Minha vida transcorreu em três tempos... todos simultaneamente.
Houve o tempo da ausência, o tempo da solidão, e o tempo da loucura.
Quando despertava para a vida, esses tempos apossaram-se da minha alma.
Procurei combatê-los incansavelmente, não consegui êxito, fui derrotado.
Passaram sobre mim, desesperadamente, fiquei em pedaços, fragmentado.
Quando o tempo da ausência aproximou dos meus dias, tive medo,
faltaram-me coisas, amores, amigos, perspectivas e sonho,
inexistiram caminhos, trilhas, fui acometido pelas incertezas e a duvida.
E quando o tempo da solidão veio abalroar minha existência,
imergi no isolamento, fugi das pessoas e do mundo, fiquei só.
Retirei-me do convívio, afastei de mim mesmo, escondi, corri, quase morri.
Perdi alguns amores, alguns dos melhores amigos, e o chão onde nasci.
E o tempo da loucura, sempre me abordava... desde menino... e eu não entendia.
Mas hoje, com os cabelos grisalhos, e a face envelhecida... é o melhor do meu tempo.
Assumi definitivamente a loucura...
E o tempo da ausência o transformei, no tempo do crescimento, fiquei maior,
foi a época que repus o que perdi, reconquistei coisas e amores, vivi.
E o tempo da solidão o transformei, no tempo do isolamento, realinhei minha vida,
assumi certas saudades, alguns vazios, certos descaminhos... compreendi.
Hoje estou no tempo da loucura...
Sou feliz... por ter sobrevivido aos percalços do tempo, não abro mão do riso, da alegria.
Tenho dançado... e sempre acompanhado de uma bailarina louca, e algumas borboletas.
Decidi ser feliz agora... hoje... minha alma e eu não permitimos a entrada da tristeza.
Não temos mais tempo para coisas pequenas...
Decidimos enlouquecer de amor pela vida... que nos resta.
Ari Mota