sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O MEDO É UM VÍCIO

Quando dei meus primeiros passos deparei com minha primeira
queda.
Fui ao chão sem saber o que era desabar, estatelei no solo sem
conhecer o pavor do tombo,
sem chorar.
Ergui-me... e em gritos, e em zelo correram em minha direção,
arrebataram o meu primeiro andar,
minha primeira aventura solo, o meu primeiro vôo,
pelas estradas do caminhar.
Fizeram da minha criancice um cismar de medo,
um revelar do proibido, uma negação ao livre.
Tudo não podia... e então andei em quimeras escondendo-me
de fantasmas.
E em fantasia ideava lendas que em espanto me entristecia.
Passei a temer o inusitado, escondia-me dos olhares,
afastava-me dos abraços... fugia dos amores,
fizeram do medo minha companhia.
Hoje, depois da brancura dos cabelos,
da enrugues da pele, e da sensatez dos atos,
rompi em descoberta,
e sei que na verdade tudo foi para cercear meu bater de asas,
e inibir meu alarde aos próprios desejos.
Esconderam de mim que o medo é um vício,
e que fui tomado pelo receio do recomeço,
da estupidez da queda, da ausência, do abandono.
Mas, tudo transpassou como uma ventania,
e pactuei com minha alma... sobreviver à este vício,
e fizemos do existir um exercício de coragem,
e dos reveses do destino... crescimento.
Hoje dos vícios que carrego:
um está em evoluir desmedidamente... todos os dias,
e o outro é ser feliz e amar em demasia.

Ari Mota

2 comentários:

Marilu disse...

Querido amigo e poeta, esses vícios todos nós queríamos ter, evoluir e amar em demasia. Lindo demais. Tenha um excelente final de semana. Beijocas

Denise disse...

Com que presteza Ari, vc foi ao início de todas as cercanias erguidas para a pretensa proteção - correntes que acabam por firmar-nos em um lugar que chamam "seguro", quando é onde a paralisia dos desejos se inicia.
Esses limites que demarcam o medo que ali nos prende, podem ser derrubados, reconstruídos, resignificados e aptos a nos permitirem seguir sem tanto medo, sem a angústia que paralisa. Os cabelos sofrem a ação desse tempo, mas acabo de descobrir na prática, meu amigo, que nossos filhos aprendem mais cedo a livrar-se dessas amarras que lhes impomos (repetimos nossos pais), e isso é tranqüilizador já que não podemos voltar e fazer diferente...
Acho que escrevi mais que vc, perdoe-me...rsrs (mas não posso economizar quando me deparo com um tema desse!)

Bom domingo!
Beijos