem hábitos estranhos:
Mas, pondera quando verbaliza,
ouve quando alguém se manifesta,
é compassiva com as diferenças,
tem a sua própria luz, ama o improvável,
passado e futuro não lhe pertence, só o momento,
e vagueia enlouquecida por aí... com a sensatez.

ARI MOTA 


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

REVERBERE OUTRAS ALMAS














Não desperdice...
Quem em quietude orbite em ti, por amor.
Quem chega para deixar uma digital em tua alma,
quem te abraça demoradamente,
quem não permite que a vida lhe machuque tanto.
 
- Queiras alguém... que possa tardar a tua solidão,
quem não permite que role sozinho em teus lençois,
quem jamais irá desfazer quem tu és, ou pretende ser,
quem possa impedir o teu pranto.
 
- Queiras quem chega sorrindo quando tudo fica difícil,
quem admira e descobre o que você procura,
quem reconhece a tua imensidão.
 
- Queiras quem enfrenta teus temporais,
e permanece compassivo ao lado do teu desespero,
tocando teu rosto em delicadeza.
 
- Queiras quem ouça o teu silêncio,
e reverencia o teu grito,
habitando os teus desertos com fineza.
 
Cuide de tudo que orbita em ti,
tudo que chega para juntar tua bagunça,
influenciar a tua alma, fazê-la melhor,
mesmo sendo ela incomensuravelmente louca,
infinitamente endoidecida, pela magia de viver,
pelo encanto de estar aqui,
sem sentir... se ela é muito, ou se é pouca.
 
Existir é algo inexplicável...
fugaz para os desatentos,
e sem pressa... para os aflitos.
Mas o que a vida quer mesmo:
É que sejamos brilho, algo que irradia,
contamina, transforma por dentro,
algo que provoque... estimule os desafios,
e faça cada um criar a sua historia,
torna-la inesquecível.
 
Não desperdice um amor,
faça-o cúmplice dos teus devaneios,
tenha-o como a sinergia que irá orbitar em ti,
e depois... depois, reverbere outras almas,
e quando estiver... indo para o outro lado do sonho,
esbarrando no fim,
um possa olhar para o outro e dizer:

Você foi a melhor parte de mim.


Ari Mota


 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

NÃO DEMORES


















Que a principio, haja sempre reinícios,
ensejos de se reinventar,
e não demores...
para celebrar a vida,
e nem espere viver de novo,
para se alcançar uma nova chance,
hoje é o dia... mergulhe dentro de si mesmo,
negocie com os seus fantasmas,
com os seus intermináveis medo,
seja lá com o que for.
Não demores...
com quem te machuque,
com quem não aprecia os seus voos,
não reconheça a sua luz.
Não demores nem com o olhar...
para com quem não te contempla com amor.

Vigie-se...
não há sonhos irrealizáveis, nem tardios,
o que existe são caminhos,
nasça de novo... e em prece,
sem precisar arrastar tanto peso,
tanta imprecisão:
- enche-se de leveza,
todos os caminhos são incertos,
não há fórmula para idealizar uma vida,
siga como se soubesse aonde quer ir,
e com quem encontrar,
podes até andar sozinho,
mas, não se encante com a solidão. 

Cure-se...
de todo e qualquer ressentir,
e depois, povoe os seus desertos,
seus vazios... com singeleza,
e que os temporais virem brisa,
e as batalhas... encantamento,
e ao se olhar...
entenda que tu és o seu próprio refúgio,
e na espessura do seu silêncio,
perceba o que viveu,
e o quando amou.
Não demores...
onde não possa ser você mesmo,
nem onde o tornam... invisível,
e nem sabem o que você se tornou.

Ari Mota