Um dia... e faz tempo.
Olhei pela janela do meu
horizonte,
a procura do meu amanhã, das
minhas perspectivas,
e atemorizei-me com a dúvida,
com as incertezas banais.
Quase desisti dos combates,
quase voltei para os braços do medo,
quase fiquei parado nas
curvas do tempo,
esperando o passar dos
temporais.
Um dia... e faz tempo.
Desconfiei da existência do
meu amanhã,
do tempo que haveria de vir,
do resto do meu existir.
Intentei conjecturar a sua
face, incorporar o seu conteúdo,
e desapontei-me com o vazio
do olhar, e nada encontrei.
Por um triz não me aprofundei
na solidão,
e por pouco menos, quase fui
ao desespero,
e por muito perto, quase no
abandono de mim mesmo, não amei.
Mas... resiliente... e sem a
certeza do amanhã,
passei a esculpi-lo dentro da
minha alma,
e fazê-lo existir... antes de
acontecer.
E assim... é o meu amanhã,
ele é hoje, sem demora.
Amo, mesmo antes do alvorecer,
abraço... afago... acarinho,
antes de ir embora.
Não quero um dia, desdizer:
eu devia.
Nem tão pouco, descobrir que
tudo foi muito pouco,
e que faltou fazer mais.
E depois, no lamento e na
culpa,
descobrir que o amanhã é
apenas uma suposição,
angustias existenciais.
Um dia... e faz tempo.
Tive que esculpir aqui
dentro... o amanhã,
como sou um ser inacabado, alma
destemida,
nada mais, temo.
Nem passado, nem futuro,
hoje... é toda a minha vida.
Ari Mota