Eu, um tímido escritor,
cidadão do cosmo, aprendiz de poeta,
residente e domiciliado onde
o vento brinca de solidão.
Estando em magistral juízo,
e em pleno gozo de minhas
virtudes intelectuais,
e sem nenhuma interdição.
Livre de qualquer
induzimento,
lavro o presente testamento,
revestido de delírios e liberdade,
no qual exaro minha última
vontade:
Ao longo do meu existir não
consegui amealhar coisas,
como inda tenho a sutileza do
olhar,
vou doar a minha
contemplação.
Só agora no final, que ando economizando sentimentos,
não... por não ofertá-los,
mas, por tê-los em demasia.
Fui me achando, vasculhando a
minha alma, me encontrando,
claro... que houve noites de
desespero, mas... alvorecer de teimosia,
sobrevivi ao medo de mim
mesmo... e foi como um ritual.
E hoje, resolvi... sentado em
uma esquina do meu destino,
deixar a quem assim querer,
minhas riquezas, em desatino.
Obvio... que todas são
subjetivas, não dá para tatear com mãos,
somente... senti-las de forma
visceral.
Estou deixando meus versos,
meus poemas,
minha coragem em ser feliz, e
minhas loucuras... para nunca desanimar.
Tenho ainda as batalhas que travei...
com as minhas duvidas, meus dilemas,
confesso... perdi em varias
delas, mas, foi ali que cresci para dentro.
Como inda tenho a sutileza do
olhar,
vou doar a minha contemplação.
Ando encarando tudo com
carinho, mesmo quando perco o caminho.
Percebo o acordar do sol, e o
seu crepúsculo vespertino,
as borboletas em algazarra,
brincando de ciranda em torno do Jatobá,
e ainda... extasio-me aos
acordes de uma canção, dedilhada em um violino,
que me acalma, faz graça com
minha alma,
emociono-me com a delicadeza
de uma flor,
de um sorriso verdadeiro, de
regras justas, de escolhas,
de amigos, de ausência e de
saudade.
Portando ofereço o que sou...
silêncio.
E minha maior herança... amor.
Nada mais tenho a lavrar,
dou, assim, por concluído
este meu testamento particular.
Ari Mota