quinta-feira, 1 de setembro de 2016

OS MEUS DESERTOS

De todos os experimentos que fiz,
encontrar-me... foi o maior deles.
De todos os ensaios que tracejei,
situar-me... foi o mais ousado que descrevi.
E me vi... ao meio de toda essa ausência de clareza,
deparei-me... com toda essa falta de alinho,
na esquina... vazio,
na imensidão da minha essência... sozinho.
Mas, de todos os experimentos que fiz,
o mais provocador deles, o mais hostil,
foi tentar atravessar os meus desertos.
Havia, um nada que se isolou,
um descampado... um ermo... sem ninguém,
uma solidão nua no meio da minha alma,
olhando-me... sem amor... com desdém.
Fiquei aprisionado naquele lugar,
houve dias que estarreci... com a incerteza,
com os desvios que teria que atravessar,
com os atalhos que deveria descobrir,
e me vi... ali, entre todas as minhas escolhas,
sem partir.
E... depois, de toda uma busca,
percebi ao meu lado... um ser espectral,
olhava-me ternamente,
e invadiu-me de forma visceral,
aquietou a minha ânsia por si só,
abraçou-me com leveza e quietude,
e foi naquele silencio, naquele existir contemplativo,
que resolvi preencher os meus desertos,
como quem jamais se desilude.
Como... nada deixei para trás, só coisas,
o preenchi de sentimentos e emoção,
semeio frutos que não vou colher,
nascem oásis que não vou viver,
existe uma sinergia descomunal,
inda, está pouco povoado... tem poucos amores,
mas, ando plantando araucária e tâmaras,
conservo as praças, cuido dos jardins,
tenho uma reengenharia lúdica... só para as flores.
Espalho estrelas em noites de escuridão,
brisa, em dias escaldantes,
calmaria em madrugadas de solidão.
De todos os meus experimentos,
ocupar de amor os meus desertos... foi o mais intenso.
E, sabe... aquele... ser espectral,
aquele fantasma angelical,
que me auxilia... a nunca desistir,
e reconhece que cada dia, eu me... aperfeiçôo:
peço-lhe, sempre... se tiver que me abater,
o faça em pleno vôo.

Ari mota