terça-feira, 1 de novembro de 2016

ENVELHESCÊNCIA

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
e tudo... ou foi ficando, ou tomou um... outro atalho,
conjecturei que tudo isso era solidão,
e tudo... foi só...para dimensionar os meus paradoxos,
procurar-me e me ouvir profundamente,
e reconhecer esse disparate que foi a minha vida,
e tudo que guardei de emoção.

De repente, me vi... diante de mim,
vasculhando-me, a procura de vazios,
de algo que reverbera em desinquietação,
mas, tudo... foi só... para cuidar da alma,
da minha melhor parte,
entrar nesse templo de brandura que construí,
e sentir os afagos que o existir me ofereceu,
e saber que amar... nunca me foi em vão.

De repente, me vi... contando a minha história,
das vezes que fugi... dos que queriam me apoucar,
das vezes, que dissolvi velhas magoas,
e das vezes que me escusei dos conflitos,
deixando minha ausência no espaço dos ressentimentos,
e indo embora com o meu silêncio,
com a minha calmaria... sem se sentir no desamparo,
e sereno... sem ninguém ouvir... meus gritos.

De repente, me vi... de frente com os meus desatinos,
é que travei uma profunda amizade com o medo,
quando encontramo-nos... o fito com meiguice,
e ele me contempla com apreço,
já dançamos a beira do abismo,
em madrugadas de desespero,
e... pactuamos um não abandonar o outro,
nem tão pouco... na velhice.

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
mas de quando em vez... se, me ver na rua,
falando ou rindo... com ninguém,
são minhas companhias espirituais,
essas que andam comigo em todas as vidas,
e oferecem-me refúgio... nas horas de incertezas,
e me confidenciam que nada acaba... tudo continua.

De repente, me vi invisível...
a envelhescência me abraçou visceralmente,
sei que há um descompasso no andar,
já não tenho a limpidez no olhar,
mas... estou feliz...
- nada conseguiu atingir a minha alma...
nem esse desassombro,
que é deixar de... sonhar.

Ari Mota