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sábado, 17 de outubro de 2020

VIAJO ATRÁS DE LUZ


 










São quase sete décadas,
dessa viagem descomunal.
E poucos foram os instantes de insanidade,
coloquei harmonia na minha loucura,
equilibrei o meu ímpeto, dominei a minha fúria.
Virei silêncio, solidão,
não me afoguei em desespero,
nem me descompassei na hora de sonhar.
Virei calmaria,
e presentearam-me três humanos para amar,
construí-me... reinventei-me.
Suportei a dimensão dos combates,
e nas derrotas deparei com a minha resiliência,
persistia tanto... que iniciava tudo outra vez,
e quase nada me fugiu do controle,
tolerei as vicissitudes que me infligiu,
e percebi que a vida é uma ventania colossal.
E já são quase sete décadas...
E hoje, tudo que vivi me pareceu efêmero,
e o faria do mesmo jeito, tudo que fiz até hoje me seduz,
é que passei a me espelhar na natureza, em suas estações.
E vivo assim... em ciclos... sem intermitência,
e quando percebo o meu outono entreabrir aqui dentro,
e iniciar um frio descomprometido,
e as folhas soçobrarem no chão:
vou rastelar o meu jardim...
e aproveito rastelo a minha alma,
e depois semeio amor nos meus desertos.
E logo em seguida desponta o inverno, frieza,
o sol tímido e a noite mais longa me faz recolher,
arqueio o corpo, transmudo para a alma... quietude,
espero tudo passar.
E de repente despenca a primavera...
o desabrochar das flores, o despertar dos sonhos,
e aí, saio enlouquecido... redescubro-me.
E de súbito resplandece o verão,
os dias se alongam, o sol despeja esperança,
saio regando as flores que plantei e tudo se renova.
E essas são as minhas estações,
que se repetem de tempos em tempos,
e me faz o que hoje sou: Um artífice do recomeço.
E como não tenho intervalos,
hoje é toda a minha vida,
e como tudo é um imenso segredo,
preparo-me para as outras vidas,
outras travessias,
viajo atrás de luz.
 
Ari Mota