terça-feira, 13 de dezembro de 2022

OS MEUS AMORES


 









Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuo sendo eu,
nunca procurei ser outro,
fiz tudo o que coube em mim,
e a tudo amei.
E quando tudo for solidão...
nada mais, me será relevante,
existir me foi um assombro,
fui resiliente, fui silêncio,
convivi com quatro dos melhores humanos,
que conheci...
e tudo me foi um encanto... pura emoção.
 
Eu de mim, nada sei,
ainda assim, continuo sendo eu,
não aprendi a ser mais ninguém,
vivi todos os meus temores,
tive fome de estrada,
de destino,
sofri de vazios,
e os preenchi com os meus amores.
E quando tudo for tempestade,
nada mais, me será assustador,
nem relâmpagos, nem ventania,
já não terei mais sentimentos inferiores,
restará contemplar o que vivi,
por amor...
restará transcrever em poesia:
- o que ficou como saudade.
 
Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuarei sendo eu,
e nem quero me aprofundar tanto,
nem descobrir tantas vidas que vivi,
essa me foi o bastante,
foi nessa que eu... os conheci.
 
Ari Mota




domingo, 23 de outubro de 2022

APLAUSOS


 








Como foi bom não saberem...
onde guardastes o sonho,
escondestes o medo,
secastes o pranto.
 
Como foi bom não saberem...
que se alimentou da própria substância,
que se valeu da inconexão com o desistir,
e continuar em silêncio foi seu maior encanto.
 
E que ao sonhar...
não encontrou paradigmas que não estivesse em ti,
tudo estava dentro,
e tudo foi um exagero, e a quase tudo renunciou.
 
Como foi bom não saberem...
da solidão que lhe fez companhia,
e das vezes que a quietude escondeu o grito,
e os desertos que atravessou.
 
Mas... se só, depois de 40 anos,
chegaram os primeiros aplausos,
mesmo assim, veja o tamanho,
o quanto imenso foi sua obstinação.
 
E o que valeu foi o duelo com si mesmo,
a exuberante batalha com a alma,
em lidar com as incertezas,
e das vezes que as engoliu em noites de solidão.
 
Como foi bom não saberem...
que tudo que lhe obstou o caminho,
desmistificou o perigo de viver, o fez voar,
o fez se olhar, se aplaudir.
 
Como foi bom não saberem...
que vagarosamente estava construindo pontes,
crescendo para dentro,
tornando-se maior, uma referência, antes de partir.
 
Que bom que ninguém soube...
que o destino... sem você saber, fez como o mar:
depositou na sua praia, aplausos que são seus,
veio lhe restituir.
 
Ari Mota

domingo, 11 de setembro de 2022

QUANDO FOI QUE TUDO MUDOU


 








Vez por outra...
A razão vem sondar a minha alma,
e com sutileza me indaga:
Quando foi que tudo mudou?
 
E às vezes me pergunto... quando?
Quando a cura emergiu de dentro,
como esse processo irrompeu em mim,
e aqui... aportou.
 
Talvez...
Foi quando me vi sozinho...
e tive que me fazer companhia,
e desnudei-me,
exibindo a minha fragilidade e força,
e deparei com esse que hoje sou.
Talvez...
Foi quando tive que me olhar...
sem estar no espelho,
e atravessar-me como se fora transparente,
e passei a me tratar com mais leveza.
Talvez...
Foi quando tive que me encontrar...
sem nunca estar perdido,
e tive que dimensionar a estrada,
e saber aonde chegar.
Talvez...
Quando tive que me amar... quando me faltou amor.
Quando tive que voar... quando acabou o caminho.
Quando tive que me reencontrar... recompor.
Talvez...
Foi quando deparei com as dores,
e tive que ter paciência com as minhas emoções,
que descem vez por outra dos olhos:
- Só de pensar em partir,
e não saber como despedir dos meus amores.
 
Mas, foi mesmo... quando tive que elevar-me,
e deparei com um universo em mim,
e tive que lidar com essa imensidão,
descobrir este que sou.
E saiba, pode até parecer que tudo foi efêmero,
um relâmpago ensandecido,
uma tempestade de verão,
mas, só eu sei o quanto demorou.
 
Mas... quando tudo mudou...foi:
Quando me amei.
 
Ari Mota



domingo, 31 de julho de 2022

GRATIDÃO



 







Envelhecer foi-me paradoxal...
em nada encontrei lógica.
Para crescer...
foi preciso esvaziar a alma.
Para enriquecer...
não foi preciso amealhar coisas,
e fiquei rico sem saber,
quase me sufoquei com tanta riqueza.
E ela veio de dentro,
estava escondida na minha alma,
e foi colossal.
 
Que disparate foi envelhecer...
eu que tinha certeza de tudo,
hoje nada sei.
Eu que estava aprisionado com a insensatez,
hoje ando esbarrando com a lucidez.
Que privilegio foi chegar até aqui,
foi tanta vida, tanta emoção,
é que... não me permitiram conhecer a solidão,
e tudo amei.
 
O tempo foi-me um desatino,
diversas vezes... pedi... vá mais devagar.
É que convivo com gente destemida,
que me permitem estar onde estou,
e entendem que eu... não iria brilhar em outro lugar,
senão com eles...e aqui.
E esses são... os três melhores humanos que conheci,
que olham nos meus olhos,
falam sem dizer uma palavra... que me ama,
e levantaram-me todas as vezes que caí.
 
O tempo... só ele... mais ninguém,
desconstruiu a minha pequenez,
fez-me silêncio... contemplação,
colocou leveza na minha alma,
ensinou-me a ter pela vida,
e por tudo que vivi:
GRATIDÃO.
 
Ari Mota.


terça-feira, 28 de junho de 2022

NUNCA DESEMBARQUE DE SI MESMO


 








Que... esta dinâmica de sempre recomeçar,
nunca acabe.
E saiba...
quem perde o caminho... já estava indo,
Já estava... enfrentando os seus próprios medos,
Já estava... afrontando os seus fantasmas.
E... é só refazer a trajetória,
e não há mais nada a fazer... senão ir,
viver a sua história.
 
Que... sua coragem seja revestida de metáforas,
reafirmando a força que te equilibra.
Que... nessas horas de tempestades,
em que a vida chega a lhe sacudir,
não o amedronte com as incertezas,
nem que o caminho o fizer dançar com a solidão.
Que... você possa abrandar o desespero,
e silenciar a aflição.
 
Mas...
Nunca desembarque de si mesmo,
não te abandones.
Não deixe suspenso o seu destino... Vá.
Podes até parar e se orientar para os voos,
mas, não permita que batam as suas asas.
Podes até pedir auxílio nas estradas,
mas, não permita que impeçam os seus passos,
nem altere suas coordenadas.
 
Nunca desembarque dos seus sonhos,
arraste-o... vida afora.
Obstine-se mais um tanto,
teime como se fora a primeira vez,
resista como se não tive outra escolha.
Remova da alma, toda a sua sinergia,
e tenha tempo para amar e ser feliz,
e que essa seja a ordem da ousadia.
 
Nunca desembarque de si mesmo,
desperte o que habita em ti.
Caminhe para dentro:
Há vazios a ser preenchidos,
há energias sem utilidades,
há desertos intactos, e sem divisória.
E, é lá... que existe uma força maior, incomum,
que vai embelezar a sua trajetória.
 
 ARI MOTA



terça-feira, 24 de maio de 2022

AS DORES QUE SENTI


 









Quando doeu-me... viver,
e me senti... à deriva,
você estava ali ao meu lado,
como um alívio ao meu desespero,
como uma porção lenitiva,
sem ninguém saber.
 
Quando doeu-me... existir,
e a vida me bateu,
você já estava dentro de mim,
como uma guardiã de outras vidas,
provocando o meu despertar,
atiçando o meu reagir.
 
Quando doeu-me... a solidão,
e a ausência quase me fez companhia,
já existíamos um para o outro,
e visceralmente éramos um só,
você já me fazia reviver por dentro,
já descontruía a minha aflição.
 
Quando doeu-me... o tempo da velhice,
e a minha pele amarrotou,
você compassiva... lembrava-me da lucidez,
do fascínio que tive em transpor os limites,
e a sedução em conseguir tudo em silêncio,
e me pedia que não me desiludisse.
 
Quando doeu-me... o medo,
e fiquei sozinho... sem estrada,
você foi embora comigo... sem destino,
ultrapassamos as divisas dos nossos desertos.
E você me... permitiu voar para dentro,
em busca do nosso segredo.
 
Quando tudo doeu...
Só o seu amor acalentou-me a alma.
E existir ao seu lado, foi-me... um espetáculo,
você atenuou todas as dores que senti:
- e espero você... em outras vidas,
você foi o meu refúgio... foi maior que eu.
 
Ari Mota


sábado, 30 de abril de 2022

O ÚLTIMO SENTIMENTO










Se... faltou-lhe na emoção escondida,
e no último dos sentimentos,
o abraço que você nunca deu.
Se... faltou-lhe no silêncio que arrastas,
e na frieza das palavras,
que você nunca disse:
estou aqui “esse sou eu”.
 
Cuidado... se em descuido,
perguntarem-lhe,
do riso e da leveza,
da vida que não lhe condiz,
e inadvertido dizer:
doeu-me a alma,
faltou-me... ser feliz.
 
Atente... para  a fugacidade do destino,
e o que carregas agarrado à pele,
- pode ser tão somente uma ânsia descabida.
Cuidado se esqueceu de enamorar a si mesmo,
e autômato colecionou vazios,
empilhou ressentimentos,
embruteceu o olhar, a vida.
 
E distraído permitiu escapar...
a última das emoções,
essa que encanta, extasia,
completa todos os nadas,
preenche todos os silêncios,
desconstrói qualquer solitude,
estremece... arrepia.
 
Que existir não lhe doa,
que ao menos seja um espetáculo,
um ritual lúdico e não um desconforto,
que pequenas partidas virem saudades,
e chegadas... encantamento apoteótico,
e um olhe para o outro com amor,
e sejam assim... até o fim... um porto.
 
Que para os tormentos, tenha lenitivos,
e saiba reger com maestria a solidão.
Para a aridez da alma... o mais puro bálsamo,
e saiba transpor os seus desertos,
em busca do encontro, da entrega.
Que em seu último sentimento,
esse que habita em ti, ainda possa dizer:
Eu te amo.
 
Ari Mota.


terça-feira, 22 de março de 2022

EQUALIZE










Que durante as tempestades,
tente desvendar os paradoxos,
que incomodam a tua alma.
 
Talvez o que está aí dentro...
não seja solidão,
e o que você chama de vazio...
seja apenas a tua ausência:
- excessos de outros,
e escassez de si mesmo.
 
E nesta busca você perceba...
que sonhos escapam com tempo,
e por onde andou... você não mais cabia,
seu brilho ofuscou outros olhares,
e tentaram tolher a plenitude do seu voo,
e tudo isso o fez... seguir a esmo.
 
Que depois da tempestade...
Possa,
equalizar a tua loucura,
com a tua lucidez.
Viva como se tudo fosse hoje,
sem precisar ser... um outro,
sem precisar sair em sua própria procura.
 
Gaste todas as vidas agora,
exista para descortinar-se,
ame-se... sem se consumir,
dentro deste silencio que te devora.
 
Seja intenso num só dia,
transpasse-o com leveza,
seja mansidão invés de ventania,
e silencie em delicadeza.
 
Sofra de amor, mas nunca de lonjura,
e que ele resida na tua alma,
pulse livre, e exale entrega,
e que enquanto durar... seja por ternura.
 
E se um dia a tempestade voltar...
Vá ao fundo de si mesmo,
equalize as respostas,
reconstrua-se sem medo de amar.
 
Equalize o medo e a coragem,
se tiver medo...
que seja, o de não encontrar a coragem em ti.
 
Ari Mota


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

HELENA











Oi!!!...
Sou eu...
Demorei só um pouquinho.
 
De onde vim... falaram tanto de você,
que... tive que me preparar para te reconhecer.
Minha alma ínfima tinha que crescer,
para lidar com a sua imensidão,
o seu grito transcendeu as estrelas me chamando,
eu sei...
Há boatos no universo sobre o nosso amor,
disseram-me que estivemos juntas em outras vidas,
já fomos fadas encantadas,
bruxas em noites de solidão,
por isso voltei...
 
Aí... uns anjos atrevidos,
colocaram-me nesse ventre.
Sou um presente angelical,
um pedacinho de ternura,
um encantamento.
Verdade é que sou você por inteira,
sou o que tens de visceral.
 
Estive em cada desejo seu,
sou a sua teimosia.
Já fiz parte do seu desespero,
sei que cada lagrima caiu para dentro,
mas, hoje lhe ofereço a minha calma,
saiba, estive ao seu lado, vivi também o seu silêncio,
eu só estava dormindo no lado oculto da sua alma.
Mas, cheguei para ser a sua poesia.
 
Oi!!! Mamãe!
Sabes quem sou?...sou:
- Helena.
Vim para um estágio de vida:
- aprender a ser a mulher que você,
se tornou.

-------------------------------
Helena é minha neta,
enfeitiçou o meu espirito.
Ela, ainda não se apresentou,
para o grande show da vida,
mas, já me fez infinito.
 
Ari Mota