segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O GRANDE PACTO

Fiz um pacto com a minha alma,
e combinamos: primeiro, um não abandonar o outro,
e logo em seguida, alongar todos os planos, e depois reinventar a vida.
Óbvio, foi que não saímos por aí, dançando em desvario,
nem em abraços com a insensatez, em noites de solidão.
Pactuamos, tão somente... afastar-nos de tudo que não nos faz bem,
ou... o que nos roube o riso, ou direcione o rumo... ou nos deixe, indeciso,
e depois... nos apequene, nos abata ou nos transforme em desilusão.
Hoje...
Construímos um abrigo... para as intempéries do destino,
um refúgio para nos defender da insanidade humana.
Não permitimos nenhum terrorista invadindo nossos sonhos.
Minha alma anda dançando de alegria, lá dentro... tudo é quietude,
nada me fere, tornei-me resiliente aos temporais, nada me desilude.
Na verdade tenho lutado todos os dias, travo uma guerra descomunal,
não para vencer o mal ou destruir outros caminhos, ou colocar ali um fim,
as batalhas que tenho são buscas para aperfeiçoar a luz... dentro de mim.
Pelas manhãs... declaro que vivo, minha alma arrepia só de existir,
não deixamos nada morrer aqui dentro... resistimos a todos os ataques,
e inquebrantável ficou o meu olhar, eterno o meu aguerrir.
Fiz um pacto com a minha alma, todos os dias... reinventamos a vida,
debruçamos sobre as temeridades do cotidiano... sem engano,
mas sempre achamos a saída.
Muitas foram às vezes que viramos contemplação, imensidão,
e depois... silêncio, e saltamos os abismos... com atitudes... destemida.
Fiz um grande pacto com a minha alma, guardamos no peito... só amor,
e olhamos para os outros e suas coisas sem desgosto e sem rancor.
E assim vivo os meus dias, simples... quase sutileza.
Às vezes me pego dançando nas madrugadas com a delicadeza.
Entre eu e minha alma existe uma fronteira tênue,
ela, às vezes me escapa ao tato, mais sempre está dentro de mim.
Teimamos em ser... felizes, e isso incomoda, irrita... mais, somos assim.
Fiz um grande pacto com a minha alma, rimos em demasia.
Tenho uma louca bailarina, que me alucina, dançamos na rua, na esquina,
e bandos de borboletas que nos sobrevoam... de alegria.
Fiz um pacto com a minha alma...
Ela já não mais é... desinquieta,
e eu... há, virei mansidão...
poeta.

Ari Mota

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

DESISTIRAM DE MIM

Quiseram colocar uma moldura na minha face,
enfileirar-me aos demais... fazer-me, mais um.
Quiseram... distorcer o meu semblante, enquadrar a minha cara,
e quase... fui pego pela sordidez do acaso, quase fiquei comum...
Bom mesmo... é que podemos nos resgatar vez em quando,
revolver o passado, juntar os pedaços, e realinhar o sonho.
E foi aí... que destoei da multidão...
Como saltei sobre os abismos... de mim mesmo,
e sem medo não segui trilha de ninguém,
olham-me... tentando inventar o tamanho da minha solidão,
sem saber, que de sozinho... nada tenho.
Quem me olha... percebe-me, apenas de outro ângulo,
eu... sou uma, outra perspectiva... tenho uma, outra grandeza,
sem ser mais, sem ser menos.
Só não conseguiram... regrar-me para viver somente o agora,
nem me modelaram como coisa de consumo,
não vou desaparecer pelo uso, nem evaporar como brisa,
nem tão pouco, existir em desespero, ou ser um vento banal,
não serei desassossego, nem efêmera será minha caminhada,
os passos serão lentos, cadenciados, firmes,
se um dia me perder... retomo novamente a estrada,
tomo uma vez mais... todas as poeiras que tomei,
e se preciso, tropeço em todas as pedras que pelo caminho encontrei,
esbarro ali, caio mais adiante, ergo-me outras tantas vezes,
vou lento, no compasso da minha coragem, encarar o meu final.
Não vou passar como uma ventania,
só que... não vim para ser assim... tão conciso,
aqui estou... para ficar e para sempre.
Custou-me, quase uma vida... mais consegui libertar a emoção,
amo descomedidamente... aos que assim comigo agem,
os tenho com ternura, os guardo na alma com brandura,
não sei se são poucos, ou muitos... mas são... os que tenho,
e a eles tudo faço, ofereço colo, beijos e abraço.
E assim... vou descortinando-me ao afeto, ao sentimento, ao agrado,
e antes de ir embora, em minha alma... os deixo perpetuado.
Quero ficar em suas lembranças, e se possível, um dia...
povoar os seus vazios, se eu não os esquecer, jamais me esquecerão.
Na verdade... busco eternizar-me, além dos meus versos,
além da delicadeza e da transcendência da minha poesia.
Vou desfrutar do que mais necessito... silêncio e ousadia.
Ao calar-me... torno-me contemplação.
Ao ousar... mudo, altero-me, equilibro-me... sou mansidão.
Quiseram... tirar de mim a coragem para ser feliz, e ali nada pôr,
nem riso, nem amor.
Desistiram...

Ari Mota