domingo, 30 de dezembro de 2012

DESAFOGAR A ALMA

Bom mesmo... é que sempre, ainda temos tempo...
isto é verdade.
Hoje... estou, juntando todas as minhas amarguras,
maus desejos, amores perdidos, amigos esquecidos,
desencontros, juízos malfeitos, sentença descabida,
indiferença, palavras que ferem... agressão atrevida,
e os deixando à margem... na estrada da saudade.
Hoje não vou mudar de rumo, nem falar de solidão,
sou como um rio... rumo ao mar... não tenho outra direção.
Cheguei... muitas vezes como calmaria, outras... como ventania.
Fui enchente, maré alta, cheia repentina... inundação.
Deslizei suave, silencioso, provoquei brisa... carinho.
Fui cachoeira, lago profundo, mas nunca caminhei sozinho.
Mas, hoje tenho que desafogar a minha alma, solta-la ao vento.
Tenho que desassorear o meu próprio caminho, o leito que andei,
aprofundar-me, sentir mais a quietude de mim mesmo,
ofuscar o tormento.
Aprender a calar mais e jamais engasgar com as magoas,
os descaminhos.
Renunciar aos espíritos medíocres, e tudo aquilo que me traz,
aflição.
Estou em um novo ciclo, mudo sempre, inovo para não findar,
não vou mais procurar tempo oportuno, nem nada esperar,
vou docemente criá-los, esculpi-los dentro da minha alma.
Quero e preciso entender menos, e sentir mais.
Vou me reservar momentos de loucura, para manter a lucidez,
necessito crer mais em anjos... do que em homens.
E neste assombro... provocar o novo, o inusitado,
e na descoberta... seguir em frente, amar.
Estou desafogando a minha alma, a deixando solta,
com toda a altivez.
E renunciando ao olhar de quem quer que seja.
Fiz o que pude... da maneira que o destino me presenteou.
Quando me olho, não tenho semelhança com ninguém,
aquele ali sou eu: pequeno, enorme.
Tenho o tamanho do meu sonho, da minha luta,
e fiquei fã de mim... aplaudo-me... pelo que sou.
Desafoguei tanto a minha alma, a deixei... livre,
transformei-me sucessivamente...
virei até poeta, e amor.

Ari Mota

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

RESTAURAR A SI MESMO

De tudo ficou que... tudo ainda é possível restaurar,
antes de ir embora.
Talvez não dê para refazer as escolhas, mais prudente,
é... errar menos, escolher melhor, questionar mais, sem demora.
E tudo que ficou... obvio, é que a maioria tem que... jogar fora.
E antes que tudo... acabe, reclassificar o que ficou na alma, o que valeu,
o que veio como brisa, e aquietou-se em nossa cama, e conosco adormeceu,
e o que aportou em riso e em disfarce emudeceu o choro,
e em alento amparou o soluço, estancou as lagrimas,
e em abraço... aqueceu o frio,
e tornou-se silencio em noites de desespero, e sol... em manhãs de vazio.
Mas se, contudo, uma inquietante solidão apossar da alma,
e um vão abrir no peito... numa incisão descomunal.
E um rasgo lacerar a carne como quem fosse golpear o íntimo,
e arrancar aos gritos... o que tens dentro, e o seu olhar,
e perdido... sozinho, procurar em vão o caminho,
como se estivesse ao meio de um vendaval,
hora é... a de restaurar a si mesmo.
E ainda é tempo de sintonizar o seu próprio mundo, e transformá-lo.
Mas, não crie mundos que você não possa sair dele, e não desbravá-lo.
Existir é descobrir, polir as rudezas do cotidiano,
desconstruir o orgulho, desbastar a altivez.
É... jamais desiludir com a ética, nem fugir da justiça ou do desengano.
Pode parecer... uma eternidade, mas em fim,
chega um momento do existir... que não tem outra estrada,
e basta docemente ressurgir de dentro,
e tracejar um novo rumo e descompassar a caminhada.
E fazer da voracidade... leveza, e da agressividade... gentileza,
e ir desmanchando a arrogância, e redesenhando no gesto... elegância.
E depois... ir se refazendo, se acendendo com todo o resplendor,
fazer a vida arder, afoguear em êxtase, sem perder a calmaria,
e em silencio renascer todas as manhãs, como se fossem únicas,
revestir-se de lucidez, e rir em demasia,
verter-se em alegria, simpatia, derramar em riso
e se preciso
transbordar
de amor.

Ari Mota

sábado, 8 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO

Verdade é, que...
não vejo à hora do mundo acabar,
para reconstruí-lo melhor...
germinar de novo, verdecer como quem procura aperfeiçoar o florir,
brotar, como se fosse refazer em florestas... os desertos de mim mesmo,
corrigir alguns descaminhos, antes de partir.
Não vejo à hora do mundo acabar... para tracejar um novo norte,
romper e abandonar os velhos paradigmas, e descortinar o inusitado,
nascer de novo, projetar uma convivência crível, límpida... forte.
Redesenhar o destino, redescobrir novas paragens, novos caminhos,
transpor tudo que obsta e reprime... o livre, o direito de não ter medo,
nem tão pouco de errar muitas vezes, em busca de outro desenredo.
Quero e preciso que... tudo que vi, e me impuseram... tenham um fim,
acabe, desabe como um temporal.
Que, ao devastar, arrasar... o faça, dilacerando as almas pequenas,
neutralizando o desamor, desconstruindo a indiferença, o descaso,
e a solidão dos homens.
Não vejo à hora do mundo acabar... mudar de sol.
Quero outros discursos, não preciso de novas promessas,
quero e preciso que... não toquem no meu jequitibá, nem nas borboletas,
nem mesmo nas minhas rosas vermelhas, nem espante o rouxinol.
Só preciso que a pequenez humana, seja reconstruída.
Esse é o tempo oportuno... para desvestir as mascaras e reinventar o sonho.
Na verdade, somos... construtores de nós mesmos, antes da partida.
Temos que encarar a vida apenas como um sentimento, uma aragem,
onde o ofegante fôlego venha como ventania,
trazendo equilíbrio e coragem.
Que... quando o mundo acabar, eu tenha multifaces para me recriar,
e fazer desta alma... renovação.
E que tudo depois do fim, vire começo... reinicio... contemplação.
E que seja destruída apenas a altivez descabida,
a arrogância dos que não aceitam as diferenças, e os olhares de desdém.
E por derradeiro... finde a insolência descomprometida.
Depois do fim... somente os que terão coragem em ser feliz, sobreviverão.
A vida não passa de um extravagante acontecer, uma exagerada fantasia,
e nada acaba... jamais termina...
ficará apenas, as almas inundadas de ousadia.
Não vejo à hora do mundo acabar... com todo o destemor,
como não tenho para onde ir, nem como fugir.
Depois do fim...
Resiliente que sou... em silencio,
vou reedificar tudo com amor.

Ari Mota