terça-feira, 28 de setembro de 2010

EQUILÍBRIO


Por tempos recorri a instrumentos para atingir coerência no meu
existir.
Vaguei desmedidamente a procura de harmonia para o meu
andar.
Busquei alternativas para ordenar meus passos
e identidade absoluta para poder sonhar.
Corri aos livros, aos mestres zens, as literaturas de auto-ajuda.
Fui meditar com os monges budistas,
andei descalço no Tibete,
e toda a sabedoria me chegou sem palavras,
ouvi em silencio o sermão da flor,
e arranquei do peito todo o ódio,
todo o meu rancor.
E como tudo não bastasse, inda me enveredei nas minhas vidas
passadas.
E tudo transcendeu... revelaram-se mundos, e tudo se tornou um,
e fiz do corpo apenas um domicílio espiritual.
E tudo foi muito pouco...
Inda, tendi as tradições xamânicas e recuei no tempo,
e em cânticos dancei com todos os ancestrais... em devaneios,
fui areia, pedra bruta, pedra filosofal.
Mas, certa noite, sozinho... percebi um vazio no peito,
um ardume, uma veemente vontade, uma busca.
De todas as emoções que tive... uma me faltou,
ou foi pouco, ou de tão ínfima que não a percebi.
E relutei tanto na procura... obstinei-me tanto no encalço,
que a encontrei dentro de mim.
Procurava EQUILÍBRIO... o encontrei em abraços com minha alma,
falando de amor.

Ari Mota

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O MEDO É UM VÍCIO

Quando dei meus primeiros passos deparei com minha primeira
queda.
Fui ao chão sem saber o que era desabar, estatelei no solo sem
conhecer o pavor do tombo,
sem chorar.
Ergui-me... e em gritos, e em zelo correram em minha direção,
arrebataram o meu primeiro andar,
minha primeira aventura solo, o meu primeiro vôo,
pelas estradas do caminhar.
Fizeram da minha criancice um cismar de medo,
um revelar do proibido, uma negação ao livre.
Tudo não podia... e então andei em quimeras escondendo-me
de fantasmas.
E em fantasia ideava lendas que em espanto me entristecia.
Passei a temer o inusitado, escondia-me dos olhares,
afastava-me dos abraços... fugia dos amores,
fizeram do medo minha companhia.
Hoje, depois da brancura dos cabelos,
da enrugues da pele, e da sensatez dos atos,
rompi em descoberta,
e sei que na verdade tudo foi para cercear meu bater de asas,
e inibir meu alarde aos próprios desejos.
Esconderam de mim que o medo é um vício,
e que fui tomado pelo receio do recomeço,
da estupidez da queda, da ausência, do abandono.
Mas, tudo transpassou como uma ventania,
e pactuei com minha alma... sobreviver à este vício,
e fizemos do existir um exercício de coragem,
e dos reveses do destino... crescimento.
Hoje dos vícios que carrego:
um está em evoluir desmedidamente... todos os dias,
e o outro é ser feliz e amar em demasia.

Ari Mota

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

TATUAGEM


Nosso amor tem sobrevivido todo este tempo,
todos estes temporais,
e mesmo assim, eu queria que ficasse para sempre,
e sempre eu ainda acho pouco,
preciso que permaneça mais um tanto,
algumas vidas a mais.
Já o coloquei dentro de um coração feito a canivete
naquela arvore da praça.
Depois docemente fantasie-me de poeta e o depositei para
dentro de um poema tímido,
de um verso ingênuo,
de uma rima descabida.
E naquela noite sussurrei em prosa, e o perpetuei no infinito.
E na madrugada seguinte... em delírios, o gravei nas estrelas.
E quando o sol se fez, convidei milhares de borboletas azuis
e saímos cantarolando todo o meu amor por você.
E tudo foi muito pouco,
preciso perpetuá-la em todo o meu existir...
Pensei... deixá-la tatuada na minha pele,
mas, efêmero lugar... e já envelhecida.
Não teve jeito,
a tatuei na alma.

Ari Mota

sábado, 18 de setembro de 2010

QUANDO O AMOR TE INVADE


Não teve jeito, não consegui esconder...
a porta já estava entre aberta, a te esperar.
Cansei da aridez das emoções,
dos desertos que crescem dentro de minha alma,
do meu andar.
Chega de transitar com a solidão,
abrigar em meu peito sofreguidão... empurre a porta sem bater,
pode entrar.
Vou me aventurar, deixar-me seduzir pelo inesperado,
viver estes abalos, que chegam de dentro, como se fora um canto,
como se fora uma ópera de dois enamorados,
como se fora versos de um poeta apaixonado.
E se o imprevisto me vier fazer companhia,
e trouxer a tiracolo a delicadeza, e em mimos me abraçar com leveza,
vou pedir que além de tudo isso... também me ame.
Porque hoje... espalhei rosas vermelhas pela casa,
e fui ao bosque... e convidei milhares de borboletas azuis,
para enfeitar nossa festa, e cantarolar coisas de amor,
e espiar maliciosamente nossos lençóis.
Não teve jeito... a porta está entre aberta, é só entrar.
Tenho insistido em ser feliz e não posso viver tudo isso,
sozinho.
Separei o que de vazio eu tinha, para ocupá-lo, completá-lo,
e que seja de você.
Como não sei o sabor do vinho, vou me embriagar de orvalho,
como não sei os passos de um dançarino, vou sambar no meio da sala,
como não sei ficar sem você, fiz-me poeta... para revelar meus desejos,
declarar meu silêncio, e tornar publico meus beijos.
Hoje resolvi fazer de mim... alegria,
e de você... amor.

Ari Mota

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

REFÚGIO


Quando jovem distribuía meus lamentos,
presenteava aos outros... minhas lamurias.
Destinava ao convívio, todo um exalar de pranto,
um repartir de choro.
Entregava-me... a deplorar ressentimentos,
e a queixar-se das desventuras.
Vertia-se em lagrimas de desespero e amimava meus medos
e mitigava minhas fraquezas.
Combalia-me nos combates, e debilitava-me nos confrontos.
Atemorizava-me com o não, com a recusa, com o adverso.
Necessitava da robustez de um ombro para suportar os soluços,
e a amparar o estremecer do corpo.
E atravessei o tempo, transpassei os ciclos,
fiz-me... prudente, discreto.
Evoluí... com os meus erros, enganos e desacertos,
e eu, que quando jovem me refugiei em outras almas,
hoje...
Fiz de mim... um porto.
Olho o mundo, as pessoas,
convivo com as diferenças,
com a inconstância humana,
com a desproporção e a aspereza do desamor,
e em silencio... me calo.
Retorno todos os dias para o colo da sensatez,
e faço do amor o ultimo sentimento do existir.
E hoje, fiz... da minha alma um refúgio eterno.
Recolho-me ao por do sol, ao chegar da negrura da noite,
asilo-me na quietação da minha própria serenidade.
Refugio-me das inverdades, e do falaz discurso,
e não o faço por medo, nem para esconder,
refugio-me para preservar...
Refugio-me... para dentro de mim mesmo,
por amor.

Ari Mota

domingo, 12 de setembro de 2010

VOLTEI A ME ENCONTRAR

Andei por muito tempo à procura de remanso para as águas
do meu existir.
Quietação para este peito que não só batia, sangrava
vez por outra.
Busquei retiro para esta alma que desesperada e inquieta
borbulhava na amplidão da noite.
E recolhimento para estes olhos que entre abertos
só vislumbrava estreiteza.
Sossego para este corpo que combateu diuturnamente
as desventuras.
E harmonia para o existir, para o continuar... prosseguir.
Foram tantos os embates...
Persisti, resisti, perseverei todos os instantes,
estremeci com o inesperado, e atemorizei-me com o volúvel,
exalei pelos poros... medo das derrotas e a decepção dos fracassos,
destilei pela pele o suor da duvida e transpirei a incerteza do talvez.
Mas, andei por muito tempo à procura...
e encontrei-me em mim mesmo.
Planeei minhas sutis batalhas, entranhei na própria essência
e voltei a me encontrar.
Passei a transitar com a minha verdade,
e desfilar com o que tenho de autêntico.
Fiquei tão eu... que as vezes de singular encontro-me no plural,
e em metamorfose reinvento-me em todas as manifestações de amor.
O meu coração voltou a bater na freqüência dos meus sonhos,
voltei a me encontrar.
E ter coragem de ser feliz.

Ari Mota

terça-feira, 7 de setembro de 2010

UM LUGAR PARA ENCONTRAR LEVEZA


Ao longo do caminhar... o existir teve o peso da atmosfera,
exerceu sobre o meu andar... toda a sua rijeza,
imputou-me lentidão, sobrecarga, transitei sem a celeridade desejada,
pareceu-me que nos ombros carregava mais do que podia levar.
E assim, transcorreu o meu deslocar,
parei algumas vezes,
subjuguei-me as regras, sujeitei-me as imposições sociais,
agreguei coisas, juntei ressentimentos, e anexei sofreguidão no olhar.
Abdiquei em certos momentos de aplausos,
renunciei convívios,
e o destino cedeu-me como companhia a solidão.
Mas, como sou resiliente... avigorei os sonhos, robusteci os desejos,
e em delírio continuei minha lida, meu imenso capricho...
em ser feliz.
Em uma destas curvas do acaso, deparei com minha própria alma,
que serena e calma,
em uma das esquinas da existência estava a me esperar.
Saímos... eu e ela, reinventando a travessia, as frases vazias,
fomos redigir como continuar.
Pactuamos, subtrair a pressão do existir, e fazer dele uma doce viagem,
deixar pelo caminho, os fardos do medo, do que oprime, do que incomoda,
lançar margem afora toda a amargura, todas as angustias, e o desnecessário.
E tudo foi muito intenso, as coisas foram ficando pelo chão,
as lagrimas secavam com o vento, e o lamento perdia-se na escuridão.
Hoje não quero aplausos, basta-me, os meus... os bato silenciosamente,
hoje escolho os convívios, os amigos, os amores,
e o destino cedeu-me como companhia: a sensatez.
Passei a altear em vôos...
hoje procuro um lugar para encontrar leveza,
e amor.

Ari Mota

sábado, 4 de setembro de 2010

CONSTRUTOR DE PONTES

Quando principiei a percorrer meu existir,
fui encontrando pelo caminho alguns abismos existenciais.
Obstinado, desvie-me da verticalidade, desci ribanceira abaixo,
atravessei terreno arenoso, depois cruzei pântanos imaginários,
estepes áridas e deparei-me com muralhas indefiníveis.
Resiliente que sou, escalei os desfiladeiros dos meus medos,
e continuei a caminhar.
E mais uma vez o destino jogou em minha frente estes precipícios,
que muito próximo ao intransponível, quase me impediu de continuar.
E pertinaz, combati minhas fraquezas e fiz delas... resistência.
Resisti aos vazios do caminho, e ao abandono da convivência,
em vez de edificar muros... construí pontes.
E em desafio, o destino fez-me construir a maior delas,
a descomedida ponte entre eu e minha alma.
E desde sua inauguração meu caminhar teve outro norte,
de correr em desespero...
passei docemente a passear pelo meu existir.
As pontes que construo...
tiram-me da duvida e me leva ao outro lado onde encontro,
certeza.
Conduz-me ao sonho, e me faz em vôo... ser feliz.
Permiti-me afastar da estupidez, e cingir com os braços
a delicadeza.
Partir apressadamente da arrogância, e cobrir-se de
singeleza.
As pontes que construo...
são invisíveis, e imaginárias... transitam nelas...
somente as pessoas que amam... como eu,
e fazem do existir um edificar,
e transportem de um lado para o outro... amor.
Construo pontes para cruzar os abismos,
e não ficar indolente apenas de um lado do existir
com a solidão.

Ari Mota

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

REINVENTO-ME

Alterei tanto...
minha forma original,
que quando contemplei o passado, não me encontrei.
Em busca... deparei tão somente com espectros dos meus sonhos,
e pálidas fotografias que em agonia,
revela a face doce de um menino,
que se perdeu... roubaram-lhe a nitidez da inocência,
a limpidez da ingenuidade.
E desde então...
passei da fantasia, do imaginário à eterna luta.
Alterei tanto e de tamanha intensidade que perdi a essência primitiva,
e em sobrevivência adaptei-me aos combates,
entre as derrotas e as vitórias, apaixonei-me pelas duas.
Não desdisse as imposições do destino.
Não repudiei as lagrimas que salgadas,
desfilaram uma a uma para dentro do peito.
Nem neguei o riso quando tive coragem de ser feliz.
Combati a minha própria insegurança,
recusei a entrada do medo quando este me esmurrou,
rejeitei a duvida quando esta me invadiu,
isolou-me na negrura da incerteza,
e fez de mim solidão.
E relutei... sobrevivi a todas as asperezas da existência.
Sou um sobrevivente de mim mesmo.
Fiz da sagacidade um instrumento para suportar as adversidades,
e da elasticidade instintos de compreensão.
Alterei tanto... altero tanto,
que cada instante, procuro-me, e não me encontro.
Sou sempre recomeço, sou hoje, sou reinicio sempre,
reinvento-me todas as manhãs.
E só tenho de obsoleto, arcaico, antigo...
dentro desta alma...
amor.

Ari Mota