sábado, 1 de outubro de 2016

OS DESATENTOS

Libertos...
são os desatentos,
esses que não carregam nada,
chegam com o sopro do vento,
com a luminosidade das estrelas,
descalços, desvestidos das vaidades,
e dançam loucamente... em noites de solidão.
Libertos...
são aqueles que distraídos,
não ligam para a sisudez do tempo,
nem pela lonjura do destino,
nem pela fugacidade do acaso,
e chegar tem o tamanho do partir,
e não colecionam coisas... só emoção.
Libertos...
são os felizes... sem publicidade,
os anônimos... que dão o espetáculo e vão embora,
os que não inflam o ego... a procura de aplausos,
nem sentenciam as diferenças, os descaminhos de cada um,
e transitam invisíveis, em silêncio... sem se apequenar,
fogem da prolixidade... da efêmera exposição.
Libertos...
são os que sem querer...
deparam com os seus próprios vazios,
e ficam compassivos com os vazios dos outros,
estendem o colo, rasgam a alma,
reinventam ciclos, conquistam novos amores,
e se emocionam... com uma linda canção.
Libertos...
são os que olham para si mesmo,
e sabem que ainda haverá... muitos temporais,
e por ser intensos... não desistem,
são puros... são duros... resilientes,
residem entre a lucidez e a doidice,
revestem-se de quietude... de sutileza... de mansidão.
Libertos...
são os que em delicadeza... destilam amor,
e desatentos... amam... sem cercas, sem muros,
e a única distância que conhecem é a infinitude do horizonte,
são cúmplices nos sonhos, nessas batalhas ocasionais,
e comprometem-se... um ficar ao lado do outro, até fim,
e andam... repartindo fragrâncias de jardins,
saem por aí, ouvindo o murmúrio da vida,
extasiam-se... ao toque sutil da mais suave brisa,
e um tem o outro, e desatentos se dão,
- simples assim.

Ari Mota