Antes achei que era... coisas
do coração,
e fui colocando nele... a sua
ausência, o inundei de vazios,
e inventei que você tinha
renunciado a mim,
e que entre nós, nascera um
deserto em desespero,
e que estava sozinho.
E depois, que você tinha
passado como um temporal, uma ventania,
um caso descomprometido, um
encanto em desalinho.
Cheguei a achar... que você
era um disfarce, um engano,
um capricho do existir... uma
fantasia.
Tentei mensurar o tempo da
sua ausência,
e descobri que na verdade, você
nunca me deixou,
nunca foi embora,
mergulhou através da corrente
sanguínea, sem demora.
E certeza foi... espalhou
para dentro,
ficou maior que o meu
coração,
transfigurou-se na minha
alma, passou a ser eu,
em transformação.
E hoje vive aqui dentro do
meu peito,
e eu que sou meio que sem
jeito,
demoro a te achar.
Vive as escondidas, outras
vezes irrompe atrevida,
outras... silenciosa,
teimosa... finge que não me vê,
não me abraça, foge dos meus
beijos, muda o olhar.
Mas... o que eu quero... é você aqui dentro...
pode fazer barulho, gritar em
destempero,
emburrada... franzir a face,
cingir os lábios,
e me abandonar um segundo
inteiro.
Depois... como uma bailarina
louca,
sapatear em noites de
solidão... com toda a emoção,
e em desejos sussurrar... que
me ama,
depois, quieta adormecer de
cansaço,
no meu abraço,
sem ir embora... que fique
agora
e para sempre.
São temporais, são
ventanias... mas tudo passa,
tudo acalma.
O que há entre nós... são
coisas do coração,
são coisas da alma.
Eu te amo.
Ari Mota