sábado, 12 de junho de 2021

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Que desatino é esse...
Ao meio de tanta selvageria,
-eu aqui insistindo com a minha poesia.
Que desvario é esse...
Ao meio de tamanha irreflexão,
- eu aqui regendo a minha solidão.
 
E tudo era tão simples,
quase não se ouvia o pranto:
- era um tocar de almas, e tudo era encanto.
Bastava ir e a vida esbarrava na gente,
cortejar era apenas com um riso,
abraçar era só cingir os braços sem aviso.
 
E hoje parece que viver ficou proibido,
encontrar tornou-se uma insensatez, um perigo,
não se pode abrir o peito... oferecer abrigo.
A praça virou um desperdício,
e a solitude sentou-se à mesa de bar,
impedindo o ensejo para amar.
 
Que esquisitice é essa...
Mascaramos o riso, andamos tão impreciso,
que estamos distanciando do esplendor.
Deslembramos o tocar da pele,
intervalamos a carícia na cama,
vagamos por aí como um autômato,
e hoje o que nos separa,
e o que nos medeia é o amor.
 
E tudo era leveza...
Foi nos escapando do olhar... a simetria,
levamos ao sacrifício a emoção,
que não mais nos arrepia.
De repente tudo ficou estranho,
expirou a quietude, a harmonia,
permitimos o despertar dos nossos fantasmas,
e esquecemos da nossa teimosia.
 
Que desatino é esse...
Vamos ter que brotar de novo.
Mergulhar nas profundezas da alma,
não deixar o medo submerso:
- e emergir.
Remendar as asas, revitalizar os sonhos,
ter novas escolhas, novos caminhos,
nova tribo, novos livros, novos amores.
E seguir.
 
Ari Mota 


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