domingo, 31 de julho de 2011

O DIREITO DE ERRAR


Confesso errei em demasia... provei muitos desacertos,
enganei-me em diversas encruzilhadas, me perdi em diversas estradas.
Quase fui vencido pelo abandono dos sonhos, quase desisti de mim.
Mas, todos os erros estavam revestidos de inocência,
e eu na verdade...  só procurava os acertos.
Houve um tempo, que não compreendia os meus erros,
em fúria... tive uns ataques de loucura,
andei desdenhando o meu próprio andar,
não suportava o desencontro, o desassossego... a desventura.
Por vezes, inventei... redesenhar os meus vôos e vivê-los sem fim,
saltei algumas vezes em desespero, em busca de respostas,
desconhecia o meu direito de errar.
Tentei até uma nova reengenharia para o meu caminho,
o que eu queria era delinear uma nova trajetória, e voltava sempre sozinho.
Nada suavizou as quedas, continuei destilando os meus sacrifícios.
Um dia despertei assustado, minha alma em solavancos, gritava,
mas, como tudo passa... até o meu desalento virou calmaria,
resiliente, assumi os imprevistos do meu existir, entendi toda a agonia.
E cai-se muitas vezes, levantam outras tantas, são as tentativas do viver.
Também pudera, a vida é acometida de ensaios... não conseguia entender.
Só depois de envelhecido que percebi o quanto ensaiei, caí e levantei.
Fiz dos meus erros, alicerces, fundamento... fui me construindo,
passei a ser eu, a conceber tudo como crescimento,
hoje venho edificando o meu equilíbrio, o meu rumo,
ando aperfeiçoando os meus gestos, os meus saltos,
falo com candura, olho com brandura,
mudo as palavras, dito-as de forma amena, sem mudar o sentido,
não agrido, nem firo, nem ofendo os que erram como eu,
sustento a calma.
Errar... legitima o risco e enaltece a alma.

Ari Mota

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OS NÃOS DO MEU CAMINHO


Quando deparei com o mundo,
inda escondido nas Minas Gerais dos meus sonhos.
Confesso, a timidez fazia-me companhia,
assustei com o tamanho do caminho, com a longa estrada.
Acanhado, muitas vezes escondia... temia expor a natureza da minha alma,
corri dos convívios, quase fiquei insocial, em agonia.
Carregava espanto nos olhos, desespero no riso,
mas pudera, eu era diferente, atrevido... já fazia as minhas escolhas.
Nunca aceitei o segregar social... sempre fui livre no que verbalizo.
Visível foi... que tudo aconteceu com mais rigidez,
mas, quando o destino despejou em mim os nãos do existir,
achei que não suportaria o peso, quase fui à queda... superei em solidez.
Queriam imprimir a negativa do vôo, e cercear minhas vontades,
vi que todos vigiavam a todos, para que ninguém sobressaísse dos demais,
como sempre tive um olhar para dentro, e de mim mesmo,
sobrevivi aos vendavais.
E assim assisti que tudo não era permitido, fui bombardeado pelo proibido,
recebi tantos nãos, que um dia resolvi conhecer o inusitado,
era essencial que sonhasse, soubesse o barulho do tombo.
Até que um dia encontrei uma única asa caída ao chão,
tomei distancia para o salto, e fui... mesmo ouvindo o não,
de tudo, algumas coisas ficaram: ousadia e solidão,
depois... bem depois dos combates... sobrevivi e aprendi:
Que... para os pessimistas o não é um destino,
para os otimistas o não é um sim.
Mais, para os que transcendem o medo do não,
tudo é puro estímulo, desafio.
A vida é uma provocação.
Fui viver...

Ari Mota

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ALÉM DAS ESTRELAS


Quando o fulgor da inocência brincava com os meus sonhos,
eu já dispunha de um olhar para as estrelas,
minha ingenuidade já indagava quem as acendia em noites de luar.
Perplexo sentia o sopro do conhecer, ávido queria saber,
e tive que abandonar as mentiras, o ceticismo que queriam me sujeitar.
Vivi espiando o infinito, andei a procura dos segredos celestiais.
E assim cresci olhando para os céus... em observações,
memorizei alguns nomes, sei... até onde ficam as constelações.
Mas... tudo era pouco, e eu necessitava de muito mais.
O universo é uma grande morada, viagens astrais,
eu que sempre acreditei na raça humana,
não poderia desdenhar outras raças celestiais.
Sei que lá estão, ou que podem até estar chegando,
vivem ali depois do firmamento... e é conceitual,
não são delírios, nem tão pouco devaneios de criança,
creio na sua existência, embora saiba da sua distância.
Apaixonei-me pelas estrelas, e pelo que tem depois,
como não fui navegador para tê-las como referência,
nem astrônomo para estudá-las, tê-las como ciência,
virei aprendiz de poeta... e nelas fui passear,
em espanto e na descoberta, vi que não estamos sozinhos,
pretensão se estivesse...
Hoje e depois de tudo, já tomado de lucidez envelhecida,
falo de moradas além das estrelas, de raças que desconheço,
sou princípio, espaço paralelo, partículas de ousadia, começo.
Quando faço vigília no universo sei que já partiram,
não... não estão atrás de nossa tecnologia, nem de nossa riqueza material,
nesta área somos até primitivos,
buscam outros valores... que ficaram esquecidos,
eles tornaram-se autômatos, esvaziaram a alma, mecanizaram a emoção,
esqueceram a essência do afeto, a graça do riso,
a sutileza do olhar, o embriagante perfume da flor.
Outras raças... além das estrelas estão chegando,
querem embriagar-se de todos os nossos sentimentos,
estão vindos em busca de algo, que lá... já extinguiu,
e que ainda, aqui... em ruína, encontram:
Amor.

Ari Mota

domingo, 17 de julho de 2011

A ÚLTIMA PRECE

Eu que no princípio e por vezes, e em súplica... em prece, pedia ajuda,
eu que alterei tanto que até a alma quase soçobrou desnuda,
eu que me agarrei ao destino, e nele acreditei,
e não tive outra maneira... nem bruta, nem amena,
de viver as experiências que passei,
e as vivi intensamente... óbvio que teve e foram noites de agonia.
Mas, tudo teve seu curso, fluiu aos solavancos,
sobrevivi as prolongadas tempestades em busca de calmaria.
Com o decorrer do tempo tive que sintetizar a minha vida,
podei as intemperanças que rondavam os meus caprichos,
abreviei... os discursos que falavam de enganos,
recopilei as minhas verdades e redefini os meus planos.
Fiquei seletivo, aperfeiçoei-me nas escolhas,
encurtei os desesperos, restringi os medos, conjecturei os riscos,
condensei na alma o meu grito, sem perder a voz no que acredito.
Eu que assustava com o imprevisto, passei a aturar os combates,
suportar a exaustão do caminho, e a desilusão dos debates.
Eu que no princípio e por vezes achei que era só pedir, implorar.
Abandonei a espera... a fatigante condição de vítima,
coloquei na estrada a minha ousadia, e saí... meio que sem destino.
Evidente que fui ao chão... varias vezes, em desatino,
mas escapei a inércia, resisti às derrotas, ao descaminho.
Sobrevivi as minhas próprias dúvidas, a mim mesmo.
Estou no tempo da brandura, da instigante quietação,
hoje o meu existir já não é um tropeço,
de tudo que decorreu, foi-me o tempo do pedir,
neste instante, só agradeço.
Fiz de mim candura, do meu olhar mansidão.
Todos os dias... como não sei, se é o derradeiro, oro em gratidão,
faço minha última prece... por que tudo valeu, sinto-me alentado,
faço minha última oração,
e de uma única palavra:
Obrigado.

Ari Mota

domingo, 10 de julho de 2011

ELEGÂNCIA


Quando a juventude acariciava os meus sonhos, e era tempo de aprender,
saí em desespero e em busca de elegância.
Cismei que a encontraria no encanto do porte ou na maneira de trajar,
até usei os adornos da moda, desfilei com as tendências da época,
alonguei-me na gíria, alterei até a maneira de falar.
Mas tudo era sazonal, fugaz como vento,
e eu necessitava de algo que durasse por mais tempo,
e que perpetuasse na minha postura, no meu existir.
Poderia ser... uma vida, talvez,
ou apenas residir para sempre dentro da minha alma, em solidez.
Não tive êxito, não consegui ser reflexo de alguém,
precisava ser eu, senhorio das minhas vontades, do meu aguerrir.
Mas, um dia... no mais puro acaso, na mais linda descoberta,
e como o tempo se esvai...
passei aperceber os gestos, o olhar de ternura, de amor... do meu pai.
E eu que não o compreendia, e nem o percebia... o via, como solidão,
descobri que a sua elegância... residia no seu silêncio, na sua mansidão.
Ele falava com os olhos, expressava com brandura,
seus movimentos eram de um maestro, ouvia todos com doçura,
orquestrava as relações, recebia a todos no singular... até os desiguais,
nunca o vi... vociferar em rancor descontentamento, nem ódio,
tinha um sorriso maroto quando não concordava, ia embora em quietude,
ouvia as histórias dos mais velhos, e também os devaneios da juventude.
Era gentil em demasia, era tomado de simplicidade o seu dia,
jamais tolheu os vôos individuais, nem a franqueza de expressão,
retribuía o riso, era solidário na dor, sua elegância estava na atitude.
Tinha apreço pelos desvalidos e deferência aos que viviam em solidão,
viveu assim, ao meu lado... tinha um olhar de gentileza,
em tempo nenhum o vi fazer perguntas pessoais, ou outra indelicadeza.
Vez por outra achava que pertencia a uma nobreza,
era um cavalheiro, não dava para confundi-lo com outro, era distinto.
Era sublime a sua alma... olhava-me ternamente... com calma.
Eu que procurei elegância... a recebi como herança.
E aprendi, que se não conseguir ofertar uma flor:
abrir uma porta, um sorriso.
Ser mais tolerante... elegante com a vida,
falar mais de amor.

Ari Mota

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O SILÊNCIO EM GRITOS

Escrevo para arrancar da alma o silêncio que me persegue,
quando jovem achei que era timidez,
depois, o tempo... efêmero, traduziu que tudo não passava de sensatez.
Como não dispunha de uma outra arte, de uma outra maneira de acontecer,
o destino ofereceu-me os vocábulos, as letras... só para entreter o caminho.
E hoje, sou um aprendiz, um artesão rústico das palavras,
às vezes em descompasso, às vezes em desalinho,
perco-me ao meio de um poema, de uma poesia sem fim,
sou um poeta desajustado, às vezes escrevo só pra mim.
Mas... falo de esperança, recito versos em reverso falando de solidão,
declamo em devaneio os medos, os desassossegos do existir,
mas também recito em coragem, as noites frias de inquietação.
Sou meio que guia de mim mesmo, sempre estou indo, para nunca desistir.
Sou mais que expectativa, uma espera descomunal,
vivo transcrevendo resiliência, reedificando minha essência,
suportando todas as ventanias, todas as quedas, em paciência,
resisto em demasia ao desconforto de um temporal.
Escrevo para arrancar do silêncio o meu grito,
nem que seja na ponta de um lápis, num escrever aflito,
numa estrofe descomprometida, de uma inspiração atrevida,
falando de abandono, de suportar um vendaval.
Sou um autor de obras inacabadas, um artífice da emoção,
ando lapidando lágrimas, soluços, poetando os desesperos,
mas... do mesmo modo, afagando a aflição,
acarinho a minha própria angustia, que quase descorou o meu olhar,
escrevo para não morrer, para não findar.
Falo de borboletas azuis, de uma bailarina louca,
danço às vezes em fantasia, em alegria.
Mas... para quem passeia nos meus escritos,
tudo isso pode ser em silêncio... os meus gritos,
ou palavras em agonia, sem sentido... ou em desvario... vazias.
Transcendo às vezes a imaginação com todo o esplendor,
só não escrevo, nem falo,
em desamor.

Ari Mota