segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

APROXIME MAIS DE VOCÊ

Precisamos... mesmo, é não ter nenhum paradigma,
e partir para cima da vida... viver,
ter a coragem de dizer: esse sou eu...
- Bem vindo a minha loucura,
só posso compartilhar o meu silêncio,
a grandeza da minha pequenez,
o que eu tinha de selvagem... e virou brandura.

E compreender... que existir é uma absoluta doidice,
uma efêmera extravagância,
uma excêntrica viagem,
e que num dado momento tudo passa a ser paradoxal,
esquecemos de viver nossos instantes,
para gerirmos nossos vazios, nossa solidão,
e às vezes vitimamos em demasia,
e passamos a vagar como um ser espectral.

Existir... é mais que isso.
É cercar-se de gente feliz, profunda,
é contornar as vicissitudes como um menino,
amar reinícios, celebrar recomeços,
tomar de assalto o controle da própria alma,
não permitir que ofusquem o fulgor dos olhos,
nem a indescritível beleza que carregamos por dentro.
- É... não estar nem aí com os tropeços.

Que não fiquemos refém do princípio,
como se não houvesse fim,
e pudéssemos levar alguma coisa,
essas quinquilharias que se junta em vida.
Não podemos esquecer que só é possível levar leveza,
as sutilezas conquistadas, os afetos distribuídos,
os sonhos compartilhados, os desafios vividos,
e a doçura da cama repartida.

Temos que observar os sinais do caminho,
e distanciar de tudo que não nos complete,
de tudo que não nos dê arrepio, estremeça a alma,
de tudo que nos provoque dor,
e manter esse infinito capricho... que é ser feliz,
e resistir esse coisificar da vida,
aproximando mais de si mesmo,
reedificando a alma e reeditando o amor.

Ari Mota


terça-feira, 26 de novembro de 2019

O BATER DAS ASAS

Que possamos observar os pássaros,
espelhar em todos os seus voos,
eles sabem que antes... do bater das asas,
é necessário se jogar,
lançar-se no vazio, sem medo,
e só depois abrir as asas e voar.

E existir é isso,
temos que arremessarmo-nos,
e como nossa essência é outra,
nosso voo só pode ser para o interior,
atirar-se para dentro de si mesmo,
sem saber aonde ir e com todo o destemor.

Mas, que nesse voo...
consigamos reconhecer nossos fantasmas,
atravessar nossos desertos,
e lidar melhor com a nossa solidão,
só assim desnudaremos nossas incertezas,
nossa infinita mansidão.

E que nesse imergir,
interpenetrem em nossas almas... luz e lucidez,
e que tudo isso... sejam nossos excessos,
e possamos realmente nos encontrar,
quem não se joga... não se acha,
não consegue encontrar ninguém para amar.

Que tenhamos coragem de nos olhar,
e mensurar nossa pequenez,
o quanto ainda temos para desembrutecer,
o quanto nos falta de leveza, de candura,
dos resquícios de desespero que ainda nutrimos,
e da ausência de sentimentos e ternura.

Que antes de bater as asas,
saibamos nos jogar por inteiro... para a vida,
e jamais sejamos um quase, um talvez,
que tudo seja intenso, tenha inteireza,
e que tudo acabe em pleno voo,
existir basta se jogar, sem nenhuma certeza.

Se jogar... é estar em sincronismo com a dúvida,
é não desistir,
que tudo isso... seja puro e ousado,
que não tenhamos medo do medo, nem da dor,
que a ousadia nos provoque,
e nunca nos faça ignorar o amor.

ARI MOTA



domingo, 27 de outubro de 2019

AS PALAVRAS

As palavras às vezes me fogem...
perdem-se na imensidão do que sinto,
apequena-se diante dos gritos que silencia,
e fico ali... meio que a deriva,
não sabendo o que fazer com a tela vazia.

Escrever o quê, e para quem...
e aí, recordo que comecei escrevendo para mim,
e foi quando pactuei com a minha solidão,
e olha, já dançamos juntos em noites de desespero,
e hoje, não sofremos mais de lonjura, nem de aflição.

Vim, preenchendo esse vão que residia na alma,
como não sei mensurar a grandeza de dentro,
esmero-me em nutri-la de ousadia a todo o momento,
e quanto mais volátil, mas me descubro... acho-me,
amo, este que me tornei, e este é meu alento.

As palavras às vezes me fogem...
escondem na infinita dúvida do existir,
emudeço... só falo com os olhos, sou contemplação,
toda a minha transcendência se voltou para o interior,
é ali, que guardo toda a minha emoção.

E o que sinto é maior que todas as palavras,
declaro-me em silêncio, ninguém ouve minha voz,
fiquei isento de qualquer discurso, de qualquer poesia,
os meus humanos favoritos são tão poucos, que me assusta,
- uma bailarina louca e duas borboletas... que honraria.

As palavras às vezes me escapam...
mas, hoje envelhecido não necessito tanto delas,
cuido mais da minha quietude,
quando verbalizo, enalteço... falo de resiliência,
e espelho a minha atitude.

As palavras às vezes não se aproximam...
e às vezes penso não mais escrever,
principalmente, nesta tela fria de computador,
mas aí, deparo com os meus amores,
e vejo que não bastam as estrelas,
para escrever e falar de amor.

Ari Mota


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

SÓ ANDE COM QUEM TE REINICIE

Vez em quando...
Convém pôr a alma no seu estado primitivo,
reiniciá-la.
Imprescindível é, reabastecê-la de outros paradigmas,
de outros atalhos, de outras audácias,
repovoá-la.

Como tudo é fugaz...
Ela pode se esgotar, sem se perceber,
esvaziar-se, ficar sem emoção.
Perder a leveza, o lúdico, a singeleza,
a infinita vontade de ser feliz,
murchar em noites de solidão.

Vez em quando...
E quase sempre, refugie-se dentro de si mesmo,
é o melhor lugar para existir.
E ali, plante flores, delicadeza, e seus amores,
escolha para quem escancarar a porta, a alma,
e não permita o sonho exaurir.

Mas, se de tudo...
Inda, ficar vazios incomensuráveis,
aí, não terá outra saída.
Reinstale aquele resto de loucura, de fé, de doçura,
entrelace em outro corpo, em outra perspectiva,
redesenhe o caminho, a vida.

E, melhor mesmo...
É criar a sua própria energia,
ter o seu brilho, dar chama a sua luz.
Estamos interligados na mesma ilusão,
dissemine em partículas, toda a sua verdade,
saiba, tudo que aqui fizer se reproduz.

Mas, em tudo...
Convém mesmo, é reinstalar o amor,
e perder-se nos versos de uma poesia.
Andar mais com você, aqui, ou nas estrelas,
e em silêncio seguir se reinventando,
e se perder, somente com quem te reinicia.

Ari Mota


sábado, 24 de agosto de 2019

AJUSTADOR DE VELAME

Sei que o tempo me escapa,
não consigo fazê-lo parar.
Trata-me com desdém,
foge como quem não quer companhia,
e com sutileza nos rouba a juventude,
e em quietude encarquilha a pele,
desbota o cabelo, endurece o andar,
e não tem o hábito de esperar ninguém.

Sei que o tempo mais parece uma ventania,
quando penso nele, ele já passou,
já tentei descobrir a direção dos ventos,
mas, só encontrei em meu caminho...velas entreabertas,
como se as descobertas só dependessem de mim.
E assim, passei a reescrever o meu existir,
viver sem deixar pedaços,
passei ser a soma do que sou,
desmedindo todos os meus atrevimentos.

Sei que o tempo me escapa,
e fui aprendendo ludibriar a sua impetuosidade,
caminho sinuosamente até contra o vento,
só para esbanjar vida antes que ela silencie,
e me distancie da dinâmica que é florescer,
amar em demasia.
E assim, me afasto do desespero, sou harmonia,
e em vez de pedir... só faço por agradecer.

Sei que o tempo me escapa,
mas ando manuseando minhas velas com maestria,
sou aprendiz de ajustador de velame,
ando sabendo aonde chegar,
só aporto nos braços de quem me ame,
escolho o que colocar na alma, com toda a magia,
virei silencio, calmaria,
ajustei minhas velas para poder voltar.

Sei que o tempo se esvai,
e não estou nem aí, o deixo ir,
sei que ele irá além de mim.
Já ajustei as minhas velas,
para elas, levar-me onde estão os meus amores,
esses primores da minha existência,
esses que amenizam a minha solidão,
e que estarão comigo até depois de partir,
não permitido que eu jamais tenha um fim.

Ari Mota


terça-feira, 23 de julho de 2019

EXAGERE

Exagere...
Ouse exagerar vez em quando,
e sem sofreguidão,
só exagera... quem deixa de olhar para fora,
e passa a se encontrar na parte de dentro,
faça tudo com mais intensidade, mais alento,
podes até dançar sozinho em noites de solidão,
só não pode deixar de se atrever,
antes de ir embora.

Não esqueça... tudo é fugaz como uma ventania,
talvez não tenha tempo de viver todos os sonhos,
e ser tão racional.
Não queira concretizar todas as obras,
calçar todas as ruas, beijar todas as bocas,
talvez, seja exígua a sua passagem por aqui,
e tudo será tão somente um escasso temporal,
e o pouco que fizer, terá que o fazer com ousadia.

Exagere...
Mude de perspectiva... busque outro ângulo,
descortine a sua resiliência, insista mais um tanto,
faça o silencio te tocar por dentro com esplendor,
procure atravessar os seus desertos,
desapareça para dentro de si mesmo,
e preencha todos os seus vazios,
e entre a fúria e o desespero... fuja com o seu encanto,
enlouqueça mais... desvaire mais... de amor.

Exagere... e se despertares,
e uma sensação estranha apossar da alma,
e sentires como se hoje fora o seu último dia,
e perceberes indo... sem despedir,
não... não se deixe enganar pela dúvida,
somos acometidos com esses deslizes do existir,
são os sinais, vindo do interior,
agarre-se no talvez, e talvez não seja o dia de ir,
não antecipe a dor,
inda será possível se reinventar,
e dará tempo de... exagerar.
E exagere... na emoção,
no sentimento, na suavidade do olhar,
na contemplação:
- exagere ao amar.

Ari Mota


segunda-feira, 24 de junho de 2019

HOJE...É TODA A MINHA VIDA

Se... de repente,
o passado te importunar,
e o futuro lhe colocar medo,
não tem outra saída,
e nem nenhum outro segredo,
você não veio para ficar:
Hoje... é toda a sua vida.

Se... de repente,
respingos de desespero cair na sua alma,
silencie, ore... procure só carregar leveza,
atreva a manter uma postura destemida,
lapide o tosco, o faça delicadeza,
reinvente-se em todas as manhãs, com calma:
Hoje... é toda a sua vida.

Se... de repente,
você se ver distanciando, indo,
só retire o peso, as coisas... leve só sentimentos,
tenha uma atitude mais atrevida,
não corra atrás do tempo, tudo são... só momentos,
e nunca esqueça... você estará sempre partindo:
Hoje... é toda a sua vida.

Se... de repente,
a solidão sentar ao seu lado, querendo ficar,
abrace-a ternamente, afague-a em cortesia,
e sutilmente peça a sua saída,
e abra a alma pra novos amores, em magia,
e nunca mais ande com quem não sabe amar:
Hoje... é toda a sua vida.

Se... de repente,
a vida lhe exigir mais intensidade, grandeza,
exagere...
e que a loucura e a lucidez tenham acolhida,
sejam vividas na plenitude, na inteireza,
e que sua luz se reverbere:
Hoje... é toda a sua vida.

Se... de repente,
um vazio roubar-lhe, a liberdade interior,
que isso não seja o caminho do fim,
que seja apenas uma ilusão descabida.
Mude... e diga: tudo que preciso está dentro de mim,
só vou consumir o outro, se for por amor,
hoje... é toda a minha vida.

Ari Mota



domingo, 26 de maio de 2019

VOZES

Silencie...
Para ouvir essas vozes que brotam de dentro,
talvez, esteja ali o nosso segredo,
elas reverberam nossas comoções aflitivas,
nossas impaciências.
nosso medo.

Calma... essa pressa, 
essa fugacidade em entesourar-se,
talvez, nos fragilize mais, nos apequene mais,
o sonho não pode resumir-se no “ter”,
ele é apenas uma emoção que edifica o “ser”
uma referência, um cais.

Silencie...
Essas vozes estão gritando aí na alma,
talvez, estejam falando de amor, revelando ternura.
Tenhas mais leveza, enlouqueça de vez em quando,
faça a doidice ruir essa ânsia por si só,
releve os descorteses... com mais brandura.

Calma... essa pressa,
essa celeridade pode não levá-lo a lugar nenhum,
talvez, você se encontre dentro de você mesmo,
e em vez de desertos, encontre sua melhor companhia,
em um recanto aprazível, inimaginável,
e não será necessário sair por aí... a esmo.

Silencie...
Resista dessa fúria coletiva, de vencer sempre,
é nas derrotas que somos provocados a nunca desistir,
são lenitivos, nos fazem recuar... para depois fazer melhor,
reerguemos aí, repaginamos a alma neste momento,
e em resiliência iniciamos a nos reconstruir.

Silencie... para ouvir as vozes que vem da alma,
e quando chegar o último instante,
aquele exato momento de despedir de tudo,
de deixar todas as coisas,
possa descobrir...
“que espetáculo o que fiz”,
e olhar para dentro, e dizer:
- fui feliz.

Ari Mota


sábado, 27 de abril de 2019

REUMANIZAR A ALMA

Que de tudo...
e depois das vicissitudes,
ainda queira que reste... calmaria.
E daqueles momentos que quase desistiu,
sobeje toda a coragem que teve em continuar,
com toda a sua ousadia.
Que aquele instante que quase abandonou o remo,
rasgou as velas,
e perdeu o rumo e a orientação,
tenha sido o mais intenso de sua existência,
a exata ocasião que a alma avolumou-se,
e lhe fez o que é,
um ser em transformação.

Que de tudo...
e de todas as coisas que viveu,
permaneça ainda...  esse seu capricho em superar.
E doravante consiga só ter momentos contemplativos,
e acalme visceralmente o que carregas por dentro,
realçando a sua infinita capacidade de reumanizar,
e continue florescendo como a flor de lótus,
que emerge do lodo e lama com toda a sua ternura,
e se renova a cada por do sol,
se reinventando em todos os amanheceres,
para viver a fugacidade de mais um dia,
sempre com a perspectiva de se ressurgir,
de se apresentar com brandura.

E que tudo...
tenha a sua indelével marca,
o seu ritualismo, a sua absoluta destimidez.
Que fique registrado nas estrelas,
as vezes que enfrentou as adversidades,
a escuridão,
e floresceu com mais lucidez.
Das vezes que abandonou a rudeza externa,
e propiciou na alma um lugar de pureza.
Das vezes que...
tentou até florir no deserto:
Só pelo prazer de tentar,
sem nenhuma ilusão.

E, se um dia alguém...
descobrir a sua beleza, a sua graça e elegância,
e seu destemor,
saia em silêncio... rindo.
E, lá no fundo...
Saiba que foi por reumanizar a si mesmo,
- que na alma brotou... amor.

Ari Mota




sábado, 23 de março de 2019

MERGULHE

Na dúvida...
Mergulhe na vastidão de si mesmo.
Se não encontrar um abrigo,
que o perigo seja sua companhia.
Se não encontrar lucidez,
que a aridez da estrada não o impeça de ir.
Se a solidão lhe alcançar pelo caminho,
mesmo sozinho contemple as estrelas,
e a grandeza de dentro, essa incomensurável.
Vasculhe cada canto a procura de encanto,
e irá deparar com um horizonte intocável.

Na dúvida...
Mergulhe na imensidão do seu próprio silencio.
Se não encontrar uma sinfonia,
que sua melodia fale de amor.
Se não encontrar um abraço,
que o seu descompasso não vire sofreguidão.
Ria mais, enlouqueça mais,
dance a beira de um abismo com a sua doidice,
com essa loucura desmedida, escondida no peito.
Sonhe em demasia, e que tudo vire alegria,
faça tudo do seu jeito.

Na dúvida...
Mergulhe alma adentro.
Se não encontrar leveza,
que depare com a dureza que foi chegar até aqui.
Se não encontrar calmaria,
siga o seu destino, espalhe sua magia.
De plano... que não tenhas planos, a não ser... ser feliz.
Vá fundo... preencha de sonhos todos os seus vazios,
é só mergulhando  para dentro que se reinicia.
Desperte esses medos adormecidos, esquecidos,
seja símbolo de determinação para si mesmo, sem ironia.

Não tenha dúvida... acredites,
mergulhe... é só no âmago da alma,
e visceralmente
que irá provocar o seus limites.

Ari Mota



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O RESTO

O que vai durar pelo menos até o final da vida,
será a sua coragem de vivê-la,
- o resto...
Escorrerá como enxurrada em noites de temporal,
irá evaporar como gotas de orvalho ao sol,
e ficará na memória, talvez só por uma estação,
e com o tempo, este brilho da alma pode ofuscar,
em tal caso, atreva-se, mude, procure renascer todos os dias,
do que morrer todas as noites,
faça do seu existir um assombro, uma obra colossal,
a não ser que queira, que tudo vire solidão.

O que vai durar pelo menos até o final dos dias,
será a sutileza dos seus sonhos,
- o resto...
Esvaecerá como vela acessa ao meio de uma ventania,
e tudo irá desbotar... provocar vazios existenciais,
deixe ir o que não pode ficar,
nem residir dentro do peito, instalar dentro da alma,
encare tudo isso, e que tudo seja apenas... perdas necessárias,
foram as inutilidades que encontrou pelas estradas,
priorize o seu sonho, defenda a sua rebeldia,
a sua doce mania de se aventurar.

O que vai durar pelo menos até depois do horizonte,
será a sua resiliência... em se reconstruir,
- o resto...
Escapará dos seus caprichos, do seu desvelo,
e se errar o caminho... volte, comece tudo outra vez,
esteja pronto para essas imensas tormentas do existir,
só não carregues mais... miudezas,
se tiver que levar algo... que caiba na alma,
e tenha a leveza de um olhar,
e ao se ver no espelho, seja de si mesmo... o modelo,
antes de tudo terminar e ter que partir.

Em quanto isso... viva intensamente,
tenha todas as emoções.
Ouça com ternura uma melodia,
com sutileza uma poesia.
Contemple mais... assista as estrelas,
silencie mais... ame-se mais...
ande mais devagar,
deleite-se com o aroma da flor,
o murmúrio do rio, o uivo do vento,
essas coisas que existem,
e ninguém sabe mais encontrar.
E de resto... que o resto seja...  amor.

Ari Mota



quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

DESENCANTAR

O amor...
Tem que chegar sem bater,
tem que ser uma emoção que se renova,
um comover que estremeça a alma,
um ficar sem querer.

Não queira atravessar a vida...
Sem essa energia, essa que arde... sem queimar,
essa tangível dentro de um abraço, essa implícita no olhar,
essa que celebra o seu florir,
essa que em noites de solidão aninha ao seu lado,
e te aquece... e faz acalmar.

Não queira cruzar com si mesma,
na vastidão do destino e nada... encontrar.
Escolha para o seu íntimo, quem aceita as suas escolhas,
aplaude a sua doçura e delicadeza,
quem te ame com encanto e leveza,
e faz tudo ser uma descomprometida magia,
um feitiço que se apavora, dê arrepio,
mas, que dance com a sua loucura,
em noites de desespero,
e transforme tudo em encantamento, e beleza.

Distancie de quem ama o vil das coisas,
esses que quanto mais tem... estão mais vazios,
esses que já não mais cabe na sua poesia,
esses que não sentem o exalar do seu perfume,
nem pactua com a delícia dos seus sonhos,
nem da pureza da sua ousadia.
Esses que te apequena,
querem despertar o seu desencanto,
roubar-lhe a harmonia, a sua quietação,
essa alma serena,
e o mais lindo de todos os sentimentos:
- gratidão.

Não queira atravessar a vida,
com a frieza de uma companhia.
Tem que ter alguém para encadear, provocar suspiros.
E se perceberes que essa chama não mais arde,
nem mais queima, nem brilha com grande fulgor,
e nem é intemporal,
vá em busca de outro abraço,
de outro beijo, de outra cama,
tudo não passou de  um encontro ocasional,
não foi amor.
Vai...  bater asas... encantar...
Haverá muito ainda para atrever-se,
e  amar.

ARI MOTA