Se ainda não pode encenar sua arte para a multidão,
se o destino não o colocou no palco da vida, e o fez uma estrela,
e os aplausos não foram direcionados a sua apresentação,
e o mundo ainda não o recepcionou, nem reconheceu o seu talento,
e tem atravessado o existir incógnito, um alguém invisível,
e seu espetro decompõe ao por do sol, e ninguém o vê.
Deve acercar-se da intenção de quebrar paradigmas,
transgredir o aceitável, e quebrantar os medos da alma,
expor o que sabes fazer de melhor, revelar o que tens de hábil,
narrar em versos, cantar em prosa, e apresentar-se em corpo,
explicitar toda a sagacidade do que escondes do mundo, de você mesmo.
Prescindível apenas espelhar verdades, e oferecer coragem ao julgo,
e sair apresentando-se neste teatro existencial... sem intolerância,
sem preconceito, sem sentenciar atitudes, e nem assinalar as diferenças.
Se, contudo, perceber que na platéia não há espectadores,
nem coadjuvantes nos bastidores do seu caminhar,
apresente-se a você mesmo... encene, cante, dance,
pinte e em delírios escreva um poema de amor,
e em madeira traceje a nudez de uma mulher, e a esculpa numa flor.
Não tenhas temor das vaias, seja juiz de si mesmo.
Retire... da alma seus talentos, e os apresente ao planeta,
o universo irá aplaudi-lo em silêncio.
Mas... se, contudo achar que ainda é pouco,
o maior dos talentos é ter vivido por amor,
e ter tido a coragem de ser feliz.
Ari Mota