domingo, 20 de novembro de 2011

PEDAÇOS DA MINHA ALMA


Pensei,
antes de partir... e antes dos adeuses,
deixar um pedaço do meu coração,
e depositar ao lado do seu, em solidão.
Depois achei que era muito pouco,
relutei... e resolvi deixar um beijo ardente na boca,
mas, fugaz era o tocar dos lábios, um enlace banal.
Resolvi abraçar-te como nunca abracei,
com todo o corpo, um toque visceral,
logo vi que talvez... fosse ainda ficar vazios,
como ir sem ficar, como ficar sem partir.
Tive que pactuar com o destino a minha ausência,
ir embora, sem deixar de existir.
Não teve jeito... virei poeta,
coloquei nos versos, pedaços de mim, pedaços da minha alma,
passei a ficar nas palavras, em cada expressão,
do desespero da partida, ficou a certeza da despedida.
Estou calmo e tudo hoje me aquieta,
não estou em desassossego, nem sou mais inquietação.
Só assim, pude te olhar em silêncio,
e tudo hoje é calmaria.
Continuo te amando até o fim... em demasia.
Pensei, antes de partir... deixar um pedaço da minha alma.
Não consegui... a deixo por inteiro com todo o esplendor,
se um dia sentir a minha falta,
dentro dela,
ainda tem
 amor.

Ari Mota

terça-feira, 15 de novembro de 2011

UM DIÁRIO NA ALMA


Depois de tanto tempo, de tantos tropeços, já quase no final,
achei escondido num canto da alma, um diário da minha vida,
fui folheando paginas, revendo as incertezas do acaso... que vivi,
umas com rabiscos de inocência, outras em branco,
outras nem tanto, virei em risos às tímidas,
amarrotei as atrevidas,
mas... não teve jeito, parei nas que traziam traços de desespero,
inda encharcada de temporal,
umas, tinham em esboço, em resumo... vestígios de sonhos,
folheie as que estampavam letras trêmulas de medo,
até que, encontrei em uma delas: um pedido de socorro.
Confesso... tentei passar a borracha em algumas, apagar,
e impossível foi o passado refazer... repaginar.
Mas, na verdade tudo foi... o melhor dos meus ensaios,
das minhas tentativas, foi ali que me tornei o que sou...
pura teimosia,
cresci para baixo, enraizei-me, aprendi a não ferir a mim mesmo,
suportar as ventanias.
Como o tempo tem me furtado o fulgor do riso,
tatuado rugas na pele, descorado o cabelo, e irá um dia me enganar.
Tenho vivido intensamente, sem fugir dos recomeços,
das travessias.
Poucas são as paginas que ainda me restam... somente eu vou relatar,
e restam poucas para o fim.
Tenho em capricho... bordado cada letra, cada sentimento,
cada expressão,
ando desenhando em detalhes o que me resta, em caneta nanquim.
Antes todos tinham acesso ao meu diário, patrulhavam o meu andar,
hoje só eu nele escrevo, faço dele o meu olhar.
Como não envelheci destilando magoas, suporto os abandonos, a dor,
as perdas inevitáveis... e danço em alegria com a solidão.
Hoje no meu diário, transcrevo o que vivo:
Suavidade e calma, busco leveza para a alma,
e amor.

Ari Mota

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DESAPEGO

Custou... mas, aprendi,
apanhei descomedidamente do destino.
Por vezes até me esfolei ao chão, sem ferir.
Machuquei sem sangrar, e quase fui embora sem partir.
Quando andava de namoro com a juventude... fui colecionando coisas,
a mochila me pesava às costas, incomodava o andar.
O suor vertia-se para dentro... e por um triz, não afoguei a alma.
E não teve jeito... tive que ter coragem para jogar fora os excessos,
e outras tantas coisas... abandonar.
Mas foi pouco... quase nada, inda tinha que redefinir o fardo a carregar.
Um dia, quando envolto a dimensão da minha própria quietude,
percebi que não tinha mais nada para deixar pelo caminho,
e mesmo assim, pesava-me... existir.
Transportava ainda, um passado em desassossego, e o futuro em pavor,
arrastava pela existência... sobras de ressentimentos, e me sentia sozinho,
e inda na mochila, restos de dor.
Mas... eu já estava atrás de mim,
faltava-me desapegar dos meus medos,
e não mais fazer dos meus sonhos... segredos.
Fui pedir carona para a vida, e ser feliz.
E ela me confidenciou em delírios... viver só o hoje, em demasia,
desgarrar-me da estupidez, do disparate da avidez,
desapegar das coisas, e que nada eu levaria.
Desde então... nada carrego, só vento... calmaria.
Na minha mochila tenho umas receitas de amor,
devaneios... poemas... um olhar de esplendor.
Desapeguei de tudo, só não desapeguei de mim,
hoje só tenho na mochila... um par de asas,
sou livre de todas as amarras,
sou assim.

Ari mota

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UNS CELEBRAM O DIA DOS MORTOS, EU... O DA VIDA.

Demorou muito tempo... quase uma vida.
Disseram-me que tudo finda, desaba em nada, termina em coisa alguma,
vira partículas de terra seca, poeira ao vento... frivolidade.
E que depois de tudo, o tempo apaga o que se construiu,
e arrasa o que se edificou em brandura, o que se fez em candura,
e a fugacidade das horas, iria um dia me destruir,
e o destino em descuido me abandonar,
desprezar o meu existir.
Confesso... corri em desespero, pensei que iria desaparecer,
como uma ventania, achei que viver era quase se acabar.
E assim... fui restaurando as minhas virtudes, o meu acontecer.
Rompi paradigmas, e abri um portal na própria alma,
e ali deixei entrar leveza, finura no olhar em delicadeza.
E nada mais me abalou, aprendi a olhar o mundo com perseverança,
e descrer de todas as verdades.
Passei a enfrentar o destino em silêncio.
E fazer da vida uma arte que se desenha em uma tela invisível.
E pactuei com o tempo... descortinar-me em equilíbrio,
e me permitir caminhar sobre a fronteira da superação e da esperança,
amar em demasia... a todos, à noite, as flores, o dia.
Isso é viver... é existir eternamente.
Viver... é motivo de pasmo, é um estranho estremecer.
E não consegui aceitar que depois de tudo... restava apenas o fim, morrer.
Mas, sou resiliente...
Procuro claridade e inteireza para os que passaram em minha vida,
e plantaram amor.
Estes jamais sucumbem ao esquecimento, morrem.
Somente viajam para viverem outras vidas, com todo o esplendor.
Obvio... que fica um vazio, e quase me acabo de saudade.
Eu os felicito pelo convício que comigo tiveram,
a alegria que em minha alma deixaram,
a vida que comigo viveram, e as batalhas que comigo travaram,
das tentativas que fizemos, e das vezes que sempre achamos a saída.
Uns celebram... o dia dos mortos,
eu... o da vida.

Ari Mota