terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A SENSATEZ DO TEMPO


Que sensatez foi-me... o tempo,
olha-me inofensivo e com ternura.
Às vezes me remete,
naquelas ruas desvestidas que vivi,
onde fluíam momentos invisíveis,
e ensejos de abandono.
Mas, foi lá... que cresci,
e hoje envelhecido,
sei que crescia para dentro e não sabia.
Foi lá... que distraído,
encontrei a minha resiliência,
o meu amor.
E nunca sofri de solidão,
nem de lonjura.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
rememora tudo que passei.
Ocupei-me, tanto em resistir,
que nem me lembro... se sofri.
E hoje o tempo... 
olha-me... como se eu fora um menino,
sussurra-me noite adentro,
como uma aragem descomprometida,
e confessa-me que sobrevivi aos vazios.
É que todas às vezes,
que eles atreveram-se a entrar,
invadir a minha alma...
encontrou despertando,
todos os sonhos que guardei.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
vivi tão intensamente,
que nenhuma espera me foi infinita,
tudo foi uma apoteose sem igual,
uma magia descabida,
e efêmero foi... existir.
Sacie-me de amores,
e envelheci amando,
carregando leveza, lucidez,
e silêncio.
Como, ainda tenho sonhos...
ando seduzindo o tempo:
- a estender o dia de partir.
 
Ari Mota