segunda-feira, 4 de setembro de 2017

DISFARCE

Foram muitos... os adeuses,
vim despedindo-me... por quase toda a minha vida.
Para uns até tive tempo de um... até breve,
para outros... apenas desapareci.
Fiz tudo isso, sem nunca ter indo embora,
nunca mudei de lugar.
É que, vim... desvestindo-me... de mim,
permutava-me... sem parar,
e sempre me substituía, quase por minutos, por hora,
era um repaginar sem igual,
redefinia-me sem ninguém saber,
redirecionava as expectativas,
e tudo aquilo que me apetecia,
e me deixava a cada instante, mudava copiosamente,
e abandonava tudo que me definia... sem querer.
Um dia... inadvertido diante do espelho,
não me lembro do tempo, não trago de cor,
mas, despertou-me uma sensação de estranheza,
não sei, se me via com requinte, singular,
só sei, que era uma imagem esquisita, tomada de beleza,
e tinha uma aparência transmudada para melhor.
Na descoberta... entendi dos meus adeuses,
das minhas despedidas.
Eram dos meus recomeços e não do meu fim,
como sempre tentei outra vez,
e para não perde o brilho, reverberava para dentro,
e em resiliência... rebrotava-me,
eu despedia do que fui ontem,
e nunca de ninguém ou de mim.
Foram transformações tamanhas, descomedidas,
vicissitudes que só me fizeram crescer,
e poucos foram os que... amei,
e souberam das tempestades que encontrei,
e com isso... abandonei certos olhares,
e me apaixonei com a minha atitude,
acabei amando essa solidão,
e nada do exterior tem me ferido em demasia,
silencio-me em vez de enfurecer,
abstenho-me na hora de conjecturar,
não ando recebendo como visita... a aflição.
Reflete em mim... o que eu somente manifesto,
e ando distribuindo estrelas, borboletas,
afagos, ternura em noites de sofreguidão.
Não tenho muito que reparar,
não tenho que fazer nenhum ressarce.
Só sei, que aos poucos,
estou tornando-me o que gostaria de ser.
E tudo isso... sem disfarce.

Ari Mota