segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O RESTO

O que vai durar pelo menos até o final da vida,
será a sua coragem de vivê-la,
- o resto...
Escorrerá como enxurrada em noites de temporal,
irá evaporar como gotas de orvalho ao sol,
e ficará na memória, talvez só por uma estação,
e com o tempo, este brilho da alma pode ofuscar,
em tal caso, atreva-se, mude, procure renascer todos os dias,
do que morrer todas as noites,
faça do seu existir um assombro, uma obra colossal,
a não ser que queira, que tudo vire solidão.

O que vai durar pelo menos até o final dos dias,
será a sutileza dos seus sonhos,
- o resto...
Esvaecerá como vela acessa ao meio de uma ventania,
e tudo irá desbotar... provocar vazios existenciais,
deixe ir o que não pode ficar,
nem residir dentro do peito, instalar dentro da alma,
encare tudo isso, e que tudo seja apenas... perdas necessárias,
foram as inutilidades que encontrou pelas estradas,
priorize o seu sonho, defenda a sua rebeldia,
a sua doce mania de se aventurar.

O que vai durar pelo menos até depois do horizonte,
será a sua resiliência... em se reconstruir,
- o resto...
Escapará dos seus caprichos, do seu desvelo,
e se errar o caminho... volte, comece tudo outra vez,
esteja pronto para essas imensas tormentas do existir,
só não carregues mais... miudezas,
se tiver que levar algo... que caiba na alma,
e tenha a leveza de um olhar,
e ao se ver no espelho, seja de si mesmo... o modelo,
antes de tudo terminar e ter que partir.

Em quanto isso... viva intensamente,
tenha todas as emoções.
Ouça com ternura uma melodia,
com sutileza uma poesia.
Contemple mais... assista as estrelas,
silencie mais... ame-se mais...
ande mais devagar,
deleite-se com o aroma da flor,
o murmúrio do rio, o uivo do vento,
essas coisas que existem,
e ninguém sabe mais encontrar.
E de resto... que o resto seja...  amor.

Ari Mota