quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

DOIDICES... DE UM QUASE POETA

certa vez...
invadiram-me... com uma insana magia,
e em vez de sair...
guerreando com a vida e com os sonhos,
atirando palavras tolas, e com olhar de aspereza,
em vez de fazer guerra... tive que mudar o meu destino,
passei a fazer poesia.
E foi por um quase, por pouco... que não virei nada,
e isso às vezes até me... arrepia.
Sei que foi preciso... virar silêncio, e quase emudeci,
até que no aclarar, no descortinar do meu existir... descobri,
que escrever é...
cutucar a alma para espantar os desassossegos,
é emprestar os sentimentos... para as palavras,
e amedrontar o próprio medo,
é assustar as culpas... e sem desculpas,
encarar os desacertos.
É redigir o invisível, e de rude tornar-se sensível,
e de frágil... esvoaçar para dentro de si mesmo,
em quietude,
e sem espanto conversar com os desassombros,
com a finitude,
e provocar os desapegos.
E tudo me aconteceu assim...
Em vez de sair por aí... disputando verdades... em agonia,
decidi aquietar-me...  fazer poesia.
E escrever... remete-me onde escondo os meus segredos,
onde visto e desnudo a minha alma,
é quando brinco de solidão ao meio dos murmúrios...
da multidão,
é olhar tudo com lucidez e emudecer,
é quando se amadurece... e em vez de cair ao chão,
sobe-se... provoca mais altura aos vôos... e em delírios...
em quase alucinação:
passa a viver mais os seus amores... a perceber as flores,
os anjos, a sua bailarina enlouquecida,
as suas borboletas azuis... os sussurros dos rios,
as respostas do silêncio, a braveza das ventanias,
a pequeneza da falta de afeição... a emoção esquecida.
Mas, tudo isso são doidices de um quase poeta,
que poetisa a alma, aviva o próprio brilho... em calmaria,
amansa o desespero, persevera e dança com a ousadia.
Em vez de sair...
Guerreando com as incertezas... com a ilusão,
só tratei de seguir o meu lúdico caminho,
e para onde eu for...
sempre escreverei...  para não ficar sozinho...
e me perdurar depois do fim.
Escrevo para... sempre regressar a mim,
com amor.

Ari  Mota


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O TEU VALOR

Mensurar a si mesmo... é para quem tem ousadia,
e pode durar uma vida... um sonho... um delírio qualquer.
Mas, imprescindível... é saber que não basta ter planos para ser feliz,
precisas é... ter coragem... para prosseguir... continuar,
e fazer... uns reparos, uns consertos... uns reinícios,
e existir... sem aplausos, sem rótulos,
e não permitir alguém te catalogar,
ou opinar em suas escolhas... fazer censura na sua teimosia.
Mensurar a si mesmo... é intrínseco aos que batem asas,
e vivem como uma brisa descomprometida e a tudo extravasas,
e tudo que emite, emerge da alma, ecoa do silencio,
e transforma em prece,
sem estarrecer com os tropeços, nem deslumbrar quando envaidece.
É caminhar assim... na dimensão de si mesmo,
com suas dúvidas e certezas,
e saber olhar tudo com doçura... e, em vez de gritar...
emudecer.
É quando olhas em circunspecto... e para dentro,
e sente que foi invadido por uma ausência de desassossego,
de aflição,
de uma vontade de quietar-se, chegar á alma... sem  desabar,
e depois disso...  perceber uma escassez de inquietação,
uma calmaria sem fim... e um remanso roubar-lhe a tristeza,
e aí... descortinar o momento de treinar muito... à ser você,
e seguir... somente... com quem te traga leveza,
e gastar o melhor que tens... com quem transpira... amor,
e não mais transitar... com ninguém... cheio de nada,
que lhe dê um peso ou um sonho prosaico... para carregar,
ou que te olhes com desdém... sem mensurar o seu valor,
e depois... passar a fugir de quem... vocifera futileza.
Mensurar a si mesmo...
é agarrar os momentos de... silêncio e de pausa,
e voltar todas as manhãs para a vida... para a sua vida,
renunciar este olhar em demasia para com os outros,
para superficialidade do existir, para as coisas,
para os demais destinos,
e voltar-se para si, para o próprio caminho em causa,
e desapegar das mascaras... e não mais, disfarçar de alguém,
ser o melhor de você... o que nunca ninguém viu,
e não mais cair nas armadilhas do ego, das idiotias,
e não mais sair julgando pessoas e suas escolhas,
e nem olhar quem chegou... ou partiu.
Mensurar a si mesmo... é descobrir o seu real valor,
é combater o que te apequena... te faz solidão,
é ser melhor... do que foi ontem...  virar mansidão,
e restaurar os sonhos e
transcender o inusitado...
e o amor.

Ari Mota