quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ANJOS DE PORCELANA... DE VIDRO

Você, já me foi uma... visão quimérica,
um anjo de porcelana.
E só depois que me avelhantei,
que tive a percepção da sua presença,
o quanto... esteve ao meu lado,
das vezes que me acudiu... em noites de solidão,
remediou-me... quando fui acometido de incertezas,
socorreu-me... quando fui invadido pelo desespero,
avivou... as estrelas da minha alma,
me... fez olhar para dentro,
e me encontrar...
conhecer a minha imensidão.

Você, já me foi uma... imagem utópica,
um anjo de vidro.
Mas, só depois de muitos temporais,
o descobri, olhando para mim,
foi uma aparição desmedida,
tornou-se um refúgio... nunca mais fiquei sozinho,
conforta-me... todas as vezes que venho a recomeçar,
inunda-me... de serenidade, nas vezes que me desequilibro,
sustenta-me... em madrugadas de vendaval,
e juntos rasgamos em risos... quando não consigo acertar,
mas... sempre me direciona... é o meu caminho.

Clamo por você... em silêncio, eu sei,
reconheço que esgota-se... por tamanha entrega,
e mesmo exausto, ofegante às vezes,
vem ao meu encontro... impede meu pranto,
inibe meu medo, não o deixa... transcender aos sonhos,
invade-me de maneira visceral,
encoraja-me... a nunca desistir,
não permite que, efêmera fique... minha teimosia,
e que minha luz... não ilumine só o meu caminho,
e que eu resista a todas as mudanças,
e que em todas as perspectivas... encontre amor,
e em vez de pedir... agradeça... seja um abrigo espiritual.

Clamo por você... em silêncio, eu sei,
pressinto que me guardas, me... espia,
neutraliza a minha aflição... com sua calmaria,
e sabe, que de tanto ser forte... as vezes me debilito,
às vezes fico frágil, sem perder o vigor,
sou tão tênue... pura sutileza,
e eu, é que... mais pareço de porcelana... de vidro,
só tenho em demasia... uma energia... que se renova.
- chega com o vento, debaixo das asas de um anjo,
que me acalenta, transpira destemor.

Ari mota


terça-feira, 1 de novembro de 2016

ENVELHESCÊNCIA

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
e tudo... ou foi ficando, ou tomou um... outro atalho,
conjecturei que tudo isso era solidão,
e tudo... foi só...para dimensionar os meus paradoxos,
procurar-me e me ouvir profundamente,
e reconhecer esse disparate que foi a minha vida,
e tudo que guardei de emoção.

De repente, me vi... diante de mim,
vasculhando-me, a procura de vazios,
de algo que reverbera em desinquietação,
mas, tudo... foi só... para cuidar da alma,
da minha melhor parte,
entrar nesse templo de brandura que construí,
e sentir os afagos que o existir me ofereceu,
e saber que amar... nunca me foi em vão.

De repente, me vi... contando a minha história,
das vezes que fugi... dos que queriam me apoucar,
das vezes, que dissolvi velhas magoas,
e das vezes que me escusei dos conflitos,
deixando minha ausência no espaço dos ressentimentos,
e indo embora com o meu silêncio,
com a minha calmaria... sem se sentir no desamparo,
e sereno... sem ninguém ouvir... meus gritos.

De repente, me vi... de frente com os meus desatinos,
é que travei uma profunda amizade com o medo,
quando encontramo-nos... o fito com meiguice,
e ele me contempla com apreço,
já dançamos a beira do abismo,
em madrugadas de desespero,
e... pactuamos um não abandonar o outro,
nem tão pouco... na velhice.

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
mas de quando em vez... se, me ver na rua,
falando ou rindo... com ninguém,
são minhas companhias espirituais,
essas que andam comigo em todas as vidas,
e oferecem-me refúgio... nas horas de incertezas,
e me confidenciam que nada acaba... tudo continua.

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
sei que há um descompasso no andar,
já não tenho a limpidez no olhar,
mas... estou feliz...
- nada conseguiu atingir a minha alma...
nem esse desassombro,
que é deixar de... sonhar.

Ari Mota




sábado, 1 de outubro de 2016

OS DESATENTOS

Libertos...
são os desatentos,
esses que não carregam nada,
chegam com o sopro do vento,
com a luminosidade das estrelas,
descalços, desvestidos das vaidades,
e dançam loucamente... em noites de solidão.
Libertos...
são aqueles que distraídos,
não ligam para a sisudez do tempo,
nem pela lonjura do destino,
nem pela fugacidade do acaso,
e chegar tem o tamanho do partir,
e não colecionam coisas... só emoção.
Libertos...
são os felizes... sem publicidade,
os anônimos... que dão o espetáculo e vão embora,
os que não inflam o ego... a procura de aplausos,
nem sentenciam as diferenças, os descaminhos de cada um,
e transitam invisíveis, em silêncio... sem se apequenar,
fogem da prolixidade... da efêmera exposição.
Libertos...
são os que sem querer...
deparam com os seus próprios vazios,
e ficam compassivos com os vazios dos outros,
estendem o colo, rasgam a alma,
reinventam ciclos, conquistam novos amores,
e se emocionam... com uma linda canção.
Libertos...
são os que olham para si mesmo,
e sabem que ainda haverá... muitos temporais,
e por ser intensos... não desistem,
são puros... são duros... resilientes,
residem entre a lucidez e a doidice,
revestem-se de quietude... de sutileza... de mansidão.
Libertos...
são os que em delicadeza... destilam amor,
e desatentos... amam... sem cercas, sem muros,
e a única distância que conhecem é a infinitude do horizonte,
são cúmplices nos sonhos, nessas batalhas ocasionais,
e comprometem-se... um ficar ao lado do outro, até fim,
e andam... repartindo fragrâncias de jardins,
saem por aí, ouvindo o murmúrio da vida,
extasiam-se... ao toque sutil da mais suave brisa,
e um tem o outro, e desatentos se dão,
- simples assim.

Ari Mota


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

OS MEUS DESERTOS

De todos os experimentos que fiz,
encontrar-me... foi o maior deles.
De todos os ensaios que tracejei,
situar-me... foi o mais ousado que descrevi.
E me vi... ao meio de toda essa ausência de clareza,
deparei-me... com toda essa falta de alinho,
na esquina... vazio,
na imensidão da minha essência... sozinho.
Mas, de todos os experimentos que fiz,
o mais provocador deles, o mais hostil,
foi tentar atravessar os meus desertos.
Havia, um nada que se isolou,
um descampado... um ermo... sem ninguém,
uma solidão nua no meio da minha alma,
olhando-me... sem amor... com desdém.
Fiquei aprisionado naquele lugar,
houve dias que estarreci... com a incerteza,
com os desvios que teria que atravessar,
com os atalhos que deveria descobrir,
e me vi... ali, entre todas as minhas escolhas,
sem partir.
E... depois, de toda uma busca,
percebi ao meu lado... um ser espectral,
olhava-me ternamente,
e invadiu-me de forma visceral,
aquietou a minha ânsia por si só,
abraçou-me com leveza e quietude,
e foi naquele silencio, naquele existir contemplativo,
que resolvi preencher os meus desertos,
como quem jamais se desilude.
Como... nada deixei para trás, só coisas,
o preenchi de sentimentos e emoção,
semeio frutos que não vou colher,
nascem oásis que não vou viver,
existe uma sinergia descomunal,
inda, está pouco povoado... tem poucos amores,
mas, ando plantando araucária e tâmaras,
conservo as praças, cuido dos jardins,
tenho uma reengenharia lúdica... só para as flores.
Espalho estrelas em noites de escuridão,
brisa, em dias escaldantes,
calmaria em madrugadas de solidão.
De todos os meus experimentos,
ocupar de amor os meus desertos... foi o mais intenso.
E, sabe... aquele... ser espectral,
aquele fantasma angelical,
que me auxilia... a nunca desistir,
e reconhece que cada dia, eu me... aperfeiçôo:
peço-lhe, sempre... se tiver que me abater,
o faça em pleno vôo.

Ari mota


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A BELEZA... DE DENTRO

Fugaz... foi quase tudo.
E como uma ventania... quase tudo passou,
quase que soçobrei em estreiteza,
quase... que o existir, me... apequenou.
Mas, depois de tantos temporais,
da imensidão de todas as renuncias,
de todos os desesperos... que tive,
de todos os sacrifícios que fiz,
depois... de muita teimosia,
inda... procurava vestígios de beleza.
Fugaz... foi quase tudo.
Mas, não importei com a dureza da travessia,
a alma ávida em chegar... nunca pensou em desistir,
relutante... destemia a incerteza,
dobrava todas as esquinas... em busca de todas as dúvidas,
ofegante... teimava mais um tanto, sem se ferir,
o que era desalento... transmudou-se para coragem,
o que era aflição se revestiu de calmaria,
e inda... procurava resquícios de beleza.
Fugaz... foi quase tudo.
Corri todos os riscos, sem conhecer a solidão.
Poucos... foram os meus amores,
mas... todos intensos... imensos... maior que eu,
edificaram... toda a minha lucidez,
aquietaram... a minha alma,
e fui me desgrudando das coisas,
das que não poderei levar,
e tudo me foi um disparate, uma infinita emoção.
Fugaz... foi quase tudo.
Mas... inda consegui encontrar beleza,
em tudo que vivi, e passei,
e sei... que hoje pareço mais um mago em descompasso,
um poeta em alucinação,
enlouqueci diversas vezes... sem ninguém saber,
e em delírios... cometi desatinos... amei,
excedi-me... na entrega,
e em descomunal cortesia me... dei.
E hoje... envelhecido... vejo que não foi tão fugaz... assim,
levei uma vida para celebrar o que... tenho de invisível,
das vezes que solene... consenti todas as minhas escolhas,
e aprendi... a não mais sofrer de ausência,
nem tão pouco de lonjuras,
permiti em desvario... até o tempo me vencer,
acreditando em... recomeços,  e nunca no fim.
E hoje, quase não saio...  fiz-me silêncio,
quando busco quietação... vou alma adentro,
busco profundezas... cansei das aparências,
e eu que... inda... procurava beleza,
a encontrei... dançando... aqui dentro.

Ari Mota


sexta-feira, 1 de julho de 2016

FUGIR DA INDELICADEZA DO DIA
















Afigura-se... às vezes,
que abandonei os apetrechos de defesa,
descuidei da linha de frente,
desguarneci a minha resiliência,
ofusquei o traço tênue... da minha teimosia.
Mas sobrevém... que tenho uns instintos,
um ardor que brota aqui no peito,
um ímpeto que estremece a alma,
e me sussurra que... é hora do intervalo,
de despir-se da armadura,
aquietar-se... para não despertar em agonia.
E assim... para não expor vestígios de desespero,
concedo uma ¨pausa¨ aos meus embates,
rendo aos meus delírios,
sou vencido pela minha doce doidice,
e assim... cismo em... enternecer a minha poesia,
perder-me ao meio daquela melodia,
daquela velha canção,
e em desatino... tudo se manifesta,
faço a minha loucura dançar com a minha lucidez,
em noites de solidão,
e em segredo recolho-me,
vou colher estrelas em alto mar,
e atravesso aqueles limites da insensatez,
entrego-me ao amor... vou amar,
e depois prover de sonhos, o que ainda me resta.
De todas as nuances do caminho,
chega um momento...  que tenho que abrandar,
e por instantes... fugir da indelicadeza do dia,
da frieza dos homens, do vazio da multidão.
E assim... vejo-me frágil,
e sôfrego, deparo-me... efêmero,
preciso da minha placidez... preciso me encontrar,
careço de quietação.
Afigura-se... às vezes, que descuidei de mim,
mas... esses descansos ocasionais,
esse subterfugir da luta aflora o meu... melhor,
e imerso em mim mesmo... busco leveza,
sem medir... a temeridade do fim.
Afigura-se... que desisti,
mas, foi só uma pausa... para se recompor,
vou continuar destilando coragem para os reinícios,
- para onde for.

Ari mota


quarta-feira, 1 de junho de 2016

OS VELHOS MEDOS

Vi... toda a aridez da minha alma,
escapar... perder-se ao meio dos acasos,
morrer entre todos os meus silêncios,
aquietar-se com os gritos emudecidos,
que não dei.
Vi... todo o desnudar dos meus mistérios,
descortinar... abrir-se aos teus feitiços,
e ressurgir entre os meus devaneios,
e impor quietude na minha solidão,
remoçar o que passei.

Vi... entre a ternura do meu gesto,
o aperto... e a leveza dos meus abraços,
e teus suspiros enroscar em nossas noites,
e adormecer... ao meio dos nossos desejos,
desfigurar os velhos medos.
Vi... que buscamos... só o que nos encanta,
embora... alguns horizontes estejam mais distantes,
aproximamos em demasia um do outro,
fundimos nossas almas, pressentimos o mesmo eco,
e trocamos confidências dos nossos segredos.

Vi... toda a fugacidade do destino,
fugir... esquivar-se da minha loucura,
mas, fiquei ali... ao teu lado, como um vestígio,
com os meus delírios, eternizando o nosso encontro,
seduzido pela pureza... da nossa inocência,
que...  como uma tatuagem... já está presa ao infinito,
e plena... flui, como se não houvesse fim.
Vi... que não carrego mais os velhos medos,
que arrastei em outras vidas:
de não ter essa magia,
esse exagero da entrega,
e me foi... um prêmio viver “nesta” ao seu lado,
afoguear a alma... amar assim.
                                                                
vi... e agora sei,
que todos os meus velhos medos,
toda a aridez da minha alma,
redefiniu-se em leveza,
quando te encontrei...

Ari Mota


domingo, 1 de maio de 2016

DEPOIS DO IMPOSSÍVEL

Incredível foi que... fui salvo pela minha teimosia.
Sempre acreditei...
que depois daquelas nuvens escuras,
daquele vendaval estacionado na frente do meu destino,
olhando-me como quem... colocasse medo em minha alma,
como quem... me roubasse o riso e a dança,
como quem... arrancasse-me a intrepidez,
e meus doces delírios:
Houvesse momentos de quietação,
que tudo fosse mudar, fosse embora,
sem invadir a minha calmaria,
a minha solidão.
Não muito distante no tempo,
quando fiquei sem escolhas,
cativo da incerteza, de dúvidas insanas,
encolhi-me tanto,
que encontrei uma passagem secreta,
que me levou para dentro, para dentro de mim,
e agarrei-me... naquele último fôlego,
atrevi... com aquele último passo,
e eternizei-me... naquele último instante,
como se não houvesse... fim.
E passei a não me importar se a vida é um disparate,
uma quase loucura,
e tão pouco um descomunal desafio,
hoje... respiro fundo... e vou... para o embate,
e tudo já não é uma incomum aventura,
pois, a maior delas, a maior das lutas,
confesso... foi comigo mesmo,
que travei a maior das disputas,
e hoje... não penso em fugir dos combates,
nem sumir... não sei para aonde,
como alguém que se esconde,
e este... sou eu,
sei da ousadia que é existir, e do tamanho da sua rudeza,
mas, amo as escolhas que fiz... em brandura.
Só ando com quem descobre o meu melhor,
ama o meu silêncio,
e me... inspire, ser mais do que sou,
me... motive, a nunca desistir de mim.
Ousei... abandonar todas as previsões,
não encontrei perigo... nos meus sonhos,
sobrepus o tempo e suas estações,
transcendi... a ânsia do inevitável,
e as expectativas e suas ilusões.
Sempre acreditei no depois do impossível,
inadvertidamente...  sempre fui assim.

Ari Mota


terça-feira, 5 de abril de 2016

PASSEI DE MIM

De quando em quanto,
descubro que tudo é culpa da minha alma,
atrevida... evoluiu,
e nunca se desilude.
Insolente... desafia o inusitado,
desconstrói os velhos paradigmas,
incita e provoca o desacostumado,
e me confidencia que... posso muito mais,
e que... em mim... sobra atitude.
De quando em quando,
vislumbro nunca apagar esta luz aqui na alma,
agarro-me nesses caprichos de nunca desistir,
e me pergunto por quê... tamanha teimosia,
olha... talvez me empolguei em viver,
e saiba... a vida me sacudiu em demasia,
e esteja certo... carreguei no ombro, e visceralmente,
esses pesos invisíveis, essas dúvidas incabíveis,
até que... fui deixando pelo caminho,
tudo que me sangrava... apoucava-me,
e me deixava em desalinho.
De quando em quando,
eu e minha alma... sentamos ali no meio do nada,
na esquina... com a ilusão, no meio da solidão,
e em retrospecto... rimos das nossas doidices,
da nossa ingênua insensatez...
e só eu sei,
das vezes que o destino nos presenteou,
com uma bela rasteira, e nos levou ao chão,
mas, sabido é... que, fui até ele... varias vezes e levantei.
De quando em quando,
eu e minha alma, em noites de silencio... e em solitude,
e na frieza da nossa quietude,
ficamos ali... olhando as estrelas, penduradas no infinito,
e em contemplação,
mensuramos o tamanho da nossa pequenez.
De quando em quando,
olho-me com apreço, me tenho com estima,
sobrevivi a essa rudeza do cotidiano,
não posso negar as cicatrizes,
nem que... já não sangro mais,
e que... hoje, lido melhor com o desengano,
esvazio a alma de ninharias, e a inundo de leveza,
quando preciso mudar... mudo por dentro,
e vou assim... até o fim,
é que... sem ninguém perceber,
andam ao meu lado e se acomodam na minha alma,
uma bailarina louca e duas borboletas,
que me fazem dar férias à morte e esquecer... de morrer.
De quando em quando,
olho-me... procuro-me... tento me achar...
e descubro que... passei de mim.

Ari Mota


terça-feira, 1 de março de 2016

COISAS DO IMPOSSÍVEL

Já... vivi, várias vezes... eu sei,
ensaiei vários recomeços, não terminei outros fins,
me perdi... ao longo de outras vidas,
cometi loucuras, reparei erros,
senti toda a solidão do caminho,
fui intenso, já me encontrei... em desvalia,
enfrentei desafios... essas coisas do impossível,
me vi... ali, na imensidão do silêncio... sozinho,
escasseei-me diversas vezes... assomei-me em outras,
mas... fui a minha melhor companhia.
E hoje...
Quando me vejo no espelho... sei que aquele ali... sou eu,
tenho um formato corpóreo e um outro... espiritual,
vejo-me dançando com minha própria alma,
um desatino sem fim,
mas, sei que este é o meu melhor ensejo,
o melhor de mim.
O destino me deixou mais compassivo,
amo com toda a enormidade... provoco-me... me, encanto,
reinicializo-me em todos os alvoreceres,
senão esqueço-me... em qualquer canto.
Já... vivi, várias vezes... eu sei,
e neste instante, e nesta existência,
estou no ápice de mim mesmo,
ando mais lúcido diante da minha pequeneza,
sei que ainda posso... evoluir mais um tanto,
e, ainda devo insistir com os meus delírios... com urgência.
E nesta busca... blindei a minha alma dos instintos reles,
das reflexões pequenas,
e em desassombro...  não permito redestinar os meus sonhos,
nem absorver a minha natureza,
dentro de mim... não há confinamento,
todos os meus amores são livres, todos os abraços são soltos,
não coleciono coisas... só sentimento.
Já... vivi, várias vezes... eu sei,
mas... somente agora consegui rasgar a alma... de amor,
e transcender-se de toda a emoção,
e em demasia... sentir o calor da vida,
serenar... escapar da inquietação.
E na descoberta... ver que se um dia... tiver que partir,
reaparecer em outra vida,
a distância física que vai me separar dos meus amores,
será mera ilusão,
ficamos tatuados um no outro, de forma visceral,
haverá apenas um intervalo,
um curto período de tempo que medeia a minha ausência,
nunca... um final.

Ari Mota




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

SERENA-TE E CONFIA

Não faz muito tempo...
foi depois... da meninice,
que um olhar sereno me contempla de forma absurda,
espreita-me... com a alma,
toca-me... por entre o vento,
parece loucura... parece sandice,
é uma figura lívida... angélica... tamanha calmaria,
que em noites de solidão,
abraça os meus vazios,
e nos meus silêncios... coloca emoção,
sussurra-me... serena-te e confia.
Não faz muito tempo...
foi antes da velhice,
que na descoberta... vejo um anjo me fazendo companhia,
auxilia-me nas batalhas... essa íntima... incomensurável,
acompanha-me... quando busco os meus reinícios,
alcança-me... quando me perco com a minha doidice,
põe-me à prumo... quando me despenco... e me espia,
e ao meu lado... celebra com aplausos... quando me renovo,
ri... das minhas gargalhadas, aquelas... que dou, dos meus erros,
do meu sorriso fácil... dessa alma ardente... afável,
das vezes que não perco a chance de ser feliz, nem sonhar,
e me segreda... serena-te e confia.
Não Faz muito tempo...
foi antes da minha lucidez,
que uma voz vinda da alma, desse vão... aqui no peito,
disse-me baixinho... nunca desaponte os seus sonhos,
nunca pare de procurar um porto novo,
um caminho diferente, e fazer tudo do seu jeito,
e nunca perca a ousadia de sempre recomeçar, com altivez.
Não faz muito tempo...
só levei uma vida,
para ficar mais compassivo... e melhor,
e fazer que meu existir seja um espetáculo de coisas simples,
sem essa exposição desnecessária,
sem essas vaidades descabidas,
deixei de ser insincero.
Fiz com que a verdade pavimentasse o meu caminho,
e minha certeza fosse mais sólida... que a duvida.
Passei há ter mais tempo para mim, para este que sou,
para a minha reconstrução... e só faço o que quero.
Deixei de colecionar coisas, passei a guardar emoções,
substituí a ironia pela sinceridade,
e em vez de muros, passei a construir pontes.
Passei a fazer com que a sutileza, vença a mim mesmo,
e ao meio de qualquer temporal, arqueio a fronte... e vou.
Amo-me... em demasia,
meu anjo... sempre me diz:
serena-te e confia.

Ari Mota


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

OS MEUS RECANTOS

Foi-se o tempo...
que sempre voltava em retrospectiva,
tentava recolher os meus pedaços,
ou inadvertidamente colar um ao outro,
para esconder os meus fracassos.
Findou o ciclo... que transcrevia um poema, 
por comprazer e o revia em... exaustão,
corrigia uma rima... mudava uma expressão.
Perdeu-se o prazo, quando compunha uma musica,
e repaginava muitas vezes... a partitura,
alterava a melodia... para disfarçar a minha loucura.
Acabaram ao alento, os traços clássicos dos meus quadros,
as cores sóbrias... tudo aquilo que fugia do inusitado,
quando espelhava... nos outros, nunca em mim, o resultado.
Mas... um dia, não me recordo quando,
vasculhei os meus recantos... enfim,
esses vazios, esses espaços abissais, que carregamos,
e deparei com os meus sentimentos mais íntimos,
escondidos, perdidos... dentro de mim.
E depois, de tanto ser esfolado pela própria insensatez,
e ao meio das minhas batalhas,
aprendi a me dar... uns instantes de alívio... uma trégua,
e, é aí... que escrevo os meus poemas,
ouso as melodias que amo... que me fascina,
mudo os meus paradigmas, encaro os meus medos,
reconstruo os meus sonhos... que minha alma imagina.
E me... olho... demoradamente,
dou uma passada... no passado,
nada busco... nada deixo e nada trago,
e vejo que lá, não há vestígio deste que sou... hoje,
e naquele lugar, tudo fica... os desassossegos, as indelicadezas,
como não posso mudar o que passou... nada apago.
Mas... um dia, não me recordo quando,
encontrei-me... vasculhei os meus recantos,
e passei a renascer em cada fragmento que me resta,
em cada poema que deixo... em cada silêncio que faço,
em cada encanto que se manifesta.
Hoje... pareço solidão... mas é pura contemplação.
Consegui abandonar pelo caminho,
pequenezas, frivolidades... ninharias,
passei a não frequentar os lugares onde não existe amor,
e ando com pouca coisa, ando leve,
aprendi a me segurar nas ventanias.
E quando saio na chuva...
lavo a minha pele envelhecida, a alma atrevida,
e sem essas vaidades descabidas, recolho-me,
e nos meus recantos... fico... sem se ferir... ou ferir alguém,
e em lugar de dilacerar... provoco devaneios, em demasia,
e se for para sangrar... o faço, apenas...
com a tinta da minha caneta,
ao escrever... a minha poesia.

Ari Mota