sábado, 27 de junho de 2015

ENTERNECER A ALMA

Inexorável foi... chegar, até aqui... eu sei,
e tudo... culpa da minha teimosia.
Por diversas vezes... quase desmoronei,
e por um descuido... quase embruteci a alma,
mas... o que me salvou... foi a poesia.

Implacável foi... o tempo, efêmero... singular,
e tudo... quase me fugiu da percepção.
Por diversas vezes... quase fiquei sem esperançar,
e em todas as dúvidas que tive... conservei a calma,
mas... o que me salvou... foram os momentos de solidão.

Incompassível foi... achar-me, me entender, me... traduzir,
e tudo... foi quase desleixo... achava que não ia embora.
Por diversas vezes... tive medo de me descobrir,
e com todas as descobertas... eu... mais me... amava,
mas... o que me salvou... foi a pureza que me devora.

E em resiliência, me vi... assim, descortinando aos poucos,
e tudo... para enternecer a alma, e o que me conduz.
Por diversas vezes... transcendi aos poetas e aos loucos,
morri diversas vezes, mas... nas manhãs... me repaginava,
e em vez de consumir coisas... descobri o que me apetece... luz.

De todas as incertezas, a maior delas, sem me intimidar,
foi me perder por dentro... não foi, me perder pelo caminho.
Por diversas vezes... em desespero saí... para me encontrar,
quase me perdi... dentro de mim mesmo, quase fugi de mim,
mas... o que me salvou... foi que nunca fiquei sozinho.

Improvável é... encontrar dentro dessa velha alma,
que se renova de tempos em tempos... desarmonia.
Não padeço de tempestades, de lonjuras, vazios... sou pura calma,
hoje... tenho um ponto de equilíbrio, um porto a me esperar,
mas... o que me salvou... foi o meu silêncio, não sou mais ventania.

Este sou eu... não reflito nada além de mim,
e fui salvo pela solidão da poesia,
pela pureza que me devora,
pela luz que enternece a minha alma,
pelo silêncio... minha melhor companhia,
pela leveza que aqui... mora.
Este sou eu... e que toda a minha sagacidade,
seja sempre para mudar o melhor que tenho por dentro,
que eu não tente mudar ninguém,
nem o vento, ou as estrelas de lugar.
Que eu saiba... depois de um temporal,
colocar a alma para secar,
procure abraços, e nunca se esqueça de amar.

Ari Mota


segunda-feira, 1 de junho de 2015

SE TIVER QUE EXAURIR-SE... QUE SEJA DE AMOR

Se conseguir escolher...
escolha o silêncio.
Se suportar a quietude...
dance com a solidão.
Se não achar o caminho...
nunca volte.
Se a vicissitude esmurrar a alma...
abra todas as partes entranháveis de si mesmo,
e visceralmente suplante...
todos os momentos de aflição.
Se idear que a vida é um fardo...
um peso desmedido,
que tenha a coragem...
de fazê-la como plumas ao vento,
e que infinitamente...
saiba provocar risos, em vez de desespero,
e que nada exceda a sua leveza.
Que redirecione o sonho...
que saiba escolher novos atalhos,
procure novos amores, novos amigos,
mude de livros, de rua, de conceito...
e saiba buscar em tudo... beleza.
Se conseguir doar-se...
doe, da sua fonte inesgotável,
e o que falta...  é só incendiar a alma,
afoguear a gentileza.
Se conseguir amar...
que saiba preencher outros vazios...
vazios que nos devora, implacável dor...
que nos remete a solitude.
E que seja intensa essa entrega,
esse dar-se inteiramente,
que seja uma infinitude,
e que saiba render-se a essa delicadeza.
Se conseguir amar...
ame com toda a solidez e sem cansaço,
muitas das vezes o que falta... é só um abraço.
Se conseguir amar...
desapegue das perolas e brilhantes,
muitas das vezes o que falta... são flores,
pouco ou muito...
somos... a soma de todos os nossos amores.
Se conseguir amar... que seja com todo o esplendor,
e se tiver que exaurir-se... que seja de amor.

Ari Mota