domingo, 22 de dezembro de 2013

NUNCA ME... ABANDONEI

Assim é...
Você principia por inteiro, incólume... intacto... sozinho.
Depois o destino, te desembarca... para viver a sua vida.
E no inicio desapercebemos que aportamos dissolutos,
que somos apenas parte de um todo,
e que os nossos restantes, estão espalhados pelo caminho,
e que não se chega por inteiro,
vamos ter que nos inteirarmos depois,
e que ao longo do existir...
teremos que encontrar esses fragmentos,
esses pedaços, esses ensaios, esses experimentos.
- e viver é isso... sair juntando as partes,
os sentimentos.
Assim é...
No inicio... nada é logo ali... vamos ter que andar muito,
atrás dos amores,
e sondar todos os atalhos, mapear todas as estradas,
enfrentar outras tantas batalhas, estatelar e reerguer,
dançar em noites de desespero,
e silenciar num canto esquecido,
e depois... espelhar o riso,
emplumar as asas como um anjo destemido,
e enfrentar a negrura da noite, da solidão... e antes das dores,
investir nos reinícios... na mudança de si mesmo, nos valores.
Assim é... assim eu vi... assim sou eu...
Cheguei... em partes e saí à procura do restante.
Agora... já dobrando as curvas do tempo,
e inda... repaginando os sentimentos, reintegrando os sonhos,
- continuo... estampando de ousadia o meu semblante.
E como me falta pouco, e o que sobeja não são coisas,
são emoções,
mudo sempre de perspectiva,
o meu dia tem leveza, poesia e canções,
o eu de ontem... já não sei quem é.
Só sei que... o melhor que eu tinha já os recolhi,
não sou mais frações.
Este sou eu... o máximo que consegui... o todo que guardei.
Fui... catando-me por onde andei,
e ficando na alma... dos que amei.
E hoje... descobri que não tenho mais... para onde ir,
e logo eu... que quase desisti de mim,
resolvi ficar... e para dentro da alma entrei,
para descobrir que:
nunca me... abandonei.

Ari Mota



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ESVAZIA-TE

Esvazia-te...
Pois, chega um momento que temos que esgotar a alma,     
sangrar os velhos sonhos, os velhos paradigmas... sem morrer.
- Mensure outra perspectiva, duvide dos mesmos caminhos... sem correr.
Faça gotejar os antigos medos, e saiba desencher os olhos de sofreguidão,
e não deixe adoentar o existir com desmedida... aflição.
Esvazia-te...
Redija outro discurso... mas, não precisas dizê-lo... apenas o cumpra,
junte... as migalhices que guardou, jogue-as fora.
- Nada... levará de bagagem, só sentimentos, quando fores... embora.
E o que restou, faça uma triagem, recicla-os... em insignificância,
ficará por aí... moedas, terras, coisas... toda e qualquer... outra ganância.
Esvazia-te...
Se for preciso... esvaziar para entender o tamanho de si mesmo,
e saber o espaço que tens para viajar... na sua parte interior... faça.
- Sem copiar, e tudo da sua maneira, e que a sua ousadia não seja escassa.
Não se deixe, medrar por dentro, nem conjecture que tudo é solidão,
que a sua alegria não te faça diferente, mais... melhor que muitos, imensidão.
Esvazia-te...
Sem emigrar de você, e nem desistir de se reconstruir,
se vista com alinho todas as novas provocações, e com muita teima.
- Insista, renove-se, arrume-se... celebre... arda como quem... queima.
Abrace todas as outras almas... e que tenha leveza no resto dos dias,
e quem, buscar no seu semblante desanimo... encontre... alegrias.
Esvazia-te...
Lave a alma, e não acredites em tudo que te falaram,
aumente o tempo do teu abraço... e desnecessário será abraçar qualquer um,
estenda o tamanho do beijo, e no ensejo... escolha a boca que não seja comum.
Tenha seus momentos de loucura... sem ferir, sem sangrar,
ame descomedidamente, exagere no afeto... sem se iludir, decepcionar. 
Esvazia-te...
Só assim serenamente... poderá... se recompor.
Que seja sua... as escolhas, e só o que provoque prazer ...deixe entrar na alma,
coloque um pouco de silêncio, de calmaria... até podes colocar ventania,
mas, não se esqueça de colocar luz na escuridão, certeza na ilusão.
E quando lhe pedirem abrigo... além do acolher... você possa... oferecer amor.

Ari mota



sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NADA MAIS A FAZER

Cansou de odiar... vai amar.
Cansou da esquina... vai andar.
Ficou esperando a morte... vai viver.
E se nessas intemperanças... saiu trocando,
em vez de consertar.
Se... disparatou com outras almas, deixando cicatriz,
inda possível... é, se redirecionar.
O tempo é agora, neste instante, inda permitido... é, mudar.
Mas... se você não tiver nada mais a fazer...
vai ser feliz.
Se, contudo... fatiga-se pelas calçadas... arrastando as desilusões,
lagrimejando em demasia... contando as frustrações,
como quem tudo escancara e nada segredas,
e apieda-se com as próprias quedas...
precisas... é, não esperar a tempestade passar... tens que se molhar.
Se por vezes perdeu-se, e estacionou o sonho à margem de si mesmo,
esperando, escondido... o vendaval acabar,
e estagnou no meio do caminho e ficou neste desdiz,
precisas... é, engolir as lagrimas... e no rosto alegria... estampar.
Mas... se você não tiver nada mais a fazer...
vai ser feliz.
Se... cruzou os braços a espera de aplausos ou de um olhar,
vais... ter que ser platéia de si próprio, e nos olhos, brilho...colocar.
Mas, se achas que tudo tem um fim...  existir não é assim,
podes até tremer na base, nos ossos... ter até calafrios,
podes até desmedir o destino, mas nunca fugir dos desafios.
Nada acaba... tudo continua... nos céus ou na rua.
Se não conseguiu ser o arquétipo desejado... perfeição,
rebrote... reinvente-se, mas... não vá embora de você,
nem deixe ninguém drenar esta tua energia,
o que tens aí... é resquícios de outras vidas, sinergia:
vestígio de chegada, de adeuses, de encontro... de solidão,
fragmentos de desespero, de calmaria,
sobras de carinho, de amor, de combate e destemor,
restos de saudade, encanto, desencanto... sofreguidão,
por tudo isso, você está aqui... para a sua evolução,
e sabido... é, que depois de tanto tempo, tem que se transformar,
e deixar de ser aprendiz.
Já viveu tanto, aprendeu tanto, perdeu tanto, ganhou tão pouco,
que os seus dias de gloria... terão que ser sempre: hoje.
Não viva garimpando o passado, nem especulando o futuro,
se não tens mais nada a fazer...
vai ser feliz.

Ari Mota

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LEVEZA

Bom mesmo... é,
abrir o peito... como se fosse arrancar a alma,
e despertar esse anjo que aí... mora,
e sereno... tudo transmudar em sutileza,
e depois... ao longo do trajeto, jogar as coisas... fora.
Abandonar os excessos de si mesmo, sem mentir,
desancorar a intolerância dos olhos e da voz,
margear as magoas, e desfazer dos desprazeres,
e contemplar a finitude do existir,
sem estar entorpecido com os sonhos, com as ilusões,
e nem se perder num desalento atroz.
Bom mesmo... é,
abrir o canto... de alegria, transfigurar-se em contemplação,
falar pouco... quase nada... emudecer,
mas... quando pedirem o seu grito:
Que ele ecoe sem ferir, sem machucar,
e que seu discurso tenha a leveza de uma brisa,
e a intensidade de uma tempestade.
Podes... até ter uma vida monástica... e vire silêncio,
sem se enclausurar.
Podes... até caminhar por todas as estradas em dias de temporal,
mas, eternize o seu sorriso em dias de solidão.
Podes... até, ter no caráter um traço inabordável,
mas seja aberto... a luz, nem que seja de um vaga-lume,
não basta contemplar uma rosa, tens que tomar de assalto o seu perfume.
Leveza não é somente ouvir uma musica, é sentir a sinfonia,
e pouco é molhar-se ao mar, tens é... que ouvir o murmúrio das ondas,
e ínfimo é viver dizendo eu te amo... assim fica incompleto,
tens é... que ter um lugar na alma para o afeto.
Mas, se passou por aqui e não conseguiu arrepiar a alma...
com as emoções da vida, com a doçura de um poema,
com a beleza de um riso, com a delicadeza de uma flor,
pouca coisa valeu... só passou por aqui e embruteceu.
Leveza... é andar suavemente sobre suas escolhas, suas conquistas,
seus deslizes, suas culpas e a tudo recompor,
e depois... saltar sobre os abismos do medo e se encontrar.
Leveza... é,
se tiver que partir não ter nada para levar...
além do amor.

Ari Mota

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ABRAÇOS NA ALMA

Vou te contar...
O que me fartou não foram às coisas... nunca as carreguei,
o que me provocou escaras... foram os sentimentos,
e trazê-los quase virou tormento, quase que desabei,
anuí em demasia, e aos outros, emprestei-lhes muito o meu sim,
e em recusa não ponderava nada para mim,
e foram tantos os tropeços, as surras que levei,
que o destino me achou em deleite... foi indulgente... enfim.
Peguei... outra estrada, outra coordenada,
foi um salto quântico, que me levou além dos sonhos, mudei...
Não tive escolha, vim embora do meu passado,
desisti de lá morar,
como o tempo... que há de vir, não me pertence,
e por não saber do amanhã... tive que acontecer hoje,
ínvia... foi-me ir e depois... voltar.
Hoje... se me vires passando como um mago em descompasso,
talvez... carregando um semblante austero, aparência sóbria,
- não se assuste... não passo de um menino... atrás de um abraço,
que no final procura compensar o começo,
das razões erradas, e dos desacertos que hoje desfaço,
e não mais... sufocar-me com a ausência de emoções,
nem vivenciar dogmatismos, ou outros olhares... em provocações,
passei a ser eu, sem me arrepender.
Hoje não mais abraço o corpo... virou um lugar comum,
em alucinação... hoje, abraço... a alma.
E todas as vezes que assim faço... troco alegria... provoco sinergia,
sem fingir, sem ninguém saber.
Hoje... se me vires... cabisbaixo... passando na rua,
- não se preocupe,
fui ficando transparente... se me olhares bem, verás... além de mim,
- enxergarás a minha alma,
e se fechares os olhos, sentirás o que nunca sentiu,
- eu abraçando a sua.
Vou te contar... no mar da minha vida, tudo se reproduz,
ondas são brisas, vento vem e vira calmaria, e a tudo... amenizas,
e assim vou seguindo... poucas sombras e muita luz.
Existe dentro de mim uma janela aberta ao universo,
para que todos os dias eu possa... sem temor,
abraçar a alma do mundo,
com amor.


Ari Mota

sábado, 19 de outubro de 2013

A VALIDEZ DE UM SONHO

Podes... até achar que a multidão é companhia,
ou que vaguear em solitude... é andar sozinho.
Podes... inclusive verter-se em desespero,
construir hiatos... no meio da madrugada,
e desesperançar... no transcorrer da estrada,
por não atinar o caminho.
Podes... até planear pedir ajuda,
ou estender os braços oferecendo o seu destino.
Podes... inclusive acovardar-se em desculpas,
fugir, fingir e não assumir as culpas,
e perder-se em desatino.
Mas... verás... que para orquestrar o próprio sonho,
não precisarás de coadjuvante, terás que ser o protagonista.
Terás que fazer as malas... ir passear na frente do próprio tempo,
e em todas as manhãs se refazer... livre de qualquer vento,
e crer, que tudo ainda está para acontecer... e vendo isso... insista.
E verás ainda... que podes até tropeçar nos sonhos, no meio da via,
e não fazer dele uma rampa... onde se salta sem limites.
Mas... então, terás que... acender os olhos, afoguear os desejos,
ser... o único interprete das suas escolhas, ser faísca... lampejos,
ser uma coletânea de si mesmo, em silêncio, sem que... grites.
O tempo de um homem... é a validez do seu sonho,
a ressonância da sua energia... que contamina, espalha.
Sonhar... é estar feliz, é caber no instante presente,
sem ressentimento do que viveu, ou do que virá em vertente,
é maturar candura, farejar equilíbrio... abandonar o que abrutalha.
A validez de um sonho... está nas tentativas,
na insistência, na formatação da luta.
Na ousadia de levantar mais cedo, rasgar os velhos projetos,
provocar o novo, fazer uma assepsia na alma, nos desafetos,
e reiniciar com brilho, renascer latejante, de forma revoluta.
A validez de um sonho... está nos segredos da alma,
que descortina... para os que não querem o comum,
e fazem... diferente, com toda a serenidade, e calma.
A validez de um sonho... principia com todo o fulgor,
para os que são maestros de si mesmo,
que erram, entram em descompasso... perdem o ritmo,
e precisam recomeçar...
e passam a entender que não basta... sonhar,
tem que revalidar o que carregam de visceral:
o amor.

Ari Mota


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SABES...DE ONDE EU VIM?

Eu vim de uma terra chamada “luxeza.”
Moram nela... os utopistas e os poetas.
Lá é um luxo só... não temos nada,
é tão... escasso as “coisas”, que pactuamos só ter sentimentos,
e tudo parece um paradoxo... um disparate.
Mas, vez em quando... cruzamos por lá, com:
Raul, o Profeta Gentileza, Osho e Nietzsche...
e passeamos em silêncio, sem nenhum debate.
E depois... surfamos em manhãs de delírios, com Fernando Pessoa,
Vinicius, Drumont e fazemo-nos ao mar... em ondas inquietas.
Lá, tudo é para sempre... não lidamos com o imediatismo.
Como vamos ter que conviver até o fim, com... o que somos,
gargalhamos com os nossos defeitos e ocultamos nossas virtudes,
mais amiúde, aprendemos a nos amar...
sem ser menos, ou aumentar... não nos embriagamos com altitudes.
Lá não há declínio da vida, é só um lugar que vamos passar.
Morrer como? Lá tem uma praça... tem um coreto,
compomos nossos poemas, e perpetuamo-nos... em nosso soneto.
Lá não tem muros... são apenas cercas vivas... de rosas vermelhas.
Eu vim de um lugar que os meninos são mais homens,
e a beleza... das meninas, não esta na zona inferior do dorso,
estampam e resplandecem na alma... e a tudo espelhas,
e são pétalas brancas, sutileza... flores,
e em vez de selos... colecionamos amores.
O nosso Deus... lá, não tem religião,
não nos provoca medo, e nem conosco tem... segredo.
E o nosso único templo é o universo,
e a ele nada pedimos, só agradecemos em oração,
às vezes... na singeleza de uma poesia, ou de um verso.
Lá tem rampa para saltar livre sobre os abismos... em alegria,
tem rock and roll, para as noites de solidão,
Albinoni para as tardes de calmaria,
mas, tem Ravel para dançar em madrugadas de paixão.
Sabes... de onde eu vim?
Eu vim de uma terra chamada “luxeza.”
Lá se fala de sonhos, planta-se sensatez,
estamos em sintonia com a alma e a própria luz,
firmamos contratos... só com o olhar,
e, há apreço entre nós... e tudo se transmuda em beleza.
E agora... sem demora... estou indo embora.
Até tentei ficar... sem palavrear nenhum clamor.
Mas enojado... com as posturas irascíveis, deste lugar,
e cansado... e com saudades... tenho que voltar.
Lá, de onde eu vim... tem mais amor,
e não é tão longe assim...
- é aqui... dentro de mim.

Ari Mota

domingo, 29 de setembro de 2013

A NITIDEZ DA ALMA

Precisas... é,
dar relevo ao tempo que medeia...  o chegar e o partir.
É entre esse intervalo... que irá suceder nossas vidas,
é entre esses extremos que passamos com o nosso existir,
que espacejamos nossos triunfos e nossos fracassos,
amamos sem querer, beijamos sem prazer,
odiamos demasiadamente e não achamos as saídas,
e tropeçamos ao meio da noite com o medo e a solidão,
e no princípio da aurora, quando o amor esmurra a porta:
- trememos de pavor... de aflição.
Precisas... é,
desdobrar as asas para sustentar o vôo... antes de tudo terminar,
estender o impulso e saltar sobre os abismos de si mesmo,
e sentir o esbarrar na face... do vento trazendo o recomeçar,
e depois repetir, ensaiar e tentar... quantas vezes... necessário, for,
sem culpa, desculpa... sem nada tirar, sem nada por.
E voltar... ressurgir como sempre foi, verdadeiro... textual,
e transparecer... sem se importar para os que te olham e julgam,
ao encontrar em nossas almas um selo autêntico e atual.
Precisas... é,
reforçar o riso... para enfrentar as vicissitudes,
e dançar em madrugadas de alegria, sozinho na praça... no jardim,
acender a alma, afoguear de paixão o dia,
a vida... é muito para um dia ter um fim,
mudamos... apenas de palco, de publico... do aplaudir.
E nossa apresentação transcorre... assim,
e o melhor do nosso espetáculo, da nossa exibição,
mesmo com as pernas tremulas, boca seca... será o nosso aguerrir,
nossa coragem para ser feliz... nossa infinita... decisão,
de sempre e em qualquer tempo... continuar.
Precisas... é,
realçar a nitidez da alma,
refletir-se em singeleza... beleza até.
Não permitir que o olhar se perca... sem ternura,
e esqueçamos... do abraço, do descompasso do afeto,
do respeito, do perdão incompleto,
e tudo conceber com quietação... e com candura.
Precisas... é,
passar por aqui com o seu melhor show.
E se tiver que ir embora... amanhã ou agora,
saiba que... tudo valeu o zelo... e nada irá recompor.
- passou...
e transluziu-se de amor.

Ari Mota

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CHEGAR...

Chegar aonde?...
Com toda essa pressa... com toda essa velocidade desvairada,
esse desespero, essa convivência desnorteada,
- se não sabes... nem aonde vai,
e como se efêmero fosse a estrada...
e dela tudo que se... extrai.
Chegar aonde?
Com toda essa impaciência de tudo acabar,
esse desejo de tudo terminar,
se não sabes o tamanho de um instante... nem de um olhar.
Chegar aonde?
Com toda essa urgência...  esse indefinível desatino,
essa fugacidade descabida, esse risco de perder-se ao meio do destino,
e virar-se ao avesso... a procura de si mesmo... e nada encontrar.
Chegar aonde?
Com toda essa rudeza, exalando aspereza, tomado de gestos hostis,
ferindo sem sangrar, deixando cicatriz sem tocar,
e almejando... chegar sem ser feliz.
Chegar aonde?
Se... é no percurso que se encontra o assombro... do que é viver.
Se... é no caminho que norteamos nossos sonhos, nossa lucidez.
E, é no trajeto que abandonamos nossa pequenez,
e fartamos nossas almas de grandeza, não a permitimos enrijecer.
Chegar aonde?
Se... é nos atalhos que encontramos nossos amores,
rastelamos as folhas secas, plantamos ousadia, e regamos nossas flores,
ouvimos os bem-te-vis, descansamos a sombra do jequitibá,
e em noites de aflição, resiliente que somos... dançamos com a solidão.
Chegar aonde?
Se... é na travessia que deparamos com a nossa coragem,
transmudamos vendaval em aragem,
e andamos beira mar, enfrentando as ventanias,
e nas madrugadas de insônia, vencemos nossas agonias.
Não espere chegar a lugar nenhum... nem em alhures,
desobrigue a alma... a sentenciar outros destinos e nem censures.
Viva assim... vai sem pressa... como se hoje fosse o derradeiro dia,
se não conseguir ser silêncio, seja ao menos calmaria.
Essa ânsia de chegar...
Ou, de achar que tudo tem um fim,
e não aperceber que existir é pura teimosia,
-  só tem um caminho a seguir... um lugar:
Voltar para casa... voltar para dentro de si mesmo,
com amor...
e alegria.


Ari Mota

sábado, 7 de setembro de 2013

OS MEUS DESASSOMBROS

De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas.
Difícil foi em plena escassez... identificar os excessos,
e se recompor, rebrotar,
e saber... que tenho também momentos de desfolhas.
Perco às vezes a exuberância, murcho em noites de solidão,
e do mesmo modo... irrompo alucinado com a minha luz,
inibindo a escuridão,
deixando pelas estradas o que a mim nada... apense,
ou me apequene... e não me faça aumentar.
De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas.
Quando envelheci tive que corrigir minha órbita,
coisas que não consegui fazer quando na juventude.
E hoje, passei a permitir... gravitar em torno da minha alma,
somente os que tem angelitude,
espio sem escolher... aos que gravitam ao meu lado,
e faço com zelo e cuidado.
E assim... no meu campo magnético,
circulam e só permito borboletas em alucinação, poetas,
vaga-lumes que iluminam os meus delírios,
bailarinas loucas, sonhadores e almas inquietas.
E venho formatando a minha importância... sem ser mais, nem menos,
e bem sei que estou longe da plenitude.
Como tive uma segunda chance,
libertei-me dos pactos de vingança,
já não mais carrego, agarrado alma... ódio, e nem na lembrança.
Cheguei até aqui sereno em busca do meu estado pleno,
e fiz tudo... com toda a calma,
transmudei tanto, me replantei em demasia, e por analogia,
fiz... da terra, o meu corpo, da água, o meu sangue,
do ar, a minha respiração...  e de fogo a minha alma,
queimo-me... em ousadia.
De todos os meus desassombros...
o maior deles foi quando fiz... eu, as minhas escolhas,
coloquei candura no olhar, brandura nos sonhos,
e fiz tudo para ser feliz,
e a vida foi-me surrando de felicidade,
e hoje... deixo-a, que me bata para valer,
apanho todos os dias... em silêncio.
De todos os meus desassombros...
o maior deles... foi um caso de amor pela vida,
e na verdade foi... quando escolhi os meus amores,
os aconcheguei, apertei na alma, e caminhei com eles... nos ombros
e com toda a coragem... os deixei livres... amei sem ser meu,
foi amor desmedido... loucura descabida.
De todos os meus desassombros...
o maior deles... foi, ter sido “eu”.

Ari Mota

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O DOM DA TRAVESSURA...DE SEMPRE TENTAR

Para... aos que tenho amor,
tente... quantas vezes... necessário for.
E todas as vezes que perceberes a lonjura do caminho,
feche os olhos, como quem procura... com quem andar,
eu estarei em quietude ao seu lado, me espie em ilusão,
não cisme que está indo sozinho.
A vida foi-me acontecendo assim...
e fui me edificando, como se não fosse a outro lugar,
e depois de vaguear por um tempo, perdido...
entre a duvida e a incerteza,
e brincar de medo... em noites de solidão,
e por diversas vezes,
assustar com os relâmpagos em noites de temporal,
e encolher-me... com a minha timidez,
e temer a escuridão,
eu fui me encontrando, ultrapassando as fronteiras de mim.
Eu pensei que não tinha um dom... até que descobri um:
a ousadia de nunca arrefecer...
a travessura de sempre tentar.
Para... aos que tenho amor,
tente... quantas vezes... necessário for.
Virei silêncio... ando ouvindo os sons da minha alma,
aprendi a orar.
Não sou mais tormento, virei calmaria,
ando reaprendendo a me replantar em todos os lugares.
Sigo-te... se fores nas estrelas, ou arriscar nos mares,
se fores tocar violino nas montanhas,
ou bebericar nos bares.
Tente... quantas vezes... necessário for,
mas, faça tudo... ter amor.
Eu gosto é dos que sonham em demasia,
ficam resiliente ao desabrigo,
e de atrevimento se contagia.
Minha alma não tinha asas, até que um dia...
um anjo... emprestou as suas,
passei a esvoaçar, pelo universo, belos becos,
pelas ruas,
aplaudindo aqueles que...
tem o dom da travessura...
de sempre tentar.
Eu amo quem continua.

Ari Mota




sábado, 17 de agosto de 2013

REBROTAR

Depois de tudo...
Eu quero é rebrotar.
Por vezes...
Tive pressa, para não chegar a lugar nenhum,
e, fugazes foram os beijos... e não amei ninguém.
Ensaiei em demasia... abraços, e não consegui repartir a alma,
apropriei-me de um andar sozinho e de uma descabida solidão,
por vezes pedi licença... para passar com a minha dor,
e fiquei neste vaivém.
E depois de tudo... por vezes... e não faz muito tempo,
absorto num mundo que achava ser só meu,
vi que estava à procura de plateia.
E como temia o abrir das cortinas, da minha odisseia,
esperei os aplausos e nada disso aconteceu.
Mas, bom mesmo... é que dei um basta nesta ilusão.
Depois de tudo...
Fiz uma reengenharia das minhas fronteiras, saí de mim, sou o que sou,
e na descoberta vi que estou em tudo, em todas as partes,
parei de ser irresoluto... hoje só vou.
Hoje... por vezes reclamo licença... para passar com as minhas certezas,
descobri que o medo devora os sonhos,
e o excesso de desassossego distancia-me da energia que carrego,
provoca inquietação.
Hoje... peço ao universo que me permita... rebrotar.
Lido melhor com o meu silencio... que, com as minhas palavras,
a linguagem da minha alma é a contemplação.
Há!... sei que não vou conseguir salvar o meu corpo que se acabe,
mas, resiliente, cresço todas as manhãs,
estico a alma, a norteio... para o melhor de mim,
escoro-a com a sutileza dos meus sonhos, não a permito que desabe.
Bem sei... andei a remendando, costurando-a pelo caminho,
a teci com coragem e com ela... enfrentei vários vendavais,
e este sou eu... esta é a minha alma, sem cicatriz, nem espaço abissais,
a liberto das coisas pequenas... e existir é uma grandeza sem fim.
Depois de tudo...
Eu quero é rebrotar... com todo o fervor:
“que o universo me replante ao lado das pessoas que hoje amo,
                      faria tudo novamente... como fiz,
                               e as amaria como sempre amei,
                                                   com todo o meu amor”.
                                                              Ari mota

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A MINHA SAGA

Às vezes me encontro...
nas imensas cavernas, nas grutas internas... que tenho na alma.
Passo lá vez em quando... só para me abrigar,
ponho-me quieto, sei que é... onde, com o silêncio conspiro,
e com ele... das rudezas do cotidiano me... retiro,
e sereno recolho-me... em mansidão.
Quem me olha... vê um tímido em desamparo, parece olhar de solidão,
é que...  este é o meu único refugio, não consigo ir noutro lugar.
E tudo em mim... iniciou assim...
ao toque de um tambor... em torno, e ao lume de uma fogueira,
tive que acolher a rosa, o espinho, sem me intimidar com a roseira.
Mas, tudo isso é apenas um cerimonial... onde, me acho, me vejo,
e ao meu caminho... o destino sempre me reconduz.
Verdade é, que ali... viro pelo avesso a escuridão que me habita,
e descubro o rito de ser incomum e o atrevimento de não ser mais um,
e de encontrar com a própria luz.
Depois, olho para fora de mim...
Não conto os amores, só sei que tenho poucos... intensos, imensos,
e os tenho dentro do peito, da alma... sem ferida ou cicatriz.
E na tela branca, escrevo o que vivi, tentando ver além do que pretendo,
descrevendo as minhas escolhas, os meus descaminhos, e acertos,
e das coisas que tive que abandonar para ser feliz.
Serei sempre uma obra inacabada, em reforma,
estarei sempre construindo pontes, entre os meus desejos e sonhos.
E todos os dias... pela manhã, acendo a minha luz, e estico o meu passo,
tenho que andar muito, descobrir o que ainda não sei,
amar o que ainda não amei, abraçar o que ainda não... encontrei.
Às vezes me olho... com espanto,
tive a coragem de desistir da culpa e das desculpas,
dos medos e do passado, do apego e do pecado,
de achar que tinha limites, e que não posso mudar.
E esta reengenharia... me reconstrói, me coloca de pé... levanto.
Do que vivi, não encontrei nada a tirar... nem pôr.
Como não sei se estou pronto:
Só sei, que a minha saga é jamais perder o ritual do encontro,
o ritual do amor.


Ari Mota

domingo, 21 de julho de 2013

A LUZ QUE VOU DEIXAR

O melhor de mim estava no começo...
A expressão do meu olhar era de perguntas, ceticismo.
Era de dúvida mesmo!... e o fiz para ter certeza do que estava vendo.
E nem tudo, que me disseram... acreditei.
Nem tudo que li, me... convenceu.
Espantei-me com tudo isso, e para não ficar um vazio,
carreguei a alma de resiliência e sonho... e nada em mim esmoreceu.
Fui tecendo os meus dias... fui construindo as minhas buscas,
e tudo foi sucedendo, mudando... e assim vivi... e a tudo experimentei.
Enojei-me com alguns, outros em demasia... amei,
fiz alguns ensaios, tomei distancia e fui... saltei,
houve abismos... que quase não consegui atingir o outro lado,
quase me enrosquei pelo caminho... quase fiquei em desalinho.
Mas, fui me reconstruindo, desapegando das ninharias,
estremeci com as escolhas, com as triagens que fiz,
e com todas as noites de agonia... que passei,
mas, fui me dilapidando, extraindo as cascas mortas,
desvestindo-me, despojando da mesquinhez do ter coisas, sem ser livre.
Lembro-me bem... um dia,
em desespero fui bisbilhotar o futuro, ele me olhou acintosamente,
vi que ele não me queria lá, nem me receber... franziu a testa.
E como não tive outra forma de me antepor, fui com o passado conversar,
e falamos dos desacertos, dos tombos, dos consertos... do levantar.
Mas... nem o temor do futuro, nem o que ficou perdido no passado,
acalenta-me tanto: como o “presente”... que me abraça,
afaga a minha alma, e com ela me eleva, me faz voar,
faz-me pulsar enlouquecido pela vida... faz-me festa.
E assim...
vivi com vários “eus”... e fui descartando alguns... pelo caminho,
outros... desfiz, por ausência de convivência, e tive que seguir sozinho,
outros tantos... rejeitei por incompatibilidade intelectual, achava-se o tal.
Recusei a companhia de vários “eus”, e outros foi um desprazer.
E assim...
Fui transmudando-me, me refundido, sem nenhum certificado de grandeza,
hoje luto... só para ser o melhor de mim.
Das mesas que participei, nunca fui o centro, e nunca pretendi,
ali não se define o sonho pessoal e este não abro... mão.
Sou mais que matéria em evolução, sou alma fugindo da solidão,
não vou conseguir iluminar todos os caminhos, pela vida... afora.
O melhor de mim na verdade não estava no começo,
descobri depois de um longo tempo... que, nem no fim.
O melhor de mim estará... num raio de amor, na minha luz,
que vou deixar na sua alma,
- depois de ir embora.


Ari Mota

quinta-feira, 11 de julho de 2013

PARA NÃO DESISTIR...

Eu... às vezes saio de mim... só para me contemplar,
só... para asseverar se aquele ali sou eu.
Olho-me... encaro-me, vou além de mim, com toda a calma.
Não procuro similitude à beleza, nem a expressão da imagem,
o que busco... o que vasculho, é o que cativei na alma,
o que vivi...  a força que tive para nunca desistir,
e das tantas vezes que tentei... experimentei acreditar em mim,
e na minha coragem.
Eu... às vezes saio de mim... só para me observar,
só... para assegurar se o que carrego é meu.
E eu, que queria tanto, saí... tresloucado a procura de tudo,
tentei juntar tesouros, respostas, coisas,
tentei até descobrir quem eu sou,
e inadvertidamente o destino me fez... conter-me com o necessário,
e tudo isso me bastou.
Eu às vezes saio de mim... só para me ver,
só... para ter certeza se aquele ali... sou eu.
Visível foi que o tempo disfarçou o que de moço eu tinha,
e veio me testando... carregou o ombro de desanimo, me apoucou.
Mas, resiliente... fui contornando os descaminhos, os medos,
semeei teimosia, destemor e afastei de tudo que me amesquinha.
Eu às vezes saio de mim... só para ter saudade... e depois voltar,
achei que tudo estava sempre depois do horizonte, além de mim,
e na verdade... tudo está aqui dentro:
A solidez da luta, a firmeza para combater as vicissitudes,
e a temeridade para afrontar os desafios,
e não desmoronar.
Eu às vezes saio de mim... só para ver o que tem depois... da alma,
e me vejo ali... sozinho, vazio,
sem ninguém para dizer-me: não desista.
E daí... volto correndo para dentro... em festa,
eu, minha alma... a bailarina louca, duas borboletas,
dois bem-te-vis, e um beija-flor...
e vamos bebericar taças de vinho... ao pé do meu jequitibá,
e docemente celebrar o silêncio... a nossa resistência,
a nossa coragem para ser feliz.
- a força do nosso amor.

Ari Mota


quinta-feira, 4 de julho de 2013

OS EXTREMOS DE MIM

Assimilei muito bem, ao longo dos meus dias,
dos meus acasos, do que vivi... todos os sentimentos.
Confesso, experimentei todos eles,
houve aqueles, que invadiram a minha alma... sem avisar,
e disfarçados... travestidos de pura indelicadeza,
instalaram dentro do meu peito... incerteza,
mas, já os mandei embora, mandei... andar.
Outros tomaram de assalto com brandura,
e acomodaram candura no meu olhar.
Como falei pouco de mim, do meu universo interior,
o tempo me permitiu... depois dos descaminhos,
jamais desplugar dos sonhos, do meu caminhar.
E na descoberta, e depois de tudo isso...  só existe a chegada,
estou indo não sei para onde, nem sei o lugar,
eu tenho é que atingir esta distancia com todo o resplendor.
Por tempos... venho afogueando a energia da minha alma,
encontro atalhos... altero a sua freqüência,
faço-a emanar para fora de si mesma, em resiliência,
e em noites de solidão... brincamos de silêncio,
lavo a minha alma com as estrelas, e dormimos ao luar.
De todos os sentimentos...
somente de dois, tenho o maior desvelo:
o tamanho da minha coragem e a do meu medo...
e sempre entre eles, estimulo e provoco o confronto,
sem nenhuma inquietação, cuidado até... sem atropelo,
e com coragem, ao medo... eu afronto,
um tem que ser maior que o outro, pura disputa
e esses são os meus abismos, são os meus extremos,
a temeridade da minha luta.
Minha fraqueza... supro com os meus amores,
com almas comuns, com as minhas escolhas, sem fingir.
Olho-me com coragem, meus olhos vibram como sempre,
e isso me faz seguir.
Como falei pouco de mim, do meu universo interior,
talvez toda essa batalha, esse medo... seja só, para...
quando chegar ao topo... encontrar,
nada além de mim,
nada além da minha coragem,
nem do meu amor.


Ari Mota

domingo, 23 de junho de 2013

O DESPERTAR DE UMA ALMA REVOLUCIONÁRIA


“Quando... a dúvida chega me roubando à lucidez,
eu me espelho na natureza... ali tudo se renova... “segue.”


Acordei assustado...
Visionário, sempre sonhei com isso... mais parecia uma alucinação.
Na minha calçada encontrei uma alma revolucionária, que despertava.
Tinha um cartaz “os idealizadores da revolução estão aqui... na rua.”
Olhei em volta e ele não estava sozinho, era uma multidão.
E emergindo de um ostracismo de gerações,
havia os que bradavam, outros perplexos, outros passavam,
e a maioria... docemente cantavam suas canções.
Estavam reinventando o improvável... eram lideres de si mesmo.
Chegaram dilacerando a inércia, sufocando a indolência,
e tudo brotava da alma, vinha de dentro, de dentro do peito,
em resiliência,
nascia da quietude de quem nunca teve o direito de indignar,
e era uma força imperceptível, agregadora, pura adesão,
de quem absteve do grito, da prerrogativa de nunca participar.
Chegaram assim... descomprometido sem nada dimensionar,
reinventando a revolução.
Mas... de tudo... a maior beleza era a mudança interior.
Uma reforma descomunal... de atitude, postura,
e importunados com a ausência de apreço,
com a desonra de não ser ninguém,
e cansados com os discursos vazios, insurgiram...
ávidos para encontrar outros paradigmas, um novo horizonte,
outras verdades e conviver com mais brandura.
Foram para as ruas sem medo, sem segredo.
Chegaram para mudar...  redesenhar uma outra perspectiva,
não é possível sonhar sem ação... sem sair na rua, pisar no chão.
Fica impossível falar sem fazer, ou esperar tudo acontecer,
e não desdenhar quem coisifica as pessoas e o nosso sonho.
Mas... de tudo... o que fica...
É o grito do silêncio, o grito de uma revolta pacifica.
E eles... pediram-me, ”por favor,”:
Se você esta chegando agora... dê-nos um tempo, estamos em reforma,
se não tiver outra coisa a fazer... vem conosco.
Vamos ter que reler toda a história... para fazer e escrever a nossa,
com mais amor.


Ari Mota

terça-feira, 18 de junho de 2013

"ISSO NUNCA PASSA"

Às vezes, me devoro com os olhos...
Olho-me... com estranheza, espanto imerecido,
questiono o imprevisto, o que de súbito caiu como uma tempestade,
e encharca a alma, e despenca em lágrimas... face abaixo,
abrindo um vazio, um buraco, uma imensa cavidade.
Às vezes, avidamente me contemplo...
Olho-me... com beleza e pasmo... feliz... estou embevecido.
Danço em alegria, conto estrelas... faço poesia,
e em noites de silêncio, agarro a minha alma e ela em mim,
e nós, nos aquecemos em madrugadas de calafrio.
Outra hora... vejo-me assim... tomado de sofreguidão,
e depois... um contentamento me abraça em êxtase,
e sutilmente vem abater a minha aflição.
Mais pareço... metades:
Sou inquietude e calmaria... noite e dia,
celebro o afortuno, e depois me calo em frente... a agonia.
Às vezes me encaro... em busca dos meus limites, do que sou,
como não consigo encontrar coerência no meu existir,
provoco os meus acertos e desafio os meus erros,
desabo ali... levanto em seguida, e assim, sucessivamente... eu vou.
Não quero saber quem inventou a distancia, nem o tempo,
não quero saber quem criou a incerteza, nem a dúvida,
tão pouco necessito conhecer quem trouxe a alegria e a dor,
só sei que tudo é fugaz como uma ventania,
hora... o destino me diminui, outras vezes me permite recompor.
E tudo vem... às vezes como um temporal sem fim.
Traz desventura, amargura, depois... riso e destemor.
Outras vezes instala como um posseiro e não sai de mim.
Só sei que... isso também passa...
Some o desassossego, desfalece a inquietação,
e a alegria vence a solidão.
Aí eu... tento outra vez... sonho de novo,
a vida não vai morrer comigo... tudo é uma doce continuação,
minha dor só serve para mim, minha alegria... espalho... por aí,
e para os outros... deixo a elegância do meu riso,
mas, sei que isso também passa...
mas se preciso,
deixo o que jamais desprende da minha alma,
e “isso nunca passa”...
o meu amor.


Ari mota

sábado, 8 de junho de 2013

INSISTO TANTO...

Insisto tanto,
que... uma gota de alegria... converto em temporal,
e saio dançando na chuva, como se fosse a última dança,
a última paixão, o último desejo, o último suspiro de ânimo,
sem o lamento do depois, nem o medo do inusitado,
do inesperado, que me aborda... olha-me,
de forma espectral.
Insisto tanto,
que... um passo que dou... é todo o meu caminhar,
só me resta ir... minha alma me arrasta,
puxa-me, aviva os meus sonhos,
instiga os meus vôos, incita os embates,
e não me abandona na solidão dos combates,
nem me faz desistir ou voltar.
Insisto tanto,
que... um segundo de tempo... inda é, uma vida a desfrutar,
inda posso em contemplação... ver as estrelas,
a sutileza de um olhar, a leveza de um sorriso,
e se preciso um abraço em devaneio,
e no meio... um beijo de improviso,
e tudo ainda... mudar.
Insisto tanto,
que... vou seguindo sem destino, sem nada interromper.
Tudo, nada mais é que... uma continuação, nem inicio... nem fim,
nem certo... nem errado, o que fica são... só as escolhas.
Então... ando armazenando coisas boas aqui dentro,
no fundo da alma, na vastidão de mim,
e tenho vivido assim...
As coisas ruins... as ventanias levam em noites de tempestades,
o tempo... as esconde, ou quando não... calejam o existir,
e sem me agredir... tudo se desfaz na imensidão das verdades,
sem provocar... sem querer.
Insisto tanto,
que... a minha vida vai se revelando, descortinando,
vou me avistando tão pequeno, tão grande,
na descoberta...
vi... que minhas lagrimas tem o sabor do mar,
o meu vazio... o tamanho e a lonjura do horizonte,
a minha incerteza... é idêntica ao dia de amanhã,
e minhas dúvidas são parecidas com os mistérios da existência.
Eu vou é continuar insistindo... sem temor.
Só vou chorar... de frente para o azul da minha alma.
Para os meus vazios... vou ocupar de perspectivas.
Para as minhas incertezas... vou colorir com todas as manhãs.
E com as minhas dúvidas... vou segredar com o meu riso,
vou fabricar alegria... todos os dias,
e insistir no amor.

Ari Mota


domingo, 26 de maio de 2013

O ENCANTO... DA QUIETUDE

Vez por outra, me recolho dos temporais...
Encurto-me, faço-me pequeno... para caber dentro de mim.
Em um tempo já passado... inventei que era de medo,
hoje, gasto pelas desventuras, a percebo apenas... como incomum,
fiquei seletivo, não mais travo batalhas com qualquer um,
a inabilidade do oponente... rouba-nos a energia, altera a freqüência.
Dentro de mim tem uma alma e dois corações... um que pulsa,
o outro é livre nas escolhas... resiliência.
Busco o que de mais moderno tenho no olhar... sem tormentos,
penso menos, realizo mais... sem envelhecer os meus questionamentos.
Bom que... consegui ver o existir de outro prisma,
no principiar dos meus dias... achei que tudo era uma guerra,
depois, o aceitei apenas como um ligeiro combate, nada me abisma.
Vez por outra, me recolho...
E uma das vozes da minha alma, é a busca da quietude, é o meu clamar.
É na verdade... quando consigo ouvir o meu silencio,
é quando fujo da escassez de argumentos, do vociferar,
e em valentia... sei que preciso competir só com os maiores que eu,
ali... aumento-me, torno-me mais interessante... melhor,
e...  fica inelutável combater em desespero, em todos os vendavais,
vez por outra... recolho-me para não lutar.
Sem perder... evidente, aqueles olhos pulsantes, vibrantes,
vermelhos de vida, puro clarão,
guardo as armas, paro de contar os mortos, abraço os vivos,
e mando cartas de amor, dizendo que vou voltar.
E minha liberdade inicia aí... o silencio vem me fazer companhia,
e um anjo assenta ao meu lado... segura a minha mão,
e entra alma adentro... vasculhando resíduos de esperança, de ousadia,
restaurando sopros de sonhos, reconfigurando traços de alegria,
e me refaço... intenso, imenso dentro da minha própria pequenez,
sem desabar no abandono da solidão.
Vez por outra... recolho-me, vou para dentro de mim, sem nenhum temor,
lá encontro, num canto... o encanto da minha própria quietude,
olhando para as estrelas em silêncio,
brincando de inocência,
brincando de ser feliz,
brincando de amor.

Ari Mota


sexta-feira, 10 de maio de 2013

AS JANELAS DO OUTRO LADO DA RUA

Há... minha teimosia,
desmedida como sempre, atrevida sem igual,
inda nas Gerais dos meus sonhos... lembro-me como hoje,
queriam... tracejar o meu destino, mapear o meu caminho,
ensinar-me como dançar em alegria, e como se murcha em agonia.
As janelas do outro lado da rua queriam fazer de mim... mais um,
acertou o alvo, porém errou no objetivo... fiquei diferente.
Nunca procurei saber se elas estavam à meia folha ou totalmente abertas,
apenas passei olhando para as estrelas.
E assim vou... uns me olham como um estranho, outros como um dissente.
Verdade é que... discordo dos planos de vôo, destôo da cadência da musica,
minhas asas seguem todos os ventos e minha dança todos os ritmos.
Deixo para trás tudo que, me deixa para baixo, levanto e vibro o meu hoje,
caminho em prumo, com atitude, como quem sabe aonde ir... pisar,
pois, entre o medo e a dúvida... opto em sonhar.
Eu sou... é livre.
Não sei ver uma folha em branco sem escrever uns dizeres,
e meus poemas, brotam desta alma inquieta.
Como também, não sei ver uma tela em branco, sem uma arte estampada,
nem uma pedra bruta sem a escultura de um artista
não consegui ter uma visão comum... sem ser poeta.
As janelas do outro lado da rua... tentaram me patrulhar,
dei-lhes, o ombro... ofereci o meu silêncio... e fui,
não posso me aprisionar a quem me diminui,
carrego um feitiço... em somente voar.
Minha alma flutua livre e comigo faço sintonia,
sem a tirania das cercas, e com a leveza de um menino em ousadia.
E as janelas do lado da rua... serão sempre janelas,
eu me espelho em quem tem luz própria, eu gosto é das estrelas.
O único risco que corro é mudar a minha vida para melhor.
E assim vivo... sem nenhum desmedido pavor,
cada ato, cada gesto, cada olhar...
está florado, terno... embeleza a minha conversa com o mundo,
e com suas forças prevalecentes... que habitam a minha alma.
Sintonizei-me... mais com as estrelas, com mais ninguém.
Mas... o que de tudo ficou, foi que... da estupidez humana,
não fiquei refém.
Eu sou... é livre... e amor.

Ari Mota

quarta-feira, 1 de maio de 2013

MANIAS

Com o tempo fui trocando de manias...
visível foi... a minha cumplicidade, a minha conivência,
mas uma delas jamais desgarrou da minha alma,
grudou na minha pele como hera trepadeira, aderiu a mim,
e roubou-me a inércia e a estúpida indolência.
Teve dias que tentei no abandono deixá-la pelo caminho,
sair correndo, e em disparate... seguir sozinho,
mas, não teve jeito... ela sempre estava ao meu lado,
tomando ternamente as minhas mãos, me aquecendo no frio.
Por diversas vezes quis fugir assustado... da minha mania de sonhar,
não consegui... até que um dia me aquietei e desde então me recomponho,
e a aceito como é... virginal ousadia,
e tive que admitir a rebeldia do meu próprio sonho,
e sonhar, há, isso eu sonho... e em demasia.
Meus sonhos são leves, profundos, reais, às vezes delírios espectrais,
mas são como ancoras em alto mar ou na beira do cais.
Às vezes... paro, para contemplar o tão pequeno são as coisas,
às vezes é preciso coragem para ser feliz... antes dos temporais.
Passei a ter manias estranhas... mudo o caminho, saio da estrada,
não sigo rastros, nem corro atrás dos ecos que não sejam os meus.
Com o tempo fui trocando de manias...
Houve um tempo que para sair, para viver, existir,
eu olhava para o espelho... como minha beleza mudou de lugar,
olho para dentro... respiro fundo, chamo a alma para enfrentar o dia,
entender alguns desatinos, duvidar de outros, e mudar.
Das manias que eu tenho, uma é ser eu... fiquei tão eu... que nada sobrou,
e depois de tudo isso... jamais consegui... ser o que não sou.
Com o tempo fui trocando de manias...
Bom mesmo... é que vou levar da vida as decisões que tomei,
como errei pouco, acertei pouco... mas, sonho tudo refazer,
e tenho ainda que esticar o meu destino e enfrentar novas ventanias,
e como não tenho outra escolha... vou continuar a ser feliz,
antes de desaparecer.
Manias... manias... de ser feliz.

Ari Mota

sexta-feira, 19 de abril de 2013

ALINHAR A ALMA

Se depois... destes eternos instantes...
Inda... não aperceber que tudo foi só o início,
e que existir não passa de desmedidas travessias,
e que muitas vezes ainda voltará para lapidar a si mesmo,
e que imprescindível, é saber o propósito de estar aqui,
evoluir-se, transmudar a natureza do espírito e das atitudes,
e sacudir-se tão logo for ao chão com as ventanias,
e a tudo incorporar-se e acomodar como destino, sem nunca desistir,
e não desalentar na vastidão das dúvidas,
na temeridade dos acasos... nas infindáveis vicissitudes,
e depois ter que reinventar-se nos temporais sem jamais... afligir.
Se mais tarde... após estes eternos instantes...
achar que não enriqueceu com tudo o que fez, e viveu,
e ancorado no passado, parar o tempo, abandonar o que há de vir,
e na espera... não tracejar os caminhos do amanhã,
como quem... procura a ressonância dos soluços,
como quem inda... arrasta em desassossego as derrotas,
e nada apreendeu.
Hora é... a de alinhar... a alma, e para o sentido da vida...ter mais coragem,
e um descomedido resiliar... sereno... e um incessante continuar,
sem se abater com os pequenos tombos, ou as grandes quedas.
A vida é uma coletânea de tudo isso e mais um pouco,
pois, terás que alinhar tudo em sua volta...
dos sonhos aos vôos... da lucidez lúdica aos desvarios infinitos,
e ressurgir em graça, em devaneios... assim, ingênuo como um louco,
que abandona esta visão miúda das coisas e das pessoas,
que neutraliza a voracidade do ter, esta ânsia do poder.
Terás que tomar outro caminho... se quiser ser feliz.
Se não puder atravessar o atlântico, para assombrar com o velho mundo,
vai ter que saltar em simplicidade, e em... empatia,
acontecer onde vive, onde narra e faz a própria historia,
sair espalhando abraços, risos... criar o seu universo em ousadia,
e assim... se encontrar, se reconhecer adentro... afundo.
Para alinhar a alma... terás que viver em todos os lugares,
com todas as almas... sozinho... aos pares,
com amor... radiante... brilhante,
e quando tiver que voltar... que tenha um lugar,
sem se perder...
que volte para você.

Ari Mota