terça-feira, 24 de maio de 2022

AS DORES QUE SENTI


 









Quando doeu-me... viver,
e me senti... à deriva,
você estava ali ao meu lado,
como um alívio ao meu desespero,
como uma porção lenitiva,
sem ninguém saber.
 
Quando doeu-me... existir,
e a vida me bateu,
você já estava dentro de mim,
como uma guardiã de outras vidas,
provocando o meu despertar,
atiçando o meu reagir.
 
Quando doeu-me... a solidão,
e a ausência quase me fez companhia,
já existíamos um para o outro,
e visceralmente éramos um só,
você já me fazia reviver por dentro,
já descontruía a minha aflição.
 
Quando doeu-me... o tempo da velhice,
e a minha pele amarrotou,
você compassiva... lembrava-me da lucidez,
do fascínio que tive em transpor os limites,
e a sedução em conseguir tudo em silêncio,
e me pedia que não me desiludisse.
 
Quando doeu-me... o medo,
e fiquei sozinho... sem estrada,
você foi embora comigo... sem destino,
ultrapassamos as divisas dos nossos desertos.
E você me... permitiu voar para dentro,
em busca do nosso segredo.
 
Quando tudo doeu...
Só o seu amor acalentou-me a alma.
E existir ao seu lado, foi-me... um espetáculo,
você atenuou todas as dores que senti:
- e espero você... em outras vidas,
você foi o meu refúgio... foi maior que eu.
 
Ari Mota


Um comentário:

Nádia Santos disse...

Sentido... belíssimo!😘