domingo, 30 de maio de 2010

CONSTITUIÇÃO DOS POETAS



Em assembléia os poetas decretaram:

Art.1 – Todo o homem ou mulher doravante serão poetas:

Poderão amar em demasia, em todos os lugares, em todas as cores,
beijar todas as bocas, deitar em todas as camas.

Poderão declarar-se em todas as línguas, e passear de mãos dadas
em todas as praças, com quem quiser,
fundamental que apenas um ame o outro.

Poderão devanear pelas calçadas, embriagar-se de orvalho, 
e cantarolar pelas madrugadas,
e fazer juras de amor em noites geladas.

Poderão em serenata declarar seu amor eterno,
a quem precisar de carinho,
afeto, colo e afago.

Art.2 – Todo o homem ou mulher doravante poderão ser poetas e loucos:

Poderão... falar com as borboletas e ao som de Ravel dançar coladinho
a uma bailarina louca.

Poderão... sentar ao lado de Drummond em Copacabana, olhar o mar, 
e esperar Fernando Pessoa chegar.

Poderão... cantar com Vinicius de Moraes... todas as garotas, as de Ipanema, 
as da Av. Paulista ou as de qualquer lugar.

Art.3 – Todos poderão poetizar:

Terão apenas que falar de amor e amar.

Terão apenas que desvairar uma única vez, tudo em nome da paz,
da infinita paz que a alma procura.

Ari Mota

 

sexta-feira, 28 de maio de 2010

EQUILIBRISTA


Minha vida fora em metáfora...
um cabo de aço estendido como destino.
Quando fui arrancado do ventre e deram-me a vida
para caminhar,
e a frieza do cotidiano envolveu meu corpo
e abraçou minha alma, tive receio de continuar.
A incerteza dos passos fazia-me estremecer ao todo,
ao vento, ao medo.
Sozinho... meus passos irresolutos... hesitava no andar,
temia a queda,
em vertigem apropriava-se de desejos irresistíveis...
de desistir, voltar.
Mas, em minha frente... a vida atraia-me,
seduzia-me pela aventura,
pelo imprevisto destemido do acaso,
pelo inusitado, o desconhecido.
E meus passos foram acentuando, cadenciando ao novo,
ao inesperado.
Minha alma abraçou-se com as intempéries do existir,
os deslizes, os desencontros, a friagem do desprezo,
o desamor dos homens.
E assim o meu atravessar pela vida...
fez de mim um equilibrista,
caminho com a força dos meus sonhos,
com o amor que carrego na alma,
e o equilíbrio de compreender as diferenças,
e a certeza de ter que continuar.
E a vida, em metáfora... deu-me como destino,
um cabo de aço como caminho.
Sou um equilibrista atravessando a vida
por amor.

Ari Mota

quarta-feira, 26 de maio de 2010

ENCONTRAR



Quando a juventude refletia em meu rosto beleza,
e a vitalidade pulsava como um temporal em minhas vísceras,
e a força fazia morada em meus músculos,
e minha apresentação no palco da vida era na íntegra, por inteiro.
Minha concepção de solidão era outra, tinha um outro ângulo,
entendia que tinha que estar com pessoas, estar inserido em uma tribo,
e que não poderia transitar pelas ruas, pelos bailes da vida,
pelas calçadas... sozinho... sem ninguém.
Isto eu chamava de solidão...
E procurei abrigo em outros olhares, em outras almas.
Ao longo dos anos amenizei o convívio, criei relacionamento,
convivi harmoniosamente, mas... continuava só.
Foi quando o tempo invadiu os meus sonhos,
brincou com os meus cabelos, os deixou pálidos,
tatuou em minha face sua marca.
Hoje, o tempo reflete em meu rosto leveza,
e a vitalidade que pulsa visceralmente é a energia da minha alma,
e a força da vida, indelevelmente é o meu silencio.
Não fugi do palco da vida, apenas...
Recolhi-me... refugiei-me em mim mesmo.
Retirei-me de outros olhares, eu me vejo.
Abriguei-me... dentro de mim mesmo,
da minha alma.
E não é solidão...
apenas me encontrei.

Ari Mota

domingo, 23 de maio de 2010

UM NOVO OLHAR


Quando fores abordado pelo tédio, pela mesmice do cotidiano,
e achares que nada muda em sua vida.
É chegada a hora de confidenciar com sua alma, estes desvarios,
e ter um novo olhar para sua existência.
O transformar do seu existir, caberá a você fazê-lo.
Olhe para o passado e traga a pureza que se perdeu no tempo,
a esperança que escondida, reside na rudeza de um adulto,
mas ainda habita nos olhos de um menino.
Veja a vida de forma singela, a conceba sem impostura,
a viva sem hipocrisia, desmistifique a vaidade,
e não tenha a presunção de que és infeliz, coitado.
Olhe a vida como renovação, nada acabará... tudo continua.
Tenha um novo olhar para a sua existência,
dê uma forma nova ao seu dia, faça-o... como se fosse o último,
e sai como se fosse o primeiro de uma vida breve, de uma vida louca.
E cometa algumas loucuras...
Se não souber cantar, assobie... mas que a melodia possa trazer paz.
Se não souber dançar, pule... mas transpire quietação e simpatia.
Se... esqueceu como se ama, reaprenda com a inocência de uma criança.
Tenha um novo olhar sobre você mesmo,
o veja como um crescer... uma expansão,
tenha coragem de ser feliz...
aprimore o abraço, o afeto, o beijo.
Ame mais, declare mais, afague mais...
Arranque esta mascara colada a cara, sorria sem traços, sem cortes,
fale de amor, por amor, fale com os olhos... em silencio.
Olhe para a vida com um novo olhar,
um olhar de amor.

Ari Mota



sexta-feira, 21 de maio de 2010

TRILHAS


Quatro foram os caminhos que o destino apresentou-me
para que eu pudesse percorrer ao longo da minha vida.
Quando aqui cheguei deparei com longas estradas,
encruzilhadas, curvas sinuosas e pedras espalhadas pelo chão.
Houve dias em que quase desisti ao ver o horizonte
que nunca se aproximava.
Houve curvas e encruzilhadas que quase retirou-me
do foco e do rumo.
Houve pedras que quase impediram o meu caminhar.
Esta é a minha trilha terrestre, as venço todos os dias.
Mas, certa feita encontrei o mar e fiz dele também um caminho,
e encontrei nele os mesmos obstáculos,
ora revolto, e de ondas que me jogam de um lado ao outro,
sacode a minha existência, dificulta o meu navegar.
E esta trilha de águas... também as venço todas às vezes
que pelos mares saio a sonhar.
E olhando as águias em seus vôos solitários, encontrei ali
também um caminho.
Tentei voar, mas na descoberta as rajadas de vento ou a falta dele
não me permitiram decolar,
mesmo assim os tenho no meu imaginário.
Mas, o melhor dos caminhos,
a melhor trilha,
o melhor navegar,
o mais tranqüilo vôo... estou fazendo agora.
Descobri uma trilha, um caminho para dentro,
dentro da minha alma.
E este é o melhor dos caminhos,
encontro com minhas verdades, encontro comigo mesmo,
todos os dias.
Hoje a minha vida é uma viagem para dentro da minha própria alma.
Hoje eu me amo.

Ari Mota

quinta-feira, 20 de maio de 2010

APOSENTADORIA DE UM ANJO


Fazem três dias que em uma destas manhas ensolaradas,
percebi o debandar das borboletas azuis
que brincavam em minha volta.
De repente senta ao meu lado a dor,
que toma meu braço como companhia,
e se instala como se fora ficar para uma eternidade.
Um vazio se rompe alma adentro,
um desespero invade a existência de um pai que vê seu filho partir.
Partiu sem despedida, sem ter tempo de dizer adeus.
“meu irmão perde um filho para a Leucemia,
 mas o universo ganha um anjo.”
Menino ainda, já era pós graduado em amor.
Não teve tempo de odiar, nem de desdenhar o outro.
Não teve tempo de ser egoísta e nem manifestar o desamor.
Viveu plenamente feliz.
Passou entre nós como um meteoro,
deixando um rastro de carinho e afeto.
Eu... como não desisto, encarei com coragem a dor,
a transformei em alegria e esperança.
Descobri o porque da sua partida:
Ele fora convocado às pressas para substituir um anjo
que se aposentou.
Partiu por amor.

-Homenagem ao meu sobrinho Rafael Lacerda Mota, partiu dia 17/05/10,
 foi chamado para cumprir outras missões, em outros lugares... com amor.

Ari Mota

sábado, 15 de maio de 2010

A VONTADE DE SER ALGUÉM


Se tirarem de você o chão... faça dos braços asas,
dos pés uma alavanca... salte sobre o abismo do medo,
só assim saberá o sabor do salto, a vertigem da queda
ou a delicia do vôo.
Levante acampamento, quando sentir acuado pelas incertezas,
não será fuga, mas estratégia... não estarás correndo da luta,
mas preparando-se para ela.
Se tirarem de você a esperança... faça da alma um refugio,
do silencio uma doutrina... salte sobre o vazio do medo,
só assim conhecerá outros atalhos, viverás outros caminhos,
ou reinventará outros sonhos.
Isole-se vez por outra, caminhe só, conte estrelas,
não será solidão, mas um retiro... não estarás correndo da vida,
mas reestruturando a volta.
Se tirarem de você, coisas... faça do trabalho um recomeço,
da reconstrução um paradigma... salte sobre as lacunas do medo,
só assim reedificará seu espaço, definirá seus limites,
ou dimensionará sua força.
Se tirarem de você o brilho... a vontade que tens de ser alguém,
salte sobre o mundo, sobre você mesmo,
reinvente o seu existir,
faça uma nova trajetória,
uma nova reengenharia da alma,
redimensione seus amores, seus afetos,
redescubra novos sentimentos,
e ame em demasia a vida.
Aqui ela é única, e você precisa vive-la com
amor.

Ari Mota

quarta-feira, 12 de maio de 2010

DESCOBERTA


Não se esqueça de construir um muro imaginário em sua volta.
Instale nele guaritas de vigília, e peça a sua alma que fique de plantão.
Não permita invasores em seu espaço, nem posseiros em sua vontade.
Observe os que aproximam do seu querer, e impeça-os de fazer por você
o que tens e pode fazer para sim próprio.
Desestimule os afoitos que querem invadir sua liberdade,
e os psicopatas que querem viver sua vida.
Não abra sua fonte de informação a qualquer conselho, faça uma triagem,
pondere,
questione,
e tome você à decisão.
Que o bater de suas asas tenha somente sua força motriz,
e que seu rumo somente você os defina.
Que seus amores só você os ame.
Que seu Deus só você o encontre.
Não acredite, nos que querem invadir sua alma,
e direcionar seus desejos.
Desconfie dos mansos,
afaste-se dos que gritam
e acompanhe os que em silencio seguem seu próprio caminho.
Ausentes-se do mundo, das pessoas: sempre.
Encontre-se...
Verás o quanto é boa a sua companhia
e o quanto aprenderá consigo mesmo.
Descubra em ti o que procuras em outro.

Ari Mota

segunda-feira, 10 de maio de 2010

EMBRIAGAR-SE DE ALEGRIA


Vez por outra escuto minha alma murmurar,
reclamar,
fala sozinha, anda de um lado para o outro,
resmunga,
esmurra meu peito, faz avistar em meus olhos espanto,
e quase faz verter-se em gotas de choro o meu olhar.
Vez por outra a vejo correr até a esquina,
como se esperasse,
e logo em seguida volta vazia como foi,
solitária como é,
senta ao meu lado, toma meu corpo
e adormece nos meus braços.
São delírios de existências que insiste em ficar,
são vontades perdidas,
são vidas passadas querendo voltar,
são palavras inacabadas, amores interrompidos,
sonhos não vividos,
batalhas perdidas, viagens sem velas em alto mar.
Vez por outra a encontro encolhida num canto,
sozinha,
bebendo da solidão que a vida lhe deixou,
dos amores que teve, das canções que cantou,
dos filhos que não conheceu,
das bocas que não beijou.
Vez por outra saímos... embriagamos de alegria,
bebericamos gotas de orvalho,
cantamos ao luar,
dançamos coladinho a uma bailarina louca,
tendo como platéia um bando de borboletas azuis.
Porque apesar de tudo:
É preciso ter coragem para ser feliz.
E somos.

Ari Mota

sábado, 8 de maio de 2010

DESFILAR COM AMOR


Dia desses em conversa com o tempo...
E sentado no banco invisível dos meus sonhos.
Relembrei algumas décadas que vivi,
nas Gerais da minha adolescência.
Época de duvida, de procura, de afirmação,
era arredio com os que apontavam em mim, minhas fraquezas,
e distanciava dos que monitoravam minhas fragilidades,
e afastava dos que mapeavam meus medos,
e estimulavam minhas incertezas,
e corria dos que dimensionavam meu riso, e cerceavam meus vôos.
Quando em conversa com minha alma, nestas madrugadas de insônia,
eu e ela gargalhávamos dos caminhos que passávamos,
dos olhares que escondemos, dos amores que não declaramos,
dos amigos que não fizemos, dos beijos que não demos,
dos bailes que não dançamos, das musicas que não escutamos.
Dia desses em conversa com minha alma...
E sentado a beira da estrada da minha vida,
deixei escapar um sorriso impudico ao mundo,
apercebi do quanto o existir mudou o meu pensar... cresci.
Ergo o meu olhar para o infinito e desfilo com orgulho, com minhas
fraquezas.
Aproximo das pessoas sem permitir que invadam ou indagam das minhas
fragilidades.
Não permito a interferência nos meus medos e incertezas,
são sentimentos que os guardo na alma.
Rasgo-me de rir de todos, de tudo, até de mim mesmo.
E quanto aos meus vôos, os faço sem fronteira,
pulo nos abismos sem medo, salto nos devaneios particulares, sem duvida.
Enfrento os olhares sem culpa e a individualidade sem temor.
Desfilo só na multidão.
Com amor.

Ari Mota

quarta-feira, 5 de maio de 2010

CORPO E ALMA



Em 1955 ganhei um corpo,
meus pais o aqueceram e o mantiveram vivo,
alimentaram-no,
e com afeto fizeram-me o que sou.
As estações fluíram nos meus dias, o tempo passou.
E quando na adolescência deparei com o espelho,
achei que eu era aquele que estava do outro lado,
imaginei  beleza, ousadia, sonhos, destreza e força,
não pude ter a percepção do que estava por dentro,
e vivi presumindo que aquele corpo era eu.
E os invernos da vida congelaram o meu existir,
apossaram-se de mim alguns medos, alguns vazios,
algumas saudades, perdi alguns amores, deparei com a solidão.
Eu que tanto apreendi a me ver no espelho, e achar que aquele era eu,
depois de um tempo, quando os cabelos tornaram-se pálidos, escassos,
encontrei um outro ser habitando o meu corpo, fazendo ali sua morada.
Corri no espelho e não me encontrei...
Desesperado, ouvi vozes... vindo de dentro do peito,
serenamente, suavemente deparei com minha alma,
que não refletida no espelho, apresentou-se como sendo eu.
Desde então... neste corpo esconde uma alma,
já não me imagino como antes, com o esplendor da juventude. 
A beleza... não consegui mantê-la na face, a perpetuei nos meus olhos,
e tudo que vejo harmonizo com o necessário e o belo.
A ousadia, ficou na determinação e na resiliência em lutar até o fim.
O sonho... hoje ainda os tenho, mas o dimensiono de outros ângulos,
os vejo de diversos prismas.
A  destreza a transferi para dentro, construo lá esperança e felicidade.
E a força física... tenho perdido pelos caminhos,
mas o destino presenteia-me a força do amor.
Aprendi viver de corpo e alma.
Tenho amado mais a vida do que antes.

Ari Mota


terça-feira, 4 de maio de 2010

CELEBRAR O EXISTIR



Celebrar o existir ou embrutecer a alma,
serão sentimentos, escolhas... o seu caminhar,
e não haverá ordem de chegada, chegarão aleatoriamente,
não oferecerão preferência, nem tampouco permitirá antepor a duvida,
abruptamente transgredirão o acaso e pularão em sua frente,
não haverá tempo de percepção, e nem de esquivar-se deles.
Há dois momentos de estase em sua vida,
um dos quais... você poderá explodir, espalhar-se,
salpicar o mundo de amor, regar o existir de risos,
distribuir flores, amores, beijar sem medo,
declarar em arte seus talentos, e expressar em letras teus poemas.
O outro poderá implodir todos os dias, toda uma vida,
infamar a delicadeza, e banhar a convivência em lagrimas,
repartir o desprazer do encontro, e a repugnância do abraço,
expressar em gritos o seu desespero, e em gestos sua insensatez.
Celebrar o existir ou embrutecer a alma?
A vida de tão intensa, lhe permitirá a triagem.
Embrutecendo... praticarás a desinteligência,
dissimulará o afeto, e terás sempre o vazio, como acompanhante.
Celebrando a vida, estará alimentando a esperança,
promovendo a conjunção de almas,
e edificando um mundo melhor,
com mais amor.

Ari Mota

domingo, 2 de maio de 2010

QUANDO O AMOR CHEGAR


Se o acaso trouxer nestas madrugadas de insônia,
um vendaval a galope,
e esmurrar sua alma como se fora invadir sua intimidade,
e insistir de forma veemente a entrada, cuidado.
Antes, questione quem o chama, quem o quer,
estes vendavais trazem sentimentos espúrios,
e na sagacidade do encontro, partem deixando o inesperado,
arrombam sua alma, produzem vazios, alagam de lagrimas sua face,
produz indícios de comprometimento, inclina-se ao afeto
e vai embora.
Se o acaso apresentar-se como um vendaval e bater em sua porta,
isto é um disfarce, uma armadilha, não abra assim de súbito,
isto chama-se paixão,
cuidado... morre-se por ela.
Agora...
quando o silencio lhe fizer companhia,
e uma suave brisa, esbarrar em sua pele,
e tocar suavemente em sua alma,
como se fora uma beleza impar, e embriagar seus olhos,
envolver seu corpo em desejos, e lhe furtar um doce beijo,
isto é amor.
Pode durar uma vida,
uma eternidade,
não precisa ter cuidados... vive-se de amor.
Quando um vendaval entrar alma adentro, pode ser paixão,
ela covardemente pode não ter a mesma intenção que a sua,
e em uma tarde cinzenta pode partir sem dizer adeus.
Quando uma brisa suavemente acomodar-se dentro de sua alma,
e na inocência e na pureza lhe ofertar carinho,
ofertar o colo como refugio, o peito como abrigo,
e docemente olhar para você com ternura,
pode ser o amor,
e quando ele der entrada na sua alma,
serenamente,
ame-o também.

Ari Mota