sábado, 30 de abril de 2011

SEM VOCÊ


Até tentei...
Já fiz alguns ensaios, já provei o sabor da solidão,
esbocei um projeto de fuga, até uma rota ao meio da madrugada.
Experimentei o gesto do adeus,
e a dor da partida... da despedia em aflição.
A mala por diversas vezes ficou pronta, escondida atrás da porta.
Mas, tudo ficou no desassombro do vazio,
na incerteza de um dia ter que voltar:
Atrás do seu jeito... do seu olhar,
do seu calor que sempre me aqueceu no frio.
Da embriagante fragrância do seu corpo.
Até tentei...
Em desespero... inventei viver sozinho,
fingir amparo sem seus beijos,
abrigo sem seus abraços,
e refugio sem seus desejos.
Já ensaiei a estupidez do abandono,
e até quis abandonar o adeus e partir,
pensei em renunciar o fim, e ir embora,
sem soluço, sem lagrimas, sem despedir.
Até tentei...
Mas... Minha alma, sempre grita... a sua ausência,
esmurra meu peito... te chamando,
querendo seus chamegos,
clamando o seu amor.
Até tentei...
  Não
        consigo 
                     andar
                               sem
                                       você.

Ari Mota

terça-feira, 26 de abril de 2011

SOU O PRESENTE


Dia desses... após uma conversação,
alguém me disse: como era no seu tempo?
Em silencio escapou-me um sorriso que me tirou o jeito,
tomado de pasmo, sem estar pendurado na dúvida,
entendi ser apenas um conceito.
Tolerante que sou... complacente, flexível,
olho com docilidade as diferenças,
e salto livre nos abismos que separam as gerações.
Bem sei... que o tempo andou desgastando minha beleza,
alvejou a pele... a deixou meia que pálida,
disfarçou a cor ao rosto,
perdi o ruborizar da meninice, sem se magoar com o que passou,
não fiquei enroscado em lembranças, ou perdido em recordações.
Logo...
Atrevo-me, a abandonar pelas margens do meu existir,
os meus incômodos,
meus medos,
o que não posso fazer voltar.
Pertenço ao presente... sou do agora,
sou hoje, o passado é apenas alicerce,
minha estrada... construo a cada amanhecer,
em cada forma de amor, em cada maneira de amar,
refaço todos os dias minha visão de mundo... de mim,
por isso...
Se... querem me ver, me achar, identificar-me,
aprofundem na contemplação.
Não sou o que aparento,
sou o avesso,
sou o de dentro.
De mim... só a alma vale.

Ari Mota

quinta-feira, 21 de abril de 2011

AUTENTICIDADE


Se depois do fatigante dia, e no limiar do crepúsculo,
voltar ao seu refugio... encontrar vazios, inquietação,
e se todas às vezes... tiver que despir da beleza que carregas,
das vestes que usa, dos adornos que exibe,
e em desespero...  cair em solidão:
É hora de um olhar verídico sobre si mesmo.
É tempo oportuno de desvestir o que apresenta, e ser o que é.
É vez... de descortinar o que esconde, desapossar das coisas,
que em delírio faz razão.
São eternos instantes, são disfarces... que trazes na cara,
aplica na pele, perpetua no gesto, e pode um dia não poder tirar,
são mascaras invisíveis, são inverdades travestidas de ilusão.
Dispa-se do dissimulado...
Escolha o amanhã para desfilar sem os adereços.
Ressurja sem fantasia... sem cartão de credito, celular.
Use aquela sandália de dedo, aquela camiseta de algodão.
Dê bom dia ao porteiro, ria o dia inteiro,
dê flores, amores... olhe-se no espelho, silencie aos falantes,
aos... quietos, faça uma declaração.
Reapareça como você...
Renuncie ao que nunca foi, intenta apenas ser por inteiro,
verdadeiro.
Consulte sua alma antes de sair, de acontecer,
ela lhe contará... da sua resiliência,
da sua coragem de se transformar e ser autêntico
e como reconstruir
o seu existir, o seu viver.

Ari Mota

sábado, 16 de abril de 2011

A VELHICE



Só consigo mensurar o tempo quando pelas manhãs deparo-me no espelho,
e em desespero atento pela suas medidas, suas marcas na minha face,
e em disfarce, o quanto me roubou de juventude, e a quase impublicável aparência.
Fingiu edificar belezas entre as rugas da pele, e na palidez dos cabelos.
Suprimiu alguns movimentos, subtraiu a doçura da adolescência,
arrebatou a avidez da luta, e a voracidade do vencer.
Furtou sem pressa... a impaciência juvenil, e os devaneios da ambição.
Restou-me talvez muito, ou pouco, ou quase nada, ou quase tudo.
Hoje... sou mais silêncio em sofreguidão,
sou calmaria em manhãs de ventania,
tenho minha alma como companhia,
e olhar de solidão.
Não culpo o tempo... sou grato a ele.
Quando tudo virou ausência... encontrei-me.
Fiquei fã de mim... sou palco e platéia de mim mesmo,
ando me vaiando menos nos últimos tempos, me amando, eu sei.
Ando as voltas com a resiliência, estico-me, adapto-me ao abandono,
refaço-me, reinicio-me com o cair das folhas, com a chegada do outono.
O tempo ensinou-me... a olhar a mim...
Ando explorando regiões desconhecidas, perdidas... aqui dentro do peito.
Todas as manhãs... olho para o espelho, sem ser torpe... e embelezo a minha feiúra,
que pura, me enobrece, enaltece.
Barbeio-me, olho-me como um vencedor,
sobrevivi à rudeza do cotidiano, sem ser leviano.
Saio para viver... o que ainda me resta...
com amor.

Ari Mota

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DEPOIS DAS LÁGRIMAS



Se um dia romper de dentro um soluço descomunal,
como se fora um choro em descompasso,
um desespero em aflição.
E em sobressalto se ver no meio de uma tormenta,
uma ventania sem igual,
e descomedir-se no abandono,
vitimar em solidão:
Será preciso que se baste por si só, suporte a dor,
tolere a inquietação das perguntas,
e admita a verdade das respostas,
e depois compreenda o gotejar das lágrimas em confusão.
Tudo passa... nada permanece, tudo é cíclico,
somente perpetue na alma... suas escolhas,
e primaz que seja... ser feliz.
Portando, arrume-se para... depois das lágrimas,
e por falar nelas... não as deixem... rolarem para o chão,
chuvisque-as no seu existir, como regasse uma flor,
regasse sua própria alma,
porque depois das lágrimas,
você pode ser tocado
profundamente
pelo amor.

Ari Mota

domingo, 10 de abril de 2011

REPENSAR O EXISTIR



Há que se debruçar sobre si mesmo um dia,
e se olhar como nunca o fez,
e depois descortinar a alma, e repaginar o fim.
Nem que no último instante seja tocado pela solidão,
nem que tenha que discutir a dúvida, o talvez.
E encarar os erros, afrontar a dor, e abafar o grito.
E na descoberta... vê que não se conheceu,
perdeu ao longo do existir contato com o próprio eu.
Olhou em demasia para os outros,
não teve prudência de si para si,
feriu a própria a carne,
flagelou-se com medo... do medo,
atormentou-se com o silêncio,
estremeceu com as incertezas e com os vazios.
Há que se debruçar sobre si,
nem que seja no último instante.
E ter coragem de olhar... com amor para o que viveu,
olhar para a alma, para si... como há muito não via,
e, todavia...
ter a certeza...
que tudo valeu.

Ari Mota

quarta-feira, 6 de abril de 2011

APOTEOSE MENTAL


A vida me deixou assim... meio que esquisito,
e em vigília, fiz do olhar mais que contemplação.
Fui em zelo, triagem... fiz escolhas nas companhias,
sem jamais sentir-se sozinho, desconfortável, aflito.
Fiquei seletivo no convívio, implacável na solidão.
Fugi dos falantes, dos locutores de vazios,
dos que vociferavam o engano, malogravam a verdade,
esboçavam impiedosamente suas neuras, sua apoteose mental.
Corri toda a minha vida... dos insolentes, dos desvanecidos,
dos revestidos de ridícula soberba, dos entristecidos.
Afastei dos insensatos, dos que queriam o centro, a divinização.
Hoje... movimento minhas asas com autonomia, sem influência,
salto livre nos abismos das minhas vontades, sem domínio.
Dispo-me dos meus medos, sem prudência,
sou descomedido no pensar, solto no andar,
não creio, nem julgo... faço silêncio com o olhar.
Sou senhorio do meu arbítrio, comando minhas vontades,
faço experiência com os meus desejos.
Distancio-me dos contadores de histórias... das inverídicas,
ninguém direciona meus abraços, meus afagos, meus beijos.
Encontro grandeza no que é simples, no imperceptível,
contemplo pétalas de rosas vermelhas, faço versos,
virei aprendiz de poeta.
Aqueço-me em madrugadas de insônia com minha alma,
que calma... afaga-me, me acalenta, e ao meu lado aquieta,
deixa-me sereno, feliz, não me faz pequeno,
estou no tempo da sensatez.
Danço em devaneio com uma louca bailarina, que me alucina,
ouço o acordar da natureza, observo os bem-te-vis, e o beija-flor.
Hoje... convivo somente com os que em apoteose,
fale de amor.

Ari Mota


sábado, 2 de abril de 2011

2012 O ASCENDER DO AMOR

Se um dia... lá pelas tantas de 2012,
uma vibração irromper de dentro, sacudir sua essência,
e um magnetismo transpassar e estremecer a alma,
como uma ventania em descontrole, como sismos em violência,
não se atemorize, nem se sobressalte em desordem,
desacredite nestes ensaios apocalípticos, nestes medos de tudo findar.
A dimensão do existir ultrapassa a fronteira do fim,
a vida é muito, é intensa, imensa... para tudo acabar.
Você na verdade, pode estar no melhor do seu tempo,
tempo de redefinir, redirecionar o que tem de sentimento,
é o momento de aumentar a intensidade da luz, do seu próprio brilho,
da sua mudança consciencial, rever paradigmas, rotas,
dimensionar o que é... e para que veio,
nada termina, tudo se transforma, muda, encare as mudanças sem receio.
É chegada à hora de se realinhar com o universo, consigo mesmo,
e não mais vagar em desvario, perder-se à esmo.
Ilumine-se... a escuridão é apenas a ausência da luz.
Terá que impor algumas podas, repaginar o olhar,
desembrutecer a alma, sorrir, abraçar, alentar.
Será o tempo do ascender do amor,
jogue fora a sisudez de profeta, brinque de poeta,
iluda a solidão, rompa a emoção,
procure alguém para amar,
não esteja sozinho.
Procure alguém para receber,
seus carinhos.
2012... a era do amor,
ame em demasia,
em fantasia,
e para sempre.

Ari Mota