quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

NÃO ESPERE A ALEGRIA PASSAR

Faz tempo...
Inda estava perdido, nas Gerais dos meus sonhos... em agonia,
sondava o destino, a espera de uma carona.
E me vi assim... sentado a beira do caminho, esperando a alegria,
eu achei que ela vinha pronta, embalada em papel crepom,
e que era só abrir e usar, e ela estaria sempre ao meu lado,
seria minha sombra, seria eu, seria o que sou,
e fiquei ali em solidão como quem a vida... espiona,
e ela jamais passou.
Como já esbarrei com a tristeza...
na descoberta reconheci a alegria como um processo experimental,
tem que ser misturada aos sonhos, dosada com atrevimento,
fermentada com ousadia, e degustada com destemor.
E depois depositada na alma... dentro de si mesmo,
num salto colossal.
Alegria é isso... não se compra, nem está à venda,
não se acha, nem encontra ali na curva do acaso,
nem se busca como uma encomenda.
Alegria... brota, germina de forma visceral.
E quando pronta... se leva... distribui,
entrega em domicílio, coloca com sutileza no coração.
Passa-se através de um beijo, de um olhar,
de um abraço descomprometido,
de um sorriso atrevido,
é como uma oração.
Alegria é orar... e orar não é pedir.. é oferecer.
Como já esbarrei com a tristeza,
não mais fico esperando a alegria passar.
Sei o tamanho da expressão de um sorriso,
o faço estar em todo o rosto, o busco na alma,
com leveza.
Depois...
ofereço com amor.

Ari Mota

sábado, 11 de fevereiro de 2012

TESTAMENTO DE UM POETA


Eu, um tímido escritor, cidadão do cosmo, aprendiz de poeta,
residente e domiciliado onde o vento brinca de solidão.
Estando em magistral juízo,
e em pleno gozo de minhas virtudes intelectuais,
e sem nenhuma interdição.
Livre de qualquer induzimento,
lavro o presente testamento, revestido de delírios e liberdade,
no qual exaro minha última vontade:
Ao longo do meu existir não consegui amealhar coisas,
como inda tenho a sutileza do olhar,
vou doar a minha contemplação.
Só agora no final, que ando economizando sentimentos,
não... por não ofertá-los, mas, por tê-los em demasia.
Fui me achando, vasculhando a minha alma, me encontrando,
claro... que houve noites de desespero, mas... alvorecer de teimosia,
sobrevivi ao medo de mim mesmo... e foi como um ritual.
E hoje, resolvi... sentado em uma esquina do meu destino,
deixar a quem assim querer, minhas riquezas, em desatino.
Obvio... que todas são subjetivas, não dá para tatear com mãos,
somente... senti-las de forma visceral.
Estou deixando meus versos, meus poemas,
minha coragem em ser feliz, e minhas loucuras... para nunca desanimar.
Tenho ainda as batalhas que travei... com as minhas duvidas, meus dilemas,
confesso... perdi em varias delas, mas, foi ali que cresci para dentro.
Como inda tenho a sutileza do olhar,
vou doar a minha contemplação.
Ando encarando tudo com carinho, mesmo quando perco o caminho.
Percebo o acordar do sol, e o seu crepúsculo vespertino,
as borboletas em algazarra, brincando de ciranda em torno do Jatobá,
e ainda... extasio-me aos acordes de uma canção, dedilhada em um violino,
que me acalma, faz graça com minha alma,
emociono-me com a delicadeza de uma flor,
de um sorriso verdadeiro, de regras justas, de escolhas,
de amigos, de ausência e de saudade.
Portando ofereço o que sou... silêncio.
E minha maior herança... amor.
Nada mais tenho a lavrar,
dou, assim, por concluído este meu testamento particular.

Ari Mota

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MEU CORPO TEMPORARIAMENTE ME HOSPEDA


Tardei a entender algumas coisas... uma das últimas,
foi que meu corpo temporariamente me hospeda,
e o que vejo, não sou eu, sou apenas um disfarce.
Sou casca, exterioridade, um vulto, um espectro,
uma imagem difusa.
Olho e não me vejo, se vejo não me acho,
minha aparência desvitaliza, finda... vira terra seca.
Ela é apenas a superficialidade de mim, uma imagem confusa.
E ai, o tempo fluiu, e na descoberta, vi que...
Eu sou, o que não se vê, eu sou o de dentro, sou o meu sonho,
o invisível do meu ser,
e o olhar que tenho sobre a minha passagem por aqui, sou alma.
Quando necessito me encontrar, salto profundamente,
enraízo-me na própria essência, que me recebe em calma.
Antes espelhava solidão, olhava com sofreguidão,
hoje me recolhi, virei remanso, sou mansidão,
ando comigo...
Não deixo a carência de mim, dominar o meu eu,
descubro-me, me acho... encontro-me.
Danço em devaneios com minha pequenez,
e bailo ao som dos meus soluços.
Rasgo-me de rir dos meus medos,
e das vezes que perdi o caminho.
Sou suscetível as mudança, arrisco nos abraços,
para não caminhar sozinho.
Tardei a entender algumas coisas...
Continuo não compreendendo outras tantas.
Só sei... que antes achava que eu era aquele que o espelho refletia.
Hoje, tenho outra perspectiva de mim,
sou compreensão, evolução... sou uma energia.
E que além de tudo e depois de tudo... um sonhador,
que brinca de ser poeta.
Recita: é preciso ter coragem para ser feliz.
E em silêncio poetiza
o amor.

Ari Mota