domingo, 21 de fevereiro de 2010

O RETROVISOR


Minha vida transcorreu até agora em dois tempos,
quando despertei para o mundo, instalei um retrovisor ao meu lado.
Na medida em que ia passando os dias e as coisas, e minha vida fluía,
sempre, e em quase todos os momentos olhava no retrovisor da minha existência,
procurava ganhar velocidade, e em busca... dobrava em todas as esquinas,
passava fugazmente em todas as avenidas e ruas... sempre sem destino.
Afoito corria desesperado pelas auto-estradas em busca de essência,
e o retrovisor era consultado incessantemente, olhava mais para ele do que para frente.
E fui deixando para trás alguns valores, algumas pessoas, alguns amores,
e via ao longe desaparecer dos meus olhos toda uma vida.
Como eu tinha que chegar... não sabia a onde? O que fazia era acelerar.
E em uma dessas curvas da vida, perdi o retrovisor,
passei a ter somente como visão, a parte frontal do meu caminho.
Perdi a referência do passado, e por onde andei...
Reconheci e reencontrei com a saudade,
fez-me falta valores, pessoas e amores,
aprendi que o meu caminhar, embora olhando para frente,
é uma estrada que me leva para dentro... dentro da alma.
Nada adiantará os retrovisores, e o que deixei para traz,
se no final da jornada prestarei contas da minha viagem.
Hoje ando sem retrovisor... olho somente para frente,
e para dentro da minha alma... para não me perder
e me encontrar.

Ari Mota

8 comentários:

Ana Cristina Quevedo disse...

Não sei o que há, se eu me encontro nestas linhas, se as palavras que aqui encontro batem no coração...
Mas sempre que venho aqui, deixo cair umas lágrimas.

Esse retrovisor foi bem colocado, instalarei um para mim (ou será que vem de fábrica e ainda não notei?...humm...)

Beijo, Ari

Juliana Lira disse...

Ari

Que reflexão!Creio que ando assim apressada, outrora sem saber pra onde ir, agora já sei pelo menos aonde quero chegar!
Se chegarei lá? Não sei...Mas sei que o retrovisor muitas vezes atrapalha meu dicernimento e que por vezes fico presa ao passado.
Talvez eu devesse parar o carro um pouquinho, descer e apreciar a paisagem do agora...
Incrível esse texto!Casou com a fase que tô vivendo.
Brigada

milhões de beijos

Kelly Kobor Dias disse...

Ótima reflexão, sinto que chegou a minha hora de deixar o retrovisor de lado também, espero conseguir de maneira menos dolorosa do que viver olhando no retrovisor...beijos

Sonia Pallone disse...

É tão bom quando o coração abraça o momento de alguém! E o meu acolheu o seu...Bjs meu querido.

Elaine Barnes disse...

Belo texto, escrito com a alma repleta de sentimentos e questionamentos.A busca é de nós mesmos, demoramos a entender e enquanto não acordamos ficamos correndo feito loucos achando a busca é das coisas....Enfim, você descreveu muito bem a inquietação e o retrovisor. Bela sacada amigo! parabéns pelo post, por ser quem é, tão doce e consciênte. Amei! Montão de bjs e abraços e uma excelente semana

Anônimo disse...

Engraçado Ari, creio que estamos em sintonia... Os meus dois últimos posts tem a ver com este seu.

Beijos,

Anônimo disse...

Que saudades do Paraíso Perdido! Que sensação insistente e oscilante de "inadequação"....
O que fazer então?
Usar o retrovisor buscando referências para burlar a não adequação...Ficar atenta a anima e animus para um convívio mais salutar?
Experimentar o êxtase do aqui e agora e abraçar a sabedoria adquirida depois de se banhar no lago do esquecimento?
Ótimo post. Bem Oportuno!
Abraços.
Rebecca

Maura Milcharek disse...

Ari,

Tem tempos que não leio escritos que se identificam com a minha maneira de escrever e ver o mundo...
Dentro desse Poema me encontro e viajo com ele...
Parabéns!
A-M-E-I!!!
Abraços,
Maura Theobald
Um beijão!