Fui passear em memória, ao passado...
procurava apenas contemplar o que vivi,
reencontrar o esplendor da beleza,
a sutileza da juventude, a vivacidade do olhar.
Fui revolver o passado... bulir com o tempo,
não a procura, nem em busca de coisas,
nem ao encontro do que perdi,
mesmo porque... tive que jogar fora os excessos,
deixar pelo caminho os ressentimentos... magoas que senti,
pesos em demasia que no peito trazia... só para sofrer.
Fui de encontro ao tempo... da juventude,
da ingenuidade do beijo,
da inocência do abraço,
da limpidez do gracejo, do bem querer.
Caminhei ao acaso, para rever nosso caso... que se fez amor.
E que de resto encontrei, em desvario... fiquei,
nossa praça vazia, nosso cinema em agonia, nosso jardim sem flores,
nosso passeio sem rumo, nossa ilha... sem amores.
Voltei à procura da menina moça, da garota da minha rua,
que ainda em noites de devaneios, sozinha reaparece... insinua.
Fui... bulir com tempo.
E em suspiro, dei-me casualmente com a lembrança,
e em delírios, foi-se a travessa menina,
a inquietante garota, a virginal criança.
O tempo fugaz... efêmero como uma ventania,
metamorfoseou a garota em mulher,
de frágil se fez beleza, de doce se fez leveza.
Fui... bulir com tempo,
minha alma... quando depara com a garota,
a olha com amor,
quando o faz com a mulher,
também.
Ari Mota