Quando jovem distribuía meus lamentos,
presenteava aos outros... minhas lamurias.
Destinava ao convívio, todo um exalar de pranto,
um repartir de choro.
Entregava-me... a deplorar ressentimentos,
e a queixar-se das desventuras.
Vertia-se em lagrimas de desespero e amimava meus medos
e mitigava minhas fraquezas.
Combalia-me nos combates, e debilitava-me nos confrontos.
Atemorizava-me com o não, com a recusa, com o adverso.
Necessitava da robustez de um ombro para suportar os soluços,
e a amparar o estremecer do corpo.
E atravessei o tempo, transpassei os ciclos,
fiz-me... prudente, discreto.
Evoluí... com os meus erros, enganos e desacertos,
e eu, que quando jovem me refugiei em outras almas,
hoje...
Fiz de mim... um porto.
Olho o mundo, as pessoas,
convivo com as diferenças,
com a inconstância humana,
com a desproporção e a aspereza do desamor,
e em silencio... me calo.
Retorno todos os dias para o colo da sensatez,
e faço do amor o ultimo sentimento do existir.
E hoje, fiz... da minha alma um refúgio eterno.
Recolho-me ao por do sol, ao chegar da negrura da noite,
asilo-me na quietação da minha própria serenidade.
Refugio-me das inverdades, e do falaz discurso,
e não o faço por medo, nem para esconder,
refugio-me para preservar...
Refugio-me... para dentro de mim mesmo,
por amor.
Ari Mota