domingo, 29 de setembro de 2013

A NITIDEZ DA ALMA

Precisas... é,
dar relevo ao tempo que medeia...  o chegar e o partir.
É entre esse intervalo... que irá suceder nossas vidas,
é entre esses extremos que passamos com o nosso existir,
que espacejamos nossos triunfos e nossos fracassos,
amamos sem querer, beijamos sem prazer,
odiamos demasiadamente e não achamos as saídas,
e tropeçamos ao meio da noite com o medo e a solidão,
e no princípio da aurora, quando o amor esmurra a porta:
- trememos de pavor... de aflição.
Precisas... é,
desdobrar as asas para sustentar o vôo... antes de tudo terminar,
estender o impulso e saltar sobre os abismos de si mesmo,
e sentir o esbarrar na face... do vento trazendo o recomeçar,
e depois repetir, ensaiar e tentar... quantas vezes... necessário, for,
sem culpa, desculpa... sem nada tirar, sem nada por.
E voltar... ressurgir como sempre foi, verdadeiro... textual,
e transparecer... sem se importar para os que te olham e julgam,
ao encontrar em nossas almas um selo autêntico e atual.
Precisas... é,
reforçar o riso... para enfrentar as vicissitudes,
e dançar em madrugadas de alegria, sozinho na praça... no jardim,
acender a alma, afoguear de paixão o dia,
a vida... é muito para um dia ter um fim,
mudamos... apenas de palco, de publico... do aplaudir.
E nossa apresentação transcorre... assim,
e o melhor do nosso espetáculo, da nossa exibição,
mesmo com as pernas tremulas, boca seca... será o nosso aguerrir,
nossa coragem para ser feliz... nossa infinita... decisão,
de sempre e em qualquer tempo... continuar.
Precisas... é,
realçar a nitidez da alma,
refletir-se em singeleza... beleza até.
Não permitir que o olhar se perca... sem ternura,
e esqueçamos... do abraço, do descompasso do afeto,
do respeito, do perdão incompleto,
e tudo conceber com quietação... e com candura.
Precisas... é,
passar por aqui com o seu melhor show.
E se tiver que ir embora... amanhã ou agora,
saiba que... tudo valeu o zelo... e nada irá recompor.
- passou...
e transluziu-se de amor.

Ari Mota

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CHEGAR...

Chegar aonde?...
Com toda essa pressa... com toda essa velocidade desvairada,
esse desespero, essa convivência desnorteada,
- se não sabes... nem aonde vai,
e como se efêmero fosse a estrada...
e dela tudo que se... extrai.
Chegar aonde?
Com toda essa impaciência de tudo acabar,
esse desejo de tudo terminar,
se não sabes o tamanho de um instante... nem de um olhar.
Chegar aonde?
Com toda essa urgência...  esse indefinível desatino,
essa fugacidade descabida, esse risco de perder-se ao meio do destino,
e virar-se ao avesso... a procura de si mesmo... e nada encontrar.
Chegar aonde?
Com toda essa rudeza, exalando aspereza, tomado de gestos hostis,
ferindo sem sangrar, deixando cicatriz sem tocar,
e almejando... chegar sem ser feliz.
Chegar aonde?
Se... é no percurso que se encontra o assombro... do que é viver.
Se... é no caminho que norteamos nossos sonhos, nossa lucidez.
E, é no trajeto que abandonamos nossa pequenez,
e fartamos nossas almas de grandeza, não a permitimos enrijecer.
Chegar aonde?
Se... é nos atalhos que encontramos nossos amores,
rastelamos as folhas secas, plantamos ousadia, e regamos nossas flores,
ouvimos os bem-te-vis, descansamos a sombra do jequitibá,
e em noites de aflição, resiliente que somos... dançamos com a solidão.
Chegar aonde?
Se... é na travessia que deparamos com a nossa coragem,
transmudamos vendaval em aragem,
e andamos beira mar, enfrentando as ventanias,
e nas madrugadas de insônia, vencemos nossas agonias.
Não espere chegar a lugar nenhum... nem em alhures,
desobrigue a alma... a sentenciar outros destinos e nem censures.
Viva assim... vai sem pressa... como se hoje fosse o derradeiro dia,
se não conseguir ser silêncio, seja ao menos calmaria.
Essa ânsia de chegar...
Ou, de achar que tudo tem um fim,
e não aperceber que existir é pura teimosia,
-  só tem um caminho a seguir... um lugar:
Voltar para casa... voltar para dentro de si mesmo,
com amor...
e alegria.


Ari Mota

sábado, 7 de setembro de 2013

OS MEUS DESASSOMBROS

De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas.
Difícil foi em plena escassez... identificar os excessos,
e se recompor, rebrotar,
e saber... que tenho também momentos de desfolhas.
Perco às vezes a exuberância, murcho em noites de solidão,
e do mesmo modo... irrompo alucinado com a minha luz,
inibindo a escuridão,
deixando pelas estradas o que a mim nada... apense,
ou me apequene... e não me faça aumentar.
De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas.
Quando envelheci tive que corrigir minha órbita,
coisas que não consegui fazer quando na juventude.
E hoje, passei a permitir... gravitar em torno da minha alma,
somente os que tem angelitude,
espio sem escolher... aos que gravitam ao meu lado,
e faço com zelo e cuidado.
E assim... no meu campo magnético,
circulam e só permito borboletas em alucinação, poetas,
vaga-lumes que iluminam os meus delírios,
bailarinas loucas, sonhadores e almas inquietas.
E venho formatando a minha importância... sem ser mais, nem menos,
e bem sei que estou longe da plenitude.
Como tive uma segunda chance,
libertei-me dos pactos de vingança,
já não mais carrego, agarrado alma... ódio, e nem na lembrança.
Cheguei até aqui sereno em busca do meu estado pleno,
e fiz tudo... com toda a calma,
transmudei tanto, me replantei em demasia, e por analogia,
fiz... da terra, o meu corpo, da água, o meu sangue,
do ar, a minha respiração...  e de fogo a minha alma,
queimo-me... em ousadia.
De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas,
coloquei candura no olhar, brandura nos sonhos,
e fiz tudo para ser feliz,
e a vida foi-me surrando de felicidade,
e hoje... deixo-a, que me bata para valer,
apanho todos os dias... em silêncio.
De todos os meus desassombros...
o maior deles... foi um caso de amor pela vida,
e na verdade foi... quando escolhi os meus amores,
os aconcheguei, apertei na alma, e caminhei com eles... nos ombros
e com toda a coragem... os deixei livres... amei sem ser meu,
foi amor desmedido... loucura descabida.
De todos os meus desassombros...
o maior deles... foi, ter sido “eu”.

Ari Mota