terça-feira, 5 de dezembro de 2017

DESCORTINAR


















Tudo teve uma lentidão incomensurável,
e por diversas vezes sozinho,
quase entrei em desespero.
É que tudo que vivi...  foi muito hostil,
e a vida me foi áspera,
bruta como... noites de temporal,
fria, estreita, rude como caminho sem volta,
e inundar essa alma de amor,
foi-me um exagero.

E eu resiliente... nunca desisti,
de encontrar-me.
E fui me descortinando,
deparando com esse que sou,
encontrando com os meus paradoxos,
desvestindo as minhas perspectivas,
e tímido, edificando as minhas escolhas,
no sentido mais profundo.
E sem saber onde parar...
fui me encontrando.

Tudo que passei foi intenso,
recomecei por diversas vezes.
E fui me redescobrindo a todo instante,
eu já não mais buscava o tangível,
faltava-me algo abissal, maior que eu.
E distraído, deparei com a imensidão da alma,
e hoje, quando recomeço, é ali o meu primeiro passo,
é ali, onde encontro a minha sinergia,
onde pactuo seguir sempre adiante.

E assim, me descortino,
renovo de tempos em tempos,
também pudera, jogo fora... os meus excessos,
e tomo de assalto... os meus vazios.
Rasgo esses lacres que tentam colar na minha pele,
desfaço esses nós que permeiam o meu caminho.
Lido com as minhas duvidas com desassombro,
sempre atrevo a enfrentar os meus medos,
e dançar loucamente com os meus desafios.

Que ao descortinar, me... escape a solidão,
e eu continue tendo lucidez para ouvir,
e quietude em querer falar,
e nunca segure essa alma que pulsa,
que às vezes acho que vai sair de mim,
essa que reverbera em sempre reiniciar,
essa que me acalenta e me acalma,
essa enlouquecida... atrevida,
que me faz sempre recomeçar.

Ari Mota



terça-feira, 7 de novembro de 2017

EMPODERAR

Se tiver que empoderar... que o faça... para dentro,
silenciosamente.
Ocupe cada possibilidade de si mesmo,
cada expectativa... cada resquício de fantasia,
cada devaneio... cada ímpeto de loucura,
revire pelo avesso todos os seus delírios,
visceralmente.
E depois, invada seus vazios, inunde-os de ilusão,
sonhe como se estivesse em desespero,
e se for construir um templo... que seja dentro da alma,
e que seja o único refugio nos momentos de tempestades,
e que ele seja somente seu, intocável,
do tamanho da sua solidão.

Se tiver que empoderar... não o faça... para os outros,
não construa nada do lado de fora,
aprenda a não possuir nada,
arraste... somente o que precisas,
leve apenas e tão somente... singeleza,
tenha candura nas palavras e no olhar,
no mais... nada mais... antes de ir embora.
E depois, se errar, ria desesperadamente com leveza,
e se reinvente, para logo ali... fazer melhor.
E se o acaso emudecer-lhe, provocando... medos,
-quem perde a voz... ganha o silêncio,
passa a possuir profundidade.
Se apagarem as luzes... acenda as estrelas,
o seu fulgor tem que vir de dentro,
da sutileza dos seus segredos.

Se tiver que empoderar... conceda-lhe,
as próprias escolhas... seja líder de si mesmo,
sem ninguém saber.
Repense a direção e as emoções,
esquiva-se da escuridão... irradie luz,
essa coisa... mais adentro, intrínseca, invisível,
o que não dá para mensurar, nem ver.
Pense com força, rijeza... resiliência,
sem abandonar o singelo, o simples,
e sem muitas peripécias e nem imensas proezas.
A vida acontece neste instante,
é fugaz como uma ventania,
estúpida nos rouba a ousadia,
viver... é só para quem é artífice das delicadezas.
Se tiver que empoderar... descortine-se,
acautele-se com o que pensas, e a palavra que verbaliza,
pondere a medida do “não” e a grandeza do “sim”
reveja o sentido que caminhas,
a vida acontece no seu decorrer,
ela só é igual no fim.


Ari Mota


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

OS SINAIS QUE RECEBI

Lá naqueles tenros anos,
quando não conseguia fazer da vida um ritual,
eu já o percebia orbitando em mim,
e eram sinais vindos de lugar nenhum,
chegavam frágeis, sem muita robustez.
E o tempo voraz, foi-me seduzindo,
e quase sucumbi a sua ligeireza,
sem perceber que tudo vinha de dentro,
desse íntimo visceral.

E hoje, depois de tantas estações,
de tamanha resiliência,
ele ressoa intenso no meu interior,
faz-me, permitir momentos de silêncio,
e de contemplação.
De descoberta dos próprios limites,
do tão exíguo, é o meu existir,
do tão pequeno, é a minha altivez,
e de poder ser tão vazio, a minha essência.

Para não fugir de mim, nem sofrer de longitude,
tive que mudar incessantemente.
É que, quase me perdi com tantos caminhos.
Tive que celebrar o romper do sol e o seu crepúsculo,
e andar comemorando a vida,
desde quando, casualmente descobri sua finitude.
Passei a ornamentar a minha alma,
de poesia, loucura e leveza.
Compreender que nada posso levar,
nem juventude, nem velhice, nem minha pseudo beleza,
e se deixar, somente a sutileza dos meus carinhos.

De todos os sinais que recebi, e rituais que pratiquei,
compreendi... que tive que emprestar o colo, repartir a solidão,
recepcionar borboletas, uma louca bailarina e um beija-flor,
e me banhar por dentro, promover uma assepsia na alma,
entender que poucos foram os que amei, e não foi minha a ilusão.
E achar que fiz da minha vida um espetáculo,
tudo que edifiquei... não pude e nem posso tocar,
o que construí foi tudo subjetivo,
jamais poderei perder, ou alguma coisa esquecer,
tão pouco alguém me roubar.
E o que na verdade sobrou, permaneceu como sinal da vida,
e foram dois, apenas dois... imensos sentimentos:
Um era o ódio, e eu escolhi o outro:
o amor.

ARI MOTA


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

DISFARCE

Foram muitos... os adeuses,
vim despedindo-me... por quase toda a minha vida.
Para uns até tive tempo de um... até breve,
para outros... apenas desapareci.
Fiz tudo isso, sem nunca ter indo embora,
nunca mudei de lugar.
É que, vim... desvestindo-me... de mim,
permutava-me... sem parar,
e sempre me substituía, quase por minutos, por hora,
era um repaginar sem igual,
redefinia-me sem ninguém saber,
redirecionava as expectativas,
e tudo aquilo que me apetecia,
e me deixava a cada instante, mudava copiosamente,
e abandonava tudo que me definia... sem querer.
Um dia... inadvertido diante do espelho,
não me lembro do tempo, não trago de cor,
mas, despertou-me uma sensação de estranheza,
não sei, se me via com requinte, singular,
só sei, que era uma imagem esquisita, tomada de beleza,
e tinha uma aparência transmudada para melhor.
Na descoberta... entendi dos meus adeuses,
das minhas despedidas.
Eram dos meus recomeços e não do meu fim,
como sempre tentei outra vez,
e para não perde o brilho, reverberava para dentro,
e em resiliência... rebrotava-me,
eu despedia do que fui ontem,
e nunca de ninguém ou de mim.
Foram transformações tamanhas, descomedidas,
vicissitudes que só me fizeram crescer,
e poucos foram os que... amei,
e souberam das tempestades que encontrei,
e com isso... abandonei certos olhares,
e me apaixonei com a minha atitude,
acabei amando essa solidão,
e nada do exterior tem me ferido em demasia,
silencio-me em vez de enfurecer,
abstenho-me na hora de conjecturar,
não ando recebendo como visita... a aflição.
Reflete em mim... o que eu somente manifesto,
e ando distribuindo estrelas, borboletas,
afagos, ternura em noites de sofreguidão.
Não tenho muito que reparar,
não tenho que fazer nenhum ressarce.
Só sei, que aos poucos,
estou tornando-me o que gostaria de ser.
E tudo isso... sem disfarce.

Ari Mota



terça-feira, 1 de agosto de 2017

TRANSBORDAR

Nunca o vi... eu sei,
mas, o percebia em meu entorno,
contemplava-me como ninguém,
e eu, me sentia emoldurado dentro daquele olhar angélico.
E, ele sempre me sussurrava:  agüente firme.
Outras vezes, segredava-me:  espere.
E muita, das outras vezes, murmurava:  levante,
não desanime.
E assim... seguiu as coisas, e o meu existir,
e nada me foi em vão.
E esse ser espectral, sempre estava sentado ao meu lado,
inundando minha alma de brandura,
ficando comigo em noites de desespero e solidão.
E tudo no fundo... foi profundo... belo,
até que... passei a me reequilibrar diante dos temporais,
e em vez de ser sombra, passei a ser luz,
iluminei-me por dentro,
expandi a minha essência... de simplicidade,
tornei-me tão pequeno... que cresci sem saber,
virei uma imensidão de possibilidades,
e depois, gargalhei dos meus fracassos,
e tímido... ocultei os meus triunfos,
sem de nada... me arrepender.
Transmudei com tamanha impetuosidade,
que às vezes procuro aquele que fui ontem,
e não mais me encontro.
E me vejo assim... vivendo somente o hoje,
sei que... beirei a mais lúcida loucura,
e experimentei ausências absolutas,
sem perder a ternura.
Evolui sem perceber, e não me restou... nada mais,
a não ser... saber o que sou: essa incompletude,
essa quietude... cheia de emoção.
Pois, viver me foi intenso... impar,
uma vida só...  foi-me, e esta sendo... muito pouco,
necessito de outras tantas, para me completar.
E hoje, sei o que estou fazendo de mim,
sou um poema inacabado,
em busca da mais perfeita rima.
Sou rudeza que se refina,
em busca do mais alto requinte,
antes do fim.
E a vida? Me, foi um esplendor.
Quando sozinho... contemplo as estrelas,
quando na multidão... contemplo a mim mesmo,
danço enlouquecido com a própria alma,
e isso me faz... transbordar de silêncio,
e de amor.

Ari Mota


segunda-feira, 3 de julho de 2017

DESTEMIDEZ DA LUTA

Que eu nunca saiba mensurar o tempo,
que vivi.
Que eu tenha apenas a dimensão do tempo,
que me falta.
E que, continuar aqui, 
ou morrer... nunca me foi uma escolha,
- e nem sei como, cometer tal loucura.
Como não tenho como voltar,
por caminhos que passei... infinitamente a procura.
Que eu saiba, inda impelido,
pelo encanto do existir, pela destemidez da luta,
compreender... que depois de algum tempo,
tudo isso... todo esse meu medo e desespero,
transformará em beleza e ternura,
e que resistir continuará sendo a minha substância,
e que a resiliência que mora em mim,
que me habita, permanecerá visceral, profunda.
Que eu nunca, diga nunca,
e que tudo seja um talvez,
uma incerteza descomprometida.
Que eu possa debruçar apenas em reinícios,
que, de todos os meus fascínios,
resistir... seja o maior deles,
e continuar... seja, a minha atitude mais atrevida.
Que eu nunca saiba mensurar o tempo,
que sofri.
Que eu tenha apenas a certeza que ele me tornou,
mais compassivo.
Que eu encare o tempo que me resta,
como o melhor que eu tenho.
Quero que ele venha solto, descomedido,
venha sacudir a alma,
e melhorar com delicadeza o que sou.
Que eu jamais saiba o tamanho do tempo,
nem que um segundo possa ser uma eternidade.
Que eu tenha apenas a grandeza,
da sua metamorfose em mim, e do quanto sobrevivi,
varias foram às surras que levei da vida,
me levaram até ao chão,
e levantei varias vezes, e não morri,
só me fiz ser... evolução.
Que eu jamais esqueça...
que foi no desconforto do tempo que cresci.

Ari Mota


sábado, 3 de junho de 2017

EM OUTRAS VIDAS

Nunca consegui entender... tudo isso,
e sempre soube que não seria fácil,
- compreender esse silêncio que me atravessa.
Nunca consegui aquietar a minha alma,
e somente eu... sei o barulho que ela faz,
parece que está em quietude,
- mas tem toda uma pressa.
Como não vim para me completar aqui,
e terei outras paragens,
outras vidas para viver,
que... eu nunca canse de tentar tanto,
e passar sempre amando, sem nunca me perder.
Nunca consegui entender... tudo isso,
cheguei a pensar que tudo seria calmaria,
e tudo chegou como uma tempestuosa ventania,
e em grande fúria, me bateu sem dó,
como se fosse um furacão.
Resiliente... levantei varias vezes,
resisti a tudo que me devora,
nunca me senti... só.
E sou isso... essa coisa inacabada,
levanto todos os dias e vou,
sou um canteiro de obras...
- estarei sempre em construção,
até, o dia de ir embora.
Há dias... que ao meio de uma batalha,
silencio-me... vou ouvir a minha musica,
escrever a minha poesia,
agasalhar a alma de toda essa rudeza,
sem nunca, deixá-la vazia.
Tentei de tudo... fiz de tudo,
nunca consegui juntar coisas,
nunca tive o domínio de nada,
não é desculpa, ou um escudo,
é que... só passei a perceber as emoções,
e só posso controlar a energia que tenho por dentro,
esse amor que em mim visceralmente esconde,
coisas que só a gente responde,
essa coisa que transborda e ninguém vê.
essa ânsia contida, essa timidez atrevida,
- de murmurar, eu... vivi sem clichê.
E tudo foi intenso... e faria como fiz,
do mesmo jeito, com a mesma medida.
Só consegui entender... o quão tudo é fugaz,
quando ao meio de tantos temporais tive que ser feliz.
Inda ficarei por aqui... um tempo,
sem entender tudo isso,
e aos que eu amei... essas almas queridas,
- que eu possa casualmente tropeçar em vocês,
em outras vidas.

Ari Mota


quarta-feira, 3 de maio de 2017

INUTILEZAS

Que vire pó,
todas as coisas que esbarrei pelo caminho,
e que, eu possa deslembrar de tudo que me feriu,
ou tentou me apequenar.
Que eu leve adiante essa minha teimosia,
e faça frente... a todas as minhas tempestades,
e enfrente esses nevoeiros espessos,
que embrusca os meus sonhos,
retira a clareza do meu olhar.

Que vire coisa nenhuma,
ou pequenos nadas... todos os medos que tenho,
e que, eu saiba encontrar além da minha loucura,
a lucidez que eu escondo.
E faça esse vento, que sopra ao meu desfavor,
essa cerração que cai impetuosa,
ser tão somente... uma aragem de reinícios,
onde eu possa me reinventar,
inundar de resiliência as minhas aflições,
e seguir me recompondo.

Que eu encontre calmaria,
depois de todas as chuvas torrenciais,
que eu saiba enfrentar o frio rasgando a face.
E como não sofro de urgência,
e não espero o desespero bater em minha alma,
que, eu saiba suportar com lucidez... o tranco da vida,
e com leveza consiga achar uma saída,
para esse exercício insano, que é existir,
sem nunca pensar em desistência.

Que vire pó,
todas as coisas que conquistei,
essas inutilidades, essas pequenezas,
e não colecione mais nada,
nem selos, nem metal,
tão pouco... ressentimentos,
ou resquícios de magoas,
sobras de melancolia... tristezas.

Que, eu alcance todos os meus sonhos,
e saiba esvaziar-me deles,
e guardá-los como memória.
E se, um dia o destino perguntar das minhas proezas,
que eu diga através da minha poesia,
que, o que levo são todas as emoções que tive,
o amor que dei, e recebi.
De resto o que me ocorreu,
não passou de inutilezas.

Ari mota


terça-feira, 4 de abril de 2017

ESQUECI DE DESISTIR

Dia desses que percebi, esqueci de desistir.
Não sei se, foi lucidez ou desatino,
nem sei quando, nem sei como,
talvez tenha sido um lapso ou coisas do destino.
Certo foi que, quase perdi o fôlego,
- e para chegar até aqui,
quase me afoguei na solidão.

Dia desses que percebi,
não me importei com o tamanho das tempestades,
nem os desassossegos do caminho,
nem das vezes que para transcender,
tive que entrar alma adentro, à minha procura,
e muitas das vezes me encontrar sozinho,
- e para chegar até aqui,
não me importei se tudo isso foi apenas uma ilusão.

Dia desses que percebi, esqueci de desistir.
E não sei se foi o acaso,
ou um descuido intempestivo do existir.
Cheguei como uma aragem descomprometida,
envolto a um silêncio ensurdecedor,
cheguei sem urgência, sem saber do fim,
fui tracejando tudo com destemor,
não sei se, perdi tempo com os meus devaneios,
com a minha poesia, com as minhas doidices,
- O que sei, é que, sem querer não abdiquei de mim.

Dia desses que percebi,
por andar meio distraído,
tudo se transformou em um grande equívoco,
em vez de desistir, passei a insistir,
e, é por isso que, nunca encontrei tristeza na solidão,
nem desespero nas tempestades,
e o maior dos meus desatinos, foi só querer ser feliz,
e a minha loucura, não passa de delírios ocasionais,
instantes ingênuo de alucinação.

Dia desses que percebi,
cheguei manso como uma nevoa,
quieto, como um caçador,
e fiquei assim, indivisível,
- nem maior, nem menor.
E eu que queria fazer o meu melhor,
fiz o impossível,
nunca me esqueci de sonhar,
fiz da minha alma brandura,
não aprendi a odiar,
e o que de pesado carrego,
é leveza e amor.

Ari Mota



sábado, 4 de março de 2017

DEPOIS DO MEDO

Não sei se, foi instinto ou destino,
mas, experimentei vários medos,
e tudo foi intenso, imenso.
Verdade foi que, não sabia para onde ir,
talvez, por olhar em demasia o horizonte,
não errei a direção.
Varias foram às vezes, que falei sozinho:
Faz o seguinte... Continua.
E me despertava essa tendência ao combate,
essas coisas que não sai de dentro da gente,
e que jamais se extenua.
E fui me dando chances,
sabendo o que fazer de mim,
das sobras de cada dia,
de cada interminável aperto,
de cada estranha aflição.
Não sei se, foi destino ou instinto,
mas, provei do amargo de todos os medos,
esses que estremecem a carne, sacodem a alma.
Verdade foi que, depois deles,
talvez por acreditar em recomeços,
sempre, era alcançado pela coragem.
Varias foram às vezes, que pensei em desistir,
mas, por pura resiliência, me reconstruía,
e me provocava a tentar mais uma vez,
esses mistérios do íntimo, o que de visceral temos,
e que jamais perdemos... Por teimosia.
E fui me oferecendo gentilezas,
desdobrando esse nó no peito,
essa angustia descabida,
esse vazio que carregamos, essa dúvida que arrastamos,
dessa desavisada vida, esquisita viagem.
Talvez, tudo foi só instinto:
Vejo-me, desafiando o medo,
quando o meu caminho escasseia,
quando o destino me oferece expectativas pequenas,
e preciso, que me levantem, erga, me ponha em pé,
preciso de mim inteiro, e não de algo que me medeia.
Como já tive medo de ausência,
passei a demorar com quem me ama.
Como já tive medo da incerteza,
passei a dançar em desvario, com todo o meu ceticismo.
Como já tive medo da lucidez,
passei a enlouquecer vez por outra.
Como já tive medo da solidão,
encontrei em mim, uma das melhores companhias.
Como já tive medo do medo,
hoje, brincamos ao luar... O fiz virar leveza.
E nada mais, posso mudar... Nada me é factível.
Depois do medo... Sabe o que me sobrou?
fazer aquilo que parecia...  Impossível.

Ari Mota


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

OS EXCESSOS DA ALMA

Nunca tive tanta pressa como agora,
antes, pensava que tudo era para sempre,
e que poderia usar toda a extremidade do tempo,
toda a lonjura das horas,
sem temer o quanto é tênue o fim,
e que jamais iria embora.
E hoje...
Sei como tudo foi fugaz,
minha vida foi uma ventania,
o meu desassossego não é o temor dela terminar,
nem a ânsia, em um cais aportar,
o que preciso...
É tirar os excessos que ainda tenho na alma,
desapegar de coisas pequenas,
e nela colocar todas as minhas emoções,
arquivar todos os meus medos e tudo que alcancei,
que pressenti,
guardar tudo que fui, tudo que sou,
o melhor de mim, tudo que vivi,
tudo que retrate toda a minha resiliência,
não quero ficar em uma folha envelhecida de papel,
nem esquecido numa nuvem virtual,
quero que fique apenas em ti,
que flua de maneira visceral,
a coragem que tive, em ser feliz.
E que, por mais que a vida me apertasse,
sufocasse em noites de solidão,
não hesitei em ir, continuar,
ganhar o chão.
E compreendi que todas as tempestades que passei,
foram ocasionais,
e em sua intermitência, eu corria para dentro,
e imerso, escondia em mim mesmo,
e sereno me reinventava,
e inadvertido, revestia de brandura o olhar,
e continuava.
E olha, resisti, saí ileso,
estremeci algumas vezes, eu sei,
e sempre voltava a ser inteiro,
e sobrevivia sem traumas estruturais.
Que eu seja a leveza que flui sem ninguém sentir,
essas que suavizam, aliviam o peito,
atenuam a rudeza do dia,
que eu possa estar em todos os lugares,
até na minha poesia,
E que para onde for,
o excesso que carrego na alma,
seja só de amor.

Ari Mota


domingo, 1 de janeiro de 2017

A FINA MAGIA DOS TROPEÇOS

De todas as loucuras que cometi,
de todas as insanidades que fiz,
a maior delas foi... esquecer de morrer.
Tive momentos de lucidez,
instantes lúdicos... virei silencio,
virei poesia, virei dia,
disfarcei-me de amanhecer.
Comovi... com tão pouco,
e tudo me foi intenso, fugaz,
e eu que procurava... paz,
a vida me fez sacudir... me fez estremecer,
também pudera... espelhei-me,
na rebeldia dos espíritos adolescentes,
nesses que não traçam rota de fuga,
e teimam, e desconhecem o medo,
insistem, e obstinam mais um tanto,
e são protagonistas de si mesmo,
sem esmorecer,
não permitem que lhe roubem... a emoção,
explodem de coragem, resignificam a ousadia,
ardem... brilham com o imprevisto,
e veemente... não dispensam o riso,
atrevem-se, insistem em ser... feliz,
e tudo vira... pura teimosia,
mesmo sabendo... que podem deparar com a solidão.
E assim:
desvairo... com quem destila destemor,
e mesmo em chamas,
dançam a beira de um abismo descomunal,
tremem diante da vicissitude,
mas... continuam, sem desistir dessa viagem,
dessa vida descomedida, desse disparate sem igual.
Desatino...
com quem não se importa com o desconforto,
e mesmo em desvantagem,
enfrentam a inclemência do tempo... e sua incerteza,
e intrépido encara... seus triunfos e fracassos,
e durante os combates... avigora a alma,
e deixa inabalável... os sonhos,
e suportam a escassez... com mais leveza.
De todas as loucuras que cometi,
de todas as insanidades que fiz,
a maior delas não foi só... esquecer de morrer,
foi invariavelmente encantar-me e aprender,
com a fina magia dos tropeços,
que os espíritos jovens... carregam vida a fora,
e que refletiu em mim... em todas as vezes que tropecei,
ensejando... levantar com mais solidez, e melhor,
revelando esse assombro,
nesse desafio... que é viver.

Ari Mota