domingo, 1 de janeiro de 2017

A FINA MAGIA DOS TROPEÇOS

De todas as loucuras que cometi,
de todas as insanidades que fiz,
a maior delas foi... esquecer de morrer.
Tive momentos de lucidez,
instantes lúdicos... virei silencio,
virei poesia, virei dia,
disfarcei-me de amanhecer.
Comovi... com tão pouco,
e tudo me foi intenso, fugaz,
e eu que procurava... paz,
a vida me fez sacudir... me fez estremecer,
também pudera... espelhei-me,
na rebeldia dos espíritos adolescentes,
nesses que não traçam rota de fuga,
e teimam, e desconhecem o medo,
insistem, e obstinam mais um tanto,
e são protagonistas de si mesmo,
sem esmorecer,
não permitem que lhe roubem... a emoção,
explodem de coragem, resignificam a ousadia,
ardem... brilham com o imprevisto,
e veemente... não dispensam o riso,
atrevem-se, insistem em ser... feliz,
e tudo vira... pura teimosia,
mesmo sabendo... que podem deparar com a solidão.
E assim:
desvairo... com quem destila destemor,
e mesmo em chamas,
dançam a beira de um abismo descomunal,
tremem diante da vicissitude,
mas... continuam, sem desistir dessa viagem,
dessa vida descomedida, desse disparate sem igual.
Desatino...
com quem não se importa com o desconforto,
e mesmo em desvantagem,
enfrentam a inclemência do tempo... e sua incerteza,
e intrépido encara... seus triunfos e fracassos,
e durante os combates... avigora a alma,
e deixa inabalável... os sonhos,
e suportam a escassez... com mais leveza.
De todas as loucuras que cometi,
de todas as insanidades que fiz,
a maior delas não foi só... esquecer de morrer,
foi invariavelmente encantar-me e aprender,
com a fina magia dos tropeços,
que os espíritos jovens... carregam vida a fora,
e que refletiu em mim... em todas as vezes que tropecei,
ensejando... levantar com mais solidez, e melhor,
revelando esse assombro,
nesse desafio... que é viver.

Ari Mota