segunda-feira, 29 de setembro de 2025

SEGREDOS












Nada me foi absoluto.
Ora tudo me foi pequeno... curto,
outras vezes imenso... maior que eu,
e nem todos os lugares..., me foi abrigo,
nem todos os abraços transpuseram a pele,
nem todos os olhares me foram de ternura,
nem tudo me tocou a alma,
nem tudo..., pude, por fim, chamar de meu.
E eu que estive sempre a procura,
de novos sonhos, novas estradas,
e do que me adoece,
-com as vestes da minha resiliência,
descobri a minha cura.
 
De todas as escolhas..., e caminhos,
nada me foi fácil, alterei varias vezes a direção,
só cuidei que tudo fosse intenso até o fim,
que fosse a solitude a me ensinar...
a arte de amar a própria companhia,
e a não desistir de alguém, como fiz,
e encontrar esses amores que hoje eu tenho,
esses que escolheram  estar comigo,
ficar juntos das minhas silenciosas tempestades,
e me salvaram de ser invadido pela solidão,
floresceram comigo,
e tudo me foi um exagero..., um espanto,
fiquei até fluente em silencio,
e transitei por aí..., quase invisível,
sem nada contar a ninguém..., até se edificar,
e aí..., me bastei..., passei de mim.
 
De todas as lutas..., e incertezas,
e das vezes que tive que pegar a estrada e ir,
passei por tempestades sem chuvas e sem ventania,
como tudo se refaz... e o tempo não volta,
sem perguntar quantas vezes tinha que partir,
fui sem deixar fragmentos..., tinha que chegar inteiro,
recusei viver o passado, encerrei algumas histórias,
e nunca quis caber no mundo dos outros..., em fim.
Só..., cuidei do que estava aqui dentro,
e como sabia que poderia sangrar..., e eu não perceber,
amei o que em mim habitava,
escondia para ninguém saber,
e atrevido e insubmisso fui destruindo paradigmas,
essas cercas sociais, essas etiquetas que nos colam na pele,
abandonei essas regras..., fiquei livre,
e redesenhei-me..., sem se vitimar.
E sonhar e evoluir foram os meus segredos,
e se perguntares se ainda os tenho:
- estão todos guardados em mim.


 Ari Mota 


domingo, 31 de agosto de 2025

EFEMERIDADE DA ALMA


 








Ainda bem!…
Nunca pensei que… tudo fosse para sempre,
vivi revestido de uma fugacidade sem fim,
e tudo me foi efêmero como uma ventania.
Como tudo esvanece... não guardei, nem carreguei nada,
arrasto apenas os mais belos sentimentos,
a loucura das emoções.
Passei incólume pela vida,
e vim apreendendo a existir... e sentir o caminho,
nenhum sistema me devorou,
claro... tive que acolher o medo, é verdade,
mas o combati com a minha resiliência,
e o que me salvou... foram os amores que encontrei,
esses que sintonizam na minha frequência,
e povoam a minha alma,
pactuam com a minha lucidez e loucura,
e conhecem da minha solidão,
fizeram-me ver que a cura já estava aqui dentro,
estava em mim.
 
Ainda bem!... nunca vivi...
como se fosse o centro de algo ou de alguma coisa,
sempre fui coadjuvante de mim mesmo,
por vezes invisível, um eco, um ninguém,
quis ser inteiro... quis conhecer de plenitude,
e consegui com minha teimosia... evoluir,
e orgulhei-me... de quem me tornei,
e como se não bastasse... sobrevivi a todos os temporais,
e existir é essa beleza que se revela,
é passar por aqui e entender que tudo é transitório,
frágil... sem tamanho,
não há que carregar passado,
nem o pavor pelo que há de vir, a vida é hoje:
é esse instante e único,
é essa breve dança existencial,
essa incessante contemplação,
é descobrir a infinita vastidão da alma,
e amar em demasia.
Porque tudo não passa dessa efemeridade sem igual,
e “para sempre” é uma ilusão,
se tiver que viver... que seja agora,
amanhã... há amanhã!...
tem o perfume da finitude.
 
Ari Mota



segunda-feira, 28 de julho de 2025

O VOO











Foram três voos...
Magníficos... enigmáticos.

O primeiro voo...
Foi quando na mais profunda quietude... saí do útero,
e passei a ter essa consciência individual,
de que só era preciso calma para florescer,
e deparei com esse vasto e inexplorado cosmo,
tomado de descobertas e ilusão.
Não sei ainda... se chorei de frio ou de medo,
o que sei... é que foi um salto quântico,
instantâneo e irreversível... passei a ser eu:
Saí do silencio à sinfonia,
fiquei inundado de sons, luzes, texturas e solidão.
 
O segundo voo...
foi quando passei a conhecer o que estava fora de mim,
e fui expor a minha vulnerabilidade... e minha coragem,
em despir-se das mascaras e das certezas,
e deparei com o inefável espanto da minha inocência,
em sair do meu mundo interior, da minha rua,
e querer invadir a vastidão do outro,
achei que tudo seria mágico... uma imensa leveza,
e o que vivi... foi só para me proteger,
da rudeza do cotidiano,
e de tudo que não me preenchia a alma,
silenciava a minha poesia,
e apequenava a minha loucura.
 
O terceiro voo...
Há! Esse foi apoteótico... pleno.
Fiquei tão eu... não quis decolar mais para lugar nenhum.
Foi quando entardecido,
Voei para dentro... visceralmente,
e descobri a minha melhor versão:
A leveza profunda do meu silêncio,
em um lugar de encantamento e de um amor sem fim,
tanto que lá... encontrei força e descobri a minha luz.
E assim... lancei uma âncora no oceano da minha alma,
e nela, respiro o infinito...
Nunca mais quis decolar... de mim.
 
Ari Mota


domingo, 29 de junho de 2025

O SILÊNCIO ME BASTA














Tudo bem...
que no início nada foi apoteótico.
Por um longo tempo,
demorei  em demasia,
para preencher os meus vazios,
conhecer dos meus desertos,
desvencilhar dos medos hipotéticos,
encarar os meus fantasmas,
e toda aquela distopia.
 
Tudo bem...
que no meio do caminho,
tive que recomeçar todos os dias.
E a vida me bateu,
apanhei como ninguém,
e as batalhas eram essas internas,
invisíveis, silenciosas,
até descobrir com quem lutava:
- e que o antagonista era eu.
 
Tudo bem...
que agora no final,
consegui me acertar por dentro
aceito tudo que de mim se afasta.
Fechei as contas com o passado,
e todas as dores que passei,
me fez ser o que sou hoje,
uma alma resiliente:
-e o silêncio me basta.

Mas, bom mesmo foi...
que nesta inefável passagem por aqui,
me encontrei....e tive que me ressignificar,
e descobrir que a voracidade do tempo,
já não me assusta,
perdi a pressa, o desespero,
sei lidar melhor com a dor,
aprendi a não machucar ninguém,
e nem deixar-se machucar por alguém:
-apreendi a me amar.

Ari Mota


sexta-feira, 30 de maio de 2025

SEM MEDO DO FIM


 








Que... paradoxo.
Tenho feito de tudo, me virei do avesso,
quebrei todos os paradigmas,
e dos dogmas não fiquei cativo,
até me achei perdido no meu próprio caos,
só para que... quando a morte chegar:
- me encontre vivo.
 
Que... insanidade.
Sem querer tornei-me incomum,
cheguei a pensar que era tímido,
e vi que... só fiz uma imersão na minha solitude,
e eu era introspectivo... e fiquei excêntrico,
só... escolhi ficar com a minha quietude.
 
Que... contrassenso.
Em saber que a vida é um voo incerto,
e no final não vou escapar,
e o que me restou nesta fugacidade do existir,
foi ser resiliente... foi afrontar todas as tempestades,
e quatro dos melhores humanos que conheci... amar.
 
Que... disparate.
Não tenho expectativa do que está por vir,
só anseio não ser mais o selvagem que fui,
cuido dos meus desertos, do que ali apensou,
não me falta leveza... nem silencio,
amo-me... nunca me deixei para trás,
e nem permiti... ninguém rotular quem eu sou.
 
Que... incongruência
Viver sem saber se tudo foi uma ilusão,
um experimento, uma verdade.
Bom que... prometi a mim mesmo,
em nunca me perder pelos caminhos,
distanciar de tudo que me machuca,
e só estar com quem me encanta,
e me olha com mansidão.
 
Portanto...
Quando a morte chegar... enfim,
que ela saiba... que o amarrotado do rosto,
são sinais que a tudo sobrevivi,
e que...  aqui dentro ainda mora uma alma jovem,
com um semblante austero, uma aparência sóbria,
mas, ainda é um menino...
que ama o que edificou ao longo da vida:
- viveu sem medo do fim.
 
Ari Mota



domingo, 27 de abril de 2025

VALEU CADA PASSO


 












Lá no inicio...
Tudo era desmedido,
e maior que meus sonhos... e meus passos.
Eu tinha medo de ultrapassar os meus limites,
a bagagem doía nos ombros,
as palavras dos outros pesavam na alma,
as certezas fugiam da razão.
Eu não compreendia as tempestades,
e não conseguia entender pra onde ia:
Os sonhos que eu não realizava,
as lagrimas que vertiam pra dentro do peito,
os desejos que se tornaram intocáveis
e o atrevimento de ser diferente.
Era uma procura insana, um desespero sem fim,
e não entendia de solidão.
 
E lá pelas tantas...
Quase no meio da existência,
percebi a minha dificuldade,
em encaixar-me ao mundo,
foi quando... me armei tanto,
e protegi a minha alma em demasia,
e resiliente... criei o meu universo.
E tudo fluiu...
e percebi... que solidão é estar vazio,
então... ocupei-me de mim mesmo,
das minhas loucuras e da minha poesia.
 
Agora no final... 
Já entardecido, indago...
a vida é pra que mesmo?
Só sei que por vezes ela estremeceu,
desconfio... que foi para me transformar,
pois, hoje me recuso morrer como fui,
tenho sede de revitalizar a minha consciência,
regar os amores que encontrei,
e ficar maior que eu.
A minha alma às vezes, ainda tem pressa,
e inadvertido me pergunto:
A pressa foi pra que mesmo?
Se não terceirizei a minha vida,
e livre... faço as minhas escolhas,
curo-me, e não permito ninguém me adoecer,
basto-me,
e nem ligo para olhares alheios,
e nem para o meu cansaço.
Faria tudo outra vez, como fiz...
amaria como amei,
voltaria pelos caminhos que passei.
- Eu sou o meu refúgio... Valeu cada passo.

Ari Mota


domingo, 30 de março de 2025

A LEVEZA DE EXISTIR


 








Se depois de tudo...
Dos desacertos e dos descaminhos,
da estrada vazia,
e das vezes que a solidão lhe fez companhia,
inda... encontrar coragem para se reinventar,
e passar a esculpir a si mesmo,
e seguir...
consentindo outras perspectivas,
e perceber que ainda está expandindo por dentro,
sem a necessidade de caber em expectativas alheias,
-iniciou-se então: a evoluir.
 
E evoluir dói,
é quando...
depois das suas escolhas,
descobre-se que ninguém irá te resgatar,
e morrerá diversas vezes,
e terá que renascer outras tantas... de amor,
pois outro sentimento não lhe cabe mais.
E aprenderá a mover-se em silêncio pelo caminho,
abandonando lugares e pessoas,
a procura da sua paz,
às vezes sozinho.
 
E evoluir pesa,
transforma...
desveste-nos dos conceitos,
nos desnuda dos paradigmas,
impõem-nos a virar do avesso,
conhecer dos nossos desertos,
e achar-nos dentro de nós mesmos.
Deparar com outras crenças, outra fé,
e não haverá outra escolha...
tens é que ressurgir melhor,
sem sacrificar o que você é.
 
Evoluir é...  virar do avesso a alma
e encontrar o silêncio que habita em ti
é cuidar do que está dentro
e se curar sozinho.
É se suportar e superar a si mesmo,
e se tiver que crescer... exagere,
se sonhar, arrebata-te... sai fora de si e realize,
se encontrar um amor... ame de maneira visceral,
de resto... o resto é aparência e hipocrisia.
Evoluir é viver com leveza...
permita-se só existir,
enquanto houver loucura e poesia.
 
ARI MOTA



domingo, 23 de fevereiro de 2025

A CURA


 








Existir...
É essa coisa insana,
de que nunca necessitaremos mudar a rota,
de querer viver para sempre,
e achar que a estrada estará sempre vazia,
e plana.
 
Há... e eu intrépido!  Mudei muito.
- sorte... que além de não me perder,
uma bailarina louca me seguiu,
eu a olhava com a alma,
e ela ao meu lado... ia,
e foi um lenitivo para a minha solidão,
suavizou o meu desespero,
e a rudeza que habitava em mim.
- até diminuiu a minha agonia. 
 
E fomos juntos, nem sabíamos pra onde,
sei que não estávamos pronto,
e estávamos sozinhos,
éramos confusos... e com medo,
e mesmo assim, fomos viver,
e o que nos salvou, é que éramos intensos,
cumplices das nossas loucuras...
nesse universo de desencontro,
e sem procurar... nós nos achamos.
- foi um apoteótico encontro.
 
E tudo ficou tão nosso,
por ser um só, uma única alma,
nunca acreditamos em abandono,
um... nunca fugiu do outro,
éramos abrigo de nós mesmos,
sobrevivemos ao desgaste do tempo,
talvez por saber que o nosso lugar, era em nós,
que em vez de gritar, falávamos com os olhos,
e tudo descortinava em calma.
 
E um sempre trazia de volta,
aquele que estava quase se esquecendo de si mesmo.
Sem desistir um do outro
construímos essa convivência,
e só... em ser feliz, estávamos à procura.
Atravessamos nossas incertezas,
afrontamos nossas duvidas,
mitigamos nossos combates,
atravessamos nossos desertos,
e passamos a ser um para o outro... a cura.
 
Ari Mota

domingo, 26 de janeiro de 2025

DELICADEZA


 








Tudo bem que...
Foram tantos recomeços,
tantas escolhas e poucos amores.
Ponderei tanto que virei silencio,
e nunca do abandono... fiquei refém.
Revitalizei-me em demasia,
afastei-me dos que ferem,
e passei a andar com os que curam,
até me curar das minhas dores,
e não machuquei ninguém.
 
Tudo bem que...
Abeiro ao fim,
mas... o tempo me confidenciou,
que ninguém acaba...
transformamos em universo,
e que este é o meu tempo da delicadeza.
Não há mais tempo para nada,
a não ser para o amor.
Não haverá o “depois:”
- depois: eu amo,
escrevo um poema,
viajo sem destino,
destilo a minha loucura,
sonho em devaneio,
roubo um beijo dessa sua boca,
para que as noites não sejam... solidão.
O tempo anda sussurrando para a minha alma,
celebre a vida,
contemple mais... o que resta,
e tudo... tem que ter leveza,
e gratidão.
 
Tudo bem que...
Houve momentos de rudeza,
mas... bom mesmo foi que não parei,
nem desisti,
e fui um aprendiz sem tamanho,
hoje sei que tudo valeu,
e a vida aconteceu exatamente assim:
da minha pequeneza... ao ápice de mim mesmo,
vivi o máximo que eu poderia ser,
hoje sou mais alma... que matéria,
não me procure para despejar,
o que não me agrega brandura,
não tenho mais tempo para futilidade,
virei poesia
e delicadeza.
 
Ari Mota



domingo, 24 de novembro de 2024

RASCUNHOS


 







Dia desses esbarrei nos rascunhos da minha vida,
encontra-los foi um acaso... e estavam ali,
nas minhas profundezas... escondidos.
- Num canto ermo da alma,
quase adormecidos.
 
Eu que os tinham como restos de mim,
fui subjugado pela minha própria verdade,
e percebi que eram fragmentos da minha construção.
- De Tudo que me tornei,
da minha imensidão.
 
Eram rascunhos... das minhas tentativas,
adormeciam ali... como se estivessem a minha espera,
compassivos olhavam-me querendo me dizer: valeu.
- Eram rascunhos dos meus sonhos,
rabiscos da minha trajetória... era eu.
 
E olha... cheguei a pensar que não mais existiam,
que ficara perdido pelo caminho,
eu só não sabia que eles estavam dentro de mim.
- Ainda interferindo nos meus percursos,
e definindo com quem ir... até o fim.
 
Há! Esses rascunhos...
Estavam ali... espalhados, rabiscados, desarrumados,
como se fora remexidos por um vendaval.
- mas só agora entardecido,
sei que no inicio fui um rascunho, e hoje atemporal.
 
Eu sei que já fui um esboço,
infinitos ensaios, uma soma de reinícios,
e hoje ainda estou aqui... como um aprendiz.
- e continuo incompleto, evoluindo,
precisando de muita coragem... para ser feliz.
 
E assim... de inicio a vida me surgiu irreverente,
amedrontou-me, quis conter-me, inibir o voo,
e aí... fui tentar sem disfarce, experimentar o inusitado,
e para conseguir gerei tantos rascunhos... sem querer.
- aprendi a suportar as minhas tempestades,
e intrépido... fui viver.
 
Ari Mota



domingo, 27 de outubro de 2024

REIMAGINAR


 








Se um dia... acordar estranho,
e um sentimento pretérito invadir sua alma,
o sacudir sem dó,
e doer sem tamanho,
o fizer embriagar-se de passado,
e de coisa que já tinha esquecido,
fazer-lhe reimaginar o que se perdeu no tempo,
das estradas vazias, e da cama sem ninguém,
dos dias que caminhou... só.
Lembre-se... você não está mais lá, você partiu,
agende uma reunião consigo mesmo,
pode ser nessas noites de silêncio e reflexão,
e reimagine todos esses desertos que atravessou,
todas as vezes que sobreviveu a solidão
e não desistiu.
O que tens a fazer é comemorar quando tudo mudou,
quando... sem querer,
experimentou a sua coragem,
quando na verdade cansou dos seus medos,
e extraiu os excessos que acumulou na alma,
essas quinquilharias guardadas... sem serventia,
essas inutilidades dos pensamentos,
que ficaram sedimentadas visceralmente,
quando teve que fazer uma assepsia.
Mas, que de tudo... fique apenas,
o quanto... extasiou-se por ter extraído de dentro,
quem um dia tanto te... machucou.
E se tiver que reimaginar a vida,
só reescreva os dias de encanto e ternura,
só reedite as gargalhadas infinitas que deu,
os beijos proibidos que roubou...
e aqueles dias insanos que viveu.
Só reimagine... das vezes que amou,
faça uma releitura da sua história,
arranque aquelas paginas,
que constam aqueles que te odiou.
Só reimagine das vezes que foi feliz,
é chegada a hora de apagar...
o que não te fez bem,
e não se importe se ainda restou... cicatriz.
Reimagine...
o espetáculo que foi chegar aonde chegou...
o quanto evoluiu,
o quanto descobriu,
o quanto te transformou.


Ari Mota


domingo, 29 de setembro de 2024

FUGIR DE SI MESMO


 










Acaso... esse olhar para dentro,
dentro do peito,
for uma descoberta absurda,
do próprio vazio,
e isso lhe fizer andar a esmo,
e esse medo que anda tatuado na alma,
for pelo tamanho da estrada,
pela distancia do sonho,
pela lonjura do amor,
pelo abismo do afeto,
pelo tempo da solidão,
talvez tudo isso... seja apenas,
- porque andas fugindo de si mesmo.
 
Acaso tudo for dúvida... talvez você,
não se aceitou... assim como és,
espelha... tanto nos outros,
que não se achou ainda,
e foste capturado por essa ilusão,
e ela nunca lhe permitiu partir.
E tudo não passou de uma fuga,
de uma procura ensandecida...
de si mesmo,
e não se encontrou em lugar nenhum,
vaga perdido,
sem mensurar o quão grandioso é viver,
e belo... suportar as intempéries do existir.
 
Acaso... essa dúvida que te devora,
nessa escassez de tempo que te consome,
na busca de delicadeza,
que te apequena,
e te cala em noite de desespero,
e sem querer... te silencia,
fazer você não conseguir se encontrar,
- talvez seja apenas porque você fugiu de si mesmo,
não conseguiu se doar a um grande amor,
não conseguiu povoar os seus desertos,
escrever os seus poemas,
ouvir os bem-te-vis,
e o fez se perder ao meio dessa imensa insensatez,
não lhe permitindo... levar a vida com mais leveza.
 
E, se ainda procuras respostas,
e acaso ainda se lembre...
daqueles detalhes que foram ficando,
elas estão todas ali, miúdas e imensas,
a sua espera, a espera do seu olhar.
Mas... procures não mais fugir de si mesmo,
basta... reaprender a se amar.


Ari Mota

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

NUNCA DESISTI DE MIM


 








Eu não entendia de temporal,
nem de ventania,
nem que a rudeza do cotidiano...
poderia me machucar,
e sem conhecer das travessias:
Fui...
desvendar os sonhos,
sem bagagem,
sem saber onde... ir.
E fiz da inocência...
a minha companhia.
- Eu não entendia de ir sozinho,
nem das horas de solidão,   
nem da dimensão da estrada.
Mas... bom mesmo que...
em uma curva do destino,
uma bailarina louca...
agarrou na minha alma,
e passamos um a construir o outro,
e foi muito atrevimento... viver assim,
e fui... fui mais longe,
conhecer da minha imensidão.
- Eu não entendia do caminho,
nem dos desertos que ira encontrar,
nem da aridez das pessoas.
Mas... adotei o silencio,
escondi os sonhos,
ocultei-me do mundo,
e fui...
e na hora do desespero,
mergulhei em mim mesmo,
fui me permitindo... apenas continuar.
- Eu não entendia do que levar,
amealhei tantas quinquilharias em vão,
e tudo me pesou em demasia,
com o tempo descartei os meus excessos,
e passei a carregar tão pouco,
hoje não levo nem a certeza,
e nem as minhas dúvidas... deixo tudo fluir,
como se não houvesse o outro dia.
Hoje... cuido da minha alma,
a inundo de amor,
e os meus olhos... de contemplação.
- Como ainda... tudo me é... teimosia,
pactuei com a alma, não falarmos de... fim,
e não posso admitir outra coisa, senão seguir,
embora... e as vezes, o tempo me olha com desdém,
e eu nem ligo... eu nunca desisti de mim.
 
Ari Mota


domingo, 28 de julho de 2024

DESADORMECER


 









Coisificaram tanto...
Esvaziaram tanto...
Parece até... que a emoção desfaleceu lá dentro,
e os olhos não resplendem  mais,
nem com vida,
nem com o amor.
 
Ensoberbeceram em demasia,
e foram perdendo o encanto,
a magia do contemplar.
Submergiram-se em uma frieza coletiva,
parece que tudo nos devora,
e não temos mais tempo de se opor.
 
Mas...
Eu... tenho agarrado em mim,
uma energia descomunal.
Sempre quis uma chance para fluir,
sempre quis ser diferente,
uns a chamam de sonho, outros de resiliência.
 
E ávido por saber,
tive que desadormecer.
Mergulhei nos livros e conheci universos,
compreendi dos acertos e dos meus fracassos.
E... foi só assim que a alma ganhou afluência.
 
Mas..
nem tudo foi tempestade,
nem tudo virou sofreguidão.
Só cresci depois que envelheci,
e tive que enfrentar a mim mesmo,
e cuidar desse templo.
Fui experienciar de tudo um pouco,
desadormeci.
depois, me arvorei em ser poeta,
e hoje escrevo pra mim
- sou quase solidão.
 
Mas... desadormecer,
foi o que de melhor me ocorreu.
Encontrei um universo só meu.
Na solitude que lá existe,
aproveito da minha própria companhia.
No silencio que lá existe,
aproveito para ouvir a própria alma.
E lá, ando livre... com os meus amores,
restauro  os sonhos e a emoção.
 
Ari Mota


domingo, 16 de junho de 2024

O QUE ME SALVOU


 







O que me salvou, foi não ter certeza...
- De nada.
Revesti-me...  de todas as dúvidas possíveis.
E crível... só foi o que encontrei por dentro... de mim.
E foi uma vagareza sem fim,
tardou uma vida,
quase desisti.
E hoje sei que:
- Livre é o homem que jamais recusa ser o que é.
E assim, sou eu...
Incompleto e aprendiz.
 
E inexorável foi-me o destino,
não sei se me ofereceu tanto,
só sei que tirei proveito de tudo.
Embebedei-me de poesia,
embrulhei-me de silêncio,
e transcendi a todas as solidões,
e a vida por diversas vezes,
quase me fez perder o folego,
algumas lagrimas desceram pelo rosto,
mas... hoje por ter tantos amores,
sou louco e feliz.
 
O que me salvou foi só ter a certeza,
que o meu amor é um tanto diferente.
E ele não esconde nos meus olhos:
- ele um dia se apagará.
Nem no meu abraço:
- ele irá enfraquecer.
Nem no meu toque:
- ele pode ser fugaz como um temporal.
Nem nas minhas palavras:
- elas podem desaparecer com o vento.
Nem adormecer no meu coração:
- ele um dia deixará de existir.
 
O meu amor se eterniza em outro... lugar,
vou te amar com a minha alma:
- Nesse lugar sagrado... nesse templo.
E estará comigo em todas as outras vidas,
e nesta...vou sussurrar baixinho “eu te amo”,
até quando eu partir.


Ari Mota

 

domingo, 19 de maio de 2024

EFÊMERO VENDAVAL


 








Sei que o tempo se esgota,
mais parece um efêmero vendaval,
mas... mesmo assim, é um dispare existir,
um desatino continuar.
Eu muita das vezes esqueço-me dele,
e nem sei por onde ele anda, e nem quero saber,
é que ele, quase me fez não encontrar algo pelo que viver,
já quis descontruir o meu maior sonho...
que era nunca se esvaziar.
 
Verdade foi que sonhei em demasia,
quis ser e ter tanta coisa,
quase me sufoquei, e tudo me doeu.
Mas... optei em não acumular sonhos,
venho realizando um por vez,
e fiz todos caberem, dentro da minha ousadia.
E hoje entardecido, o ultimo sonho é ser “eu”.
 
E assim...
entre eu e o tempo... instalamos um abismo,
e jogamos lá dentro: o ontem e o amanhã,
pactuamos só viver o momento,
e continuar sonhando até o fim.
 
E existir me foi apoteótico...
Saí... desesperado à procura de um amor.
E num descuido juvenil, uma bailarina louca...
esmurrou a porta da minha alma,
e saímos mundo afora,
vivendo nossa doce loucura.
E esse sonho se perpetuou nas estrelas,
e um... nunca desistiu do outro, e até hoje dura.
 
Depois três borboletas,
surgiram rodopiando em nossa volta.
Preencheram todos os nossos vazios,
povoaram os nossos desertos,
inundaram de amor a nossa solidão.
Passamos a carregar leveza...
e gratidão.
 
E se de tudo,
tudo for impermanência...
e desafio,
que venham os temporais, as incertezas,
- que entro com a minha resilência.


Ari Mota

terça-feira, 26 de março de 2024

UM AMOR VISCERAL














Não se importe...
Se toda a sua emoção,
estiver guardada na timidez da sua alma,
e embrulhada no silencio...
da sua solidão.
 
Não se importe...
Se... só você sabe da sua dor,
da sua loucura,
da sua poesia,
desse seu amor.
 
O que vale...
É você saber quem jamais,
largou das suas mãos,
e ficou ao seu lado... nas ventanias,
quando a vida lhe presenteou os nãos.
 
O que fica...
É quem fica... por dentro,
e sussurra... vem morar em mim.
É quem te provoca a continuar,
e vibra em silencio com suas conquistas,
e vai ficando... como se não houve fim.
 
Não se importe...
Se, doeu viver,
se, depois de tamanha busca,
você tem... quem te ame,
e voa com você sem medo do vazio,
e conhece os seus desertos... sem se perder.
 
Não se importe...
Se não conhecem da sua resiliência,
se tem alguém... que sabe da sua verdade,
o seu tamanho, e o quão é imperfeito,
e por conhecer a lonjura do amanhã, te ama hoje,
é tão você... que se misturou à sua essência.
 
O que vale...
É que o amor... que aí reside,
é atemporal,
e foge ao estereótipo contemporâneo,
é desses que não existem mais...
desses que saíram de moda,
mas...continuam visceral .
 
Ari Mota