terça-feira, 27 de maio de 2014

EU CUIDAREI DE VOCÊ

Feliz, quem…
Teve alguém para amar,
e quando o tempo exíguo... sinalizou que ia embora,
quando a escassez de si mesmo...  procurou abrigo,
sem desassossego ficou esperando a... hora.
Feliz, quem...
Conseguiu aperceber,
que pouco é... construir castelos, amealhar jóias,
e em soberba atitude, só conquistar poder,
e desfilar com títulos e vaidades... acumulando moedas,
se não soube reinicializar... depois das quedas.
Feliz, quem...
Nestas madrugadas insones, teve um peito para dormir,
e em isolamentos ocasionais, nunca se sentiu sozinho,
e em irresolutos vazios, teve um colo para silenciar,
e alguém para estar ao seu lado... no caminho.
Feliz, quem...
Nem por descuido do destino, endeusou-se de insensatez,
nem se fartou de coisas... e na alma, tudo semeou,
e sustentou equilíbrio no existir, e tudo amou,
com altivez.
Feliz, quem...
Entendeu, que de todas as riquezas... a maior,
é quando partir... ter alguém... para despedir,
e que nada foi ilusão... e tudo valeu... apesar da solidão.
Feliz, quem...
Renunciou a tudo que é tangível,
e regou a alma... esta tênue e invisível essência,
e a fez... forte e sensível,
viveu um grande amor... em resiliência.
Feliz quem...
Ao meio deste embrutecer de almas,
inda conseguiu descobrir sentimentos, e construiu um jardim,
uma varanda para sentar em fins de tardes,
e percebeu borboletas esvoaçantes,
e como eternos amantes,
comprometeram-se... encontrar-se depois... deste fim.
Feliz quem...
Conseguiu despojar de quase todos os supérfluos,
e em silêncio, sem ser comum, sem nenhum clichê
acreditou na força da alma que ama... que crê,
e sem pedir “cuida de mim”...
teve a coragem de dizer:
-eu cuidarei de você.

Ari Mota

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O MELHOR DE MIM

Imaginei que, tudo...
poderia ter sido apenas uma analogia descabida,
coisa... de gente atrevida,
uma invenção juvenil... falta do que fazer:
Cheguei a comparar a minha alma... com o universo em expansão,
claro que foi doidice... só podia ser alucinação.
Mas, tudo independeu de outros olhares, de outra opinião,
eu vim mesmo... aprovisionando na minha alma... leveza.
Óbvio foi que, tive que matar uns fantasmas que me rondavam...
em indelicadeza.
Mas... a abasteci de sonhos, de poesia, de ternura... inocência até,
a fiz...  expandir em manhãs de alegria, e em madrugadas de solidão.
A preparei, para oferecer os melhores abraços, os mais ternos beijos,
fui abrigo em noite de frio, vento em tardes de calor,
emprestei o peito para o sono, afaguei em demasia, destilei desejos,
dei colo, enxuguei lagrimas no abandono, amparei soluços.. e como amei.
Estimulei com toda a intensidade, fui porto em noite de tempestade.
Uns deixei entrar, outros tive que retirar... sem nenhuma aflição.
Sei que morri diversas vezes... e rebrotei... virei silêncio...
Repaginei a minha trajetória, e todos os meus conceitos,
preparei tanto a minha alma que quase virei... imensidão.
E hoje... envelhecido...
Lamento...
Quem... não quis acreditar no meu amor.
Quem... não quis plantar no meu jardim.
Quem... não quis ouvir a minha musica, ler os meus poemas.
Quem... não quis me ver rastelando as folhas secas... no inverno.
Quem... não quis aplaudir-me... quando, formatei o melhor de mim.
Lamento...
Quem, não quis repartir comigo a sua dor.
Quem, não quis permanecer ao meu lado para sempre.
Quem, não quis dividir os desassossegos, e festejar os acertos.
Quem, não quis curtir os meus devaneios, e a doçura dos meus delírios,
e livre... nada me dar... nada levar... nem deixar... nem pôr.
Lamento...
Quem... afastou do meu perfume, e nem me deixou a fragrância do seu.
Quem...  não caminhou na mesma estrada que passei.
Quem...  não sentiu as emoções que senti.
Quem...  não conheceu o meu andar.
Quem...  não viu a coragem que tive, e das vezes que de medo... tremi.
Quem...  não conseguiu me amar.
Saiba, passei... como um cavalheiro invisível,
vivi com profunda paixão à vida e tudo valeu.
Lamento...
Quem, não quis acreditar no meu amor.
-  não me encontrou... você me... perdeu.

Ari Mota

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A EMOÇÃO

Achei que... as emoções só seriam mais intensas... lá meninice,
quando... o sangue fervia... quase entrava em ebulição,
e a alma saltitava... como se fora sair em disparada... sem voltar,
e tudo transluzia em encantamento e meiguice.
Achei que... as emoções morreriam ali, e me deixariam na solidão,
e que vazios iriam invadir os meus sonhos, e roubar a minha lucidez.
Mas, de tudo... ficou que... existir foi um espetáculo,
e olha que... a minha apresentação foi somente, para:
Uma bailarina louca e duas borboletas... que, sempre me aplaudiram,
e aí, estava toda a magia, e assim... jamais deixei a emoção ir embora,
nem a ousadia de me recompor e sempre arriscar... mais uma vez.
E hoje... já consigo olhar... os caminhos que passei,
as escolhas e as coisas que fui abandonando pela estrada,
do convício desprezível ao julgamento egocêntrico, do desdiz,
e o que agreguei como candura e permiti entrar na minha alma.
E sem querer alguma coisa reparar...  faria tudo como fiz,
sem me apequenar com o que não consegui,
nem exalar soberba com as coisas que amealhei,
e sem recalque... ser nada além... do que sou,
orgulho-me dos passos que dei.
Achei que... as emoções ficariam perdidas nas dúvidas que ficou,
mas, quando observo o que vivi, o que foi caindo pelas margens,
e o que ainda edifico por onde nem ousei chegar,
vejo que minha alma mais parece uma vela de barco, gosto é de ventania,
não me dou bem com as amarras da indolência, não sei me aquietar.
Achei que... as emoções ficariam agarradas no meu tempo, de meninice,
e olha... que, quase vencido está o meu prazo de validade...
e entro desconsertado, inadvertido... desinibido na minha velhice,
vivi quase todas as emoções: da sutileza do encontro, da frieza da dor,
do desconforto da ausência, da leveza de um beijo, da delicadeza de amar,
da beleza de um rio, da extrema exuberância de uma flor,
da magia de uma poesia, do meu silêncio... da pureza do seu olhar.
Achei que... iria desperdiçar as emoções com o tempo...
Mas... de todas as que... tive, de todas as que... senti,
de todas que... inda, moram em mim,
a que me faz tremer... sacudir a alma,
é ainda a emoção de...
sonhar.

Ari Mota