domingo, 29 de abril de 2012

ALMAS LIVRES


Existir é assim... um dia você descobre...
que é preciso desatar os nós, despregar os medos,
romper os rótulos, rebentar os lacres, alterar as formulas,
e livre... redescobrir os vôos, e enfrentar os ventos.
Ser livre é mais que uma ousadia...
é mais que um transformar, é mais que um redescobrir-se,
ser livre é uma imersão em si mesmo,
é libertar todas as almas... em encantamentos.
E livre mesmo... fiquei, quando desavistei os outros,
os deixei seguir em silêncio e sozinhos.
Livre mesmo... foi quando os perdi de vista,
os deixei com suas escolhas, dobrando as esquinas do destino,
descobrindo seus caminhos.
Livre mesmo... fiquei quando o meu foco... foi para dentro,
passei a olhar para mim,
e desapeguei-me... do que não era meu.
Livre mesmo... foi quando passei a sorrir,
sem precisar olhar no espelho, e dizer que estava feliz.
Livre... foi quando descobri que embora não tendo nada,
tinha todos os sonhos do mundo.
Livre mesmo... foi quando virei silêncio,
e manso passei a olhar sem culpa, e ver sem condenar.
Hoje... envelhecido, sou todo livre...
E a todos e a mim mesmo:
Prontifico-me nas decolagens, e abraço forte nas aterrissagens.
Existir... viver, não passa de um risco, de um talvez,
aprendi não aprisionar ninguém, que queira em vôo livre...
levantar.
Somente consegui libertar minha própria alma,
quando as outras... também as deixei livres,
para amar.
Livre mesmo... fiquei quando, com todo o destemor,
olhei para todas as almas, sem repreendê-las, e com afago,
e de todos os sentimentos... só de um fiquei refém:
o amor.

Ari Mota

domingo, 22 de abril de 2012

O AMANHÃ


Um dia... e faz tempo.
Olhei pela janela do meu horizonte,
a procura do meu amanhã, das minhas perspectivas,
e atemorizei-me com a dúvida, com as incertezas banais.
Quase desisti dos combates, quase voltei para os braços do medo,
quase fiquei parado nas curvas do tempo,
esperando o passar dos temporais.
Um dia... e faz tempo.
Desconfiei da existência do meu amanhã,
do tempo que haveria de vir, do resto do meu existir.
Intentei conjecturar a sua face, incorporar o seu conteúdo,
e desapontei-me com o vazio do olhar, e nada encontrei.
Por um triz não me aprofundei na solidão,
e por pouco menos, quase fui ao desespero,
e por muito perto, quase no abandono de mim mesmo, não amei.
Mas... resiliente... e sem a certeza do amanhã,
passei a esculpi-lo dentro da minha alma,
e fazê-lo existir... antes de acontecer.
E assim... é o meu amanhã, ele é hoje, sem demora.
Amo, mesmo antes do alvorecer,
abraço... afago... acarinho, antes de ir embora.
Não quero um dia, desdizer: eu devia.
Nem tão pouco, descobrir que tudo foi muito pouco,
e que faltou fazer mais.
E depois, no lamento e na culpa,
descobrir que o amanhã é apenas uma suposição,
angustias existenciais.
Um dia... e faz tempo.
Tive que esculpir aqui dentro... o amanhã,
como sou um ser inacabado, alma destemida,
nada mais, temo.
Nem passado, nem futuro,
hoje... é toda a minha vida.

Ari Mota

sábado, 14 de abril de 2012

CONSTRUINDO O PRÓPRIO TEMPLO


Já andei me procurando...
Vasculhando os templos, os monastérios.
Buscava uma coisa maior que eu,
maior que os meus mistérios,
e por vezes, procurei... nos outros, as minhas verdades,
e a ausência de perspectiva que eu inventei estar aqui dentro.
Assevero... fiquei a deriva... por muito tempo,
confuso, e refém destes vendedores de fé, mercadores de inocência,
estes, que aprisionam o sonho, e não permitem os porquês.
Espantei com a vileza das ações, com a vastidão dos enganos,
atemorizei com a avidez dos lucros, e com o arrancar da lucidez.
Depois, assustei com o extorquir da candura, com a falta de censura,
e com os templos cheios... de doentes de alma, vazios... em solidão.
Enojei-me de todos eles... E na descoberta...
Vi... que não me foi necessário formatar meu caráter em nenhum deles,
cresci livre.
E desde então... iniciei uma obra sem fim,
construo em calmaria... um templo dentro de mim:
Sem dogmas, sem as duvidas, sem as malditas cercas.
Fiz da minha alma, a primeira a ser amada, me amo... assim.
Sou leveza, sou silencio...
Transcendo os meus medos, as minhas angustias... a minha aflição.
Hoje... sou menos desespero, sou mais contemplação.
Já busquei uma coisa maior que eu, maior que o meu existir.
E sem intermediários, contatei... o arquiteto de tudo isso,
e ele chegou suave, como brisa em noites de luar.
Apresentou-se, sem nome... sem religião.
Abri a minha alma como se fosse um templo,
e calmamente ele instalou-se ali, em quietude.
Eu o olho sem medo, e ele a mim, sem nada a cobrar.
Às vezes me oferece colo, compreensão,
outras vezes, sou eu... como nada tenho,
ofereço... a minha admiração.
Já andei me procurando... hoje sou um construtor,
tracei o caminho, norteei o horizonte,
edifico na alma o ‘meu templo’
com amor.

Ari Mota

quinta-feira, 5 de abril de 2012

COISAS DO CORAÇÃO... DA ALMA.


Antes achei que era... coisas do coração,
e fui colocando nele... a sua ausência, o inundei de vazios,
e inventei que você tinha renunciado a mim,
e que entre nós, nascera um deserto em desespero,
e que estava sozinho.
E depois, que você tinha passado como um temporal, uma ventania,
um caso descomprometido, um encanto em desalinho.
Cheguei a achar... que você era um disfarce, um engano,
um capricho do existir... uma fantasia.
Tentei mensurar o tempo da sua ausência,
e descobri que na verdade, você nunca me deixou,
nunca foi embora,
mergulhou através da corrente sanguínea, sem demora.
E certeza foi... espalhou para dentro,
ficou maior que o meu coração,
transfigurou-se na minha alma, passou a ser eu,
em transformação.
E hoje vive aqui dentro do meu peito,
e eu que sou meio que sem jeito,
demoro a te achar.
Vive as escondidas, outras vezes irrompe atrevida,
outras... silenciosa, teimosa... finge que não me vê,
não me abraça, foge dos meus beijos, muda o olhar.
Mas... o que eu quero... é você aqui dentro...
pode fazer barulho, gritar em destempero,
emburrada... franzir a face, cingir os lábios,
e me abandonar um segundo inteiro.
Depois... como uma bailarina louca,
sapatear em noites de solidão... com toda a emoção,
e em desejos sussurrar... que me ama,
depois, quieta adormecer de cansaço,
no meu abraço,
sem ir embora... que fique agora
e para sempre.
São temporais, são ventanias... mas tudo passa,
tudo acalma.
O que há entre nós... são coisas do coração,
são coisas da alma.
Eu te amo.

Ari Mota