terça-feira, 1 de agosto de 2017

TRANSBORDAR

Nunca o vi... eu sei,
mas, o percebia em meu entorno,
contemplava-me como ninguém,
e eu, me sentia emoldurado dentro daquele olhar angélico.
E, ele sempre me sussurrava:  agüente firme.
Outras vezes, segredava-me:  espere.
E muita, das outras vezes, murmurava:  levante,
não desanime.
E assim... seguiu as coisas, e o meu existir,
e nada me foi em vão.
E esse ser espectral, sempre estava sentado ao meu lado,
inundando minha alma de brandura,
ficando comigo em noites de desespero e solidão.
E tudo no fundo... foi profundo... belo,
até que... passei a me reequilibrar diante dos temporais,
e em vez de ser sombra, passei a ser luz,
iluminei-me por dentro,
expandi a minha essência... de simplicidade,
tornei-me tão pequeno... que cresci sem saber,
virei uma imensidão de possibilidades,
e depois, gargalhei dos meus fracassos,
e tímido... ocultei os meus triunfos,
sem de nada... me arrepender.
Transmudei com tamanha impetuosidade,
que às vezes procuro aquele que fui ontem,
e não mais me encontro.
E me vejo assim... vivendo somente o hoje,
sei que... beirei a mais lúcida loucura,
e experimentei ausências absolutas,
sem perder a ternura.
Evolui sem perceber, e não me restou... nada mais,
a não ser... saber o que sou: essa incompletude,
essa quietude... cheia de emoção.
Pois, viver me foi intenso... impar,
uma vida só...  foi-me, e esta sendo... muito pouco,
necessito de outras tantas, para me completar.
E hoje, sei o que estou fazendo de mim,
sou um poema inacabado,
em busca da mais perfeita rima.
Sou rudeza que se refina,
em busca do mais alto requinte,
antes do fim.
E a vida? Me, foi um esplendor.
Quando sozinho... contemplo as estrelas,
quando na multidão... contemplo a mim mesmo,
danço enlouquecido com a própria alma,
e isso me faz... transbordar de silêncio,
e de amor.

Ari Mota


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