quarta-feira, 22 de julho de 2015

AINDA... DÁ TEMPO

Às vezes... por um descuido,
em uma dessas curvas do destino,
o cansaço... chega a nos alcançar,
a dúvida toma de assalto os nossos sonhos,
e entorpecidos pelos excessos,
podemos... afogar na própria solidão.
Às vezes... inadvertidos,
e nessa efêmera busca... das coisas,
e sozinho... as vezes, nos perdemos pelo caminho,
e ao acaso... não sabemos desassombrar a própria luz,
nem se reacender de dentro para fora,
nem se preparar para uma nova dimensão.
E assim...
todas as vezes que nos achamos desnecessário,
necessário é transmudar a alma, despertar.
E que saibamos... que ainda... dá tempo,
de incendiar o brilho dos olhos,
e se... achamos... exíguo os dias,
ou que tudo esteja em cima da hora,
o que nos resta é apoderar de toda a emoção,
antes de ir embora.
E se nossos argumentos estão ficando escassos:
Que tenhamos a coragem... para sermos felizes,
e em silêncio... abreviar a nossa estupidez.
Que saibamos ouvir as estrelas, se emocionar com a poesia,
se encantar com a beleza que deslumbra uma melodia.
Que saibamos fazer... da nossa resiliência... intemporal,
e possamos transcender de todos os nossos medos,
e que finalmente, nossa delicadeza seja múltipla,
nossa vida seja um palco que modele a sensatez,
que saibamos resgatar a nós mesmos... dos vazios,
que tenhamos mais... recomeço... e menos final.
Ainda... dá tempo...
De desistir... das vaidades, da vigilância, do julgo fácil,
da fé que nos limita, da critica que nos destrói,
do choro que suplica,
do rótulo pegado a pele, da comoção exacerbada,
do coisificar dos apegos,
das desculpas que nos apequena,
dos pressupostos alheios... que nos danifica.
Ainda... dá tempo...
Se o mundo é um lugar hostil,
que possamos mudar o nosso interior,
a inteligência que nos habita... a nossa alma...
e ter um lugar melhor para se viver,
um lugar de amor.

Ari Mota

sábado, 27 de junho de 2015

ENTERNECER A ALMA

Inexorável foi... chegar, até aqui... eu sei,
e tudo... culpa da minha teimosia.
Por diversas vezes... quase desmoronei,
e por um descuido... quase embruteci a alma,
mas... o que me salvou... foi a poesia.

Implacável foi... o tempo, efêmero... singular,
e tudo... quase me fugiu da percepção.
Por diversas vezes... quase fiquei sem esperançar,
e em todas as dúvidas que tive... conservei a calma,
mas... o que me salvou... foram os momentos de solidão.

Incompassível foi... achar-me, me entender, me... traduzir,
e tudo... foi quase desleixo... achava que não ia embora.
Por diversas vezes... tive medo de me descobrir,
e com todas as descobertas... eu... mais me... amava,
mas... o que me salvou... foi a pureza que me devora.

E em resiliência, me vi... assim, descortinando aos poucos,
e tudo... para enternecer a alma, e o que me conduz.
Por diversas vezes... transcendi aos poetas e aos loucos,
morri diversas vezes, mas... nas manhãs... me repaginava,
e em vez de consumir coisas... descobri o que me apetece... luz.

De todas as incertezas, a maior delas, sem me intimidar,
foi me perder por dentro... não foi, me perder pelo caminho.
Por diversas vezes... em desespero saí... para me encontrar,
quase me perdi... dentro de mim mesmo, quase fugi de mim,
mas... o que me salvou... foi que nunca fiquei sozinho.

Improvável é... encontrar dentro dessa velha alma,
que se renova de tempos em tempos... desarmonia.
Não padeço de tempestades, de lonjuras, vazios... sou pura calma,
hoje... tenho um ponto de equilíbrio, um porto a me esperar,
mas... o que me salvou... foi o meu silêncio, não sou mais ventania.

Este sou eu... não reflito nada além de mim,
e fui salvo pela solidão da poesia,
pela pureza que me devora,
pela luz que enternece a minha alma,
pelo silêncio... minha melhor companhia,
pela leveza que aqui... mora.
Este sou eu... e que toda a minha sagacidade,
seja sempre para mudar o melhor que tenho por dentro,
que eu não tente mudar ninguém,
nem o vento, ou as estrelas de lugar.
Que eu saiba... depois de um temporal,
colocar a alma para secar,
procure abraços, e nunca se esqueça de amar.

Ari Mota


segunda-feira, 1 de junho de 2015

SE TIVER QUE EXAURIR-SE... QUE SEJA DE AMOR

Se conseguir escolher...
escolha o silêncio.
Se suportar a quietude...
dance com a solidão.
Se não achar o caminho...
nunca volte.
Se a vicissitude esmurrar a alma...
abra todas as partes entranháveis de si mesmo,
e visceralmente suplante...
todos os momentos de aflição.
Se idear que a vida é um fardo...
um peso desmedido,
que tenha a coragem...
de fazê-la como plumas ao vento,
e que infinitamente...
saiba provocar risos, em vez de desespero,
e que nada exceda a sua leveza.
Que redirecione o sonho...
que saiba escolher novos atalhos,
procure novos amores, novos amigos,
mude de livros, de rua, de conceito...
e saiba buscar em tudo... beleza.
Se conseguir doar-se...
doe, da sua fonte inesgotável,
e o que falta...  é só incendiar a alma,
afoguear a gentileza.
Se conseguir amar...
que saiba preencher outros vazios...
vazios que nos devora, implacável dor...
que nos remete a solitude.
E que seja intensa essa entrega,
esse dar-se inteiramente,
que seja uma infinitude,
e que saiba render-se a essa delicadeza.
Se conseguir amar...
ame com toda a solidez e sem cansaço,
muitas das vezes o que falta... é só um abraço.
Se conseguir amar...
desapegue das perolas e brilhantes,
muitas das vezes o que falta... são flores,
pouco ou muito...
somos... a soma de todos os nossos amores.
Se conseguir amar... que seja com todo o esplendor,
e se tiver que exaurir-se... que seja de amor.

Ari Mota


segunda-feira, 11 de maio de 2015

TOMEI... O CAMINHO DO SOL

Por diversas vezes, me reuni com o destino,
e todas às vezes... nada aconteceu,
varávamos madrugadas... eu e ele,
às vezes ele me olhava com carinho,
outras vezes... com puro desdém,
eu falava ao vento, e ele ali... mudo,
inerte, contemplava a minha aflição,
e não esboçava nada com ninguém.
Eu... como tinha pressa de viver,
e, em um desses acesos de loucura,
tomei... o caminho do sol,
o abandonei em uma dessas esquinas que passei,
eu precisava dividir os sonhos e as minhas dúvidas,
compartilhar a minha solidão... e ir,
enfrentar as minhas tempestades,
sem temer o tempo que há de vir.
Por diversas vezes tentei falar com o meu destino,
e tentar, tirar dele... onde tudo isso... ia dar,
qual seria o final... em que porto... eu iria um dia parar.
Mas, de tudo, o que mais me tocou... foi o seu silêncio,
e bom mesmo, foi descobrir a sutileza do seu segredo,
“Que graça tem saber do fim”,
e assim, continuei, fui viver os meus entremeios,
sem saber o que estava reservado pra mim.
E isso me deixou... mais leve,
despojei-me das expectativas, e nada mais esperei.
E hoje, vou com pouca bagagem, e sem dramas,
desonerei a minha alma dos entulhos,
retirei os detritos, as sobras... só levo os inteiros,
e quase ninguém me acompanha,
exceto... uma bailarina louca, e duas borboletas,
que fazem da minha vida... a maior de todas as façanhas.
E assim... eu existo...
Sou apenas o tempo que medeia, o inicio do meu fim.
E entre eu, e o meu destino... acertamos, que nesse intervalo,
nessa exuberante passagem... um não deve olhar para o outro,
e que, ele apenas possa... levar-me, sem nada dizer... enfim.
Olha, quando tomei o caminho sol, sem nenhum desatino,
e tracei apenas o rumo... sem querer saber do meu destino,
uma luz acendeu dentro da minha alma, com todo o fulgor.
E assim quando querem me amesquinhar... viro silêncio,
quando derramam lagrimas, despejo alegria,
quando jogam desalento... apareço com a minha teimosia,
quando ensaiam ódio... e desalinho intenta... impor,
como tomei o caminho do sol e tudo é luz:
desforro com o meu amor.

Ari Mota

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A CORAGEM... DE NÃO VITIMAR A ALMA

Existir é um acontecimento... e a vida... inefável,
tem-se que, não há quem a defina,
é mistério... é indizível,
somente os poetas e os loucos conseguem compreendê-la,
e o destino... traiçoeiro como é, não permitiu descrevê-la,
ficou perdida entre os delírios e a lucidez,
perdeu-se nas lonjuras da ilusão,
e ficou inenarrável.
Existir é um relâmpago inusitado... uns estalos... ocasionais,
somente os poetas e os loucos a sentem em demasia,
um... à estampa no seu riso descabido,
o outro... a descreve na sua poesia,
e ambos passam a brincar com essa insensatez,
e perdem-se ao meio da multidão... como anormais.
Existir é uma estrondosa... explosão,
fugaz como uma ventania,
somente os poetas e os loucos percebem o seu perfume,
um... a carrega como um vazio, ou outro... como solidão,
mas, ambos, conhecem o seu tamanho, o seu volume,
e saem por aí... um a verbaliza em poema,
o outro quase no abandono... vive em teimosia.
Existir é quase... tudo isso...
talvez, mais um tanto, ou menos tudo... ou nada disso,
é que de poeta e louco... eu acho que tenho um pouco.
E existir... é uma encantadora travessia,
uma imensa provocação em superar a si mesmo,
e impossível é... mensurar a sua pureza,
e fica indescritível a sua essência,
é apenas... um sonho contumaz... intenso enquanto dura,
e, bom mesmo...  é ir vivendo-a em silêncio,
como não conhecemos o começo, nem o tamanho do fim,
neste meio das coisas, e das dúvidas... e como aprendizes,
melhor mesmo... é que passemos por aqui... felizes.
Existir... quem sabe mesmo!... são os poetas e os loucos,
os outros... vivem colecionando coisas, e ressentimentos,
permitem que sua alma... entre nessa... de se vitimar,
acham que pouco fez ou que ainda tem muito que fazer,
desculpam, culpam... não assumem o direito de errar,
esquecem do inebriante desafio que é apenas viver.
Existir é... se rebrotar, reinventar-se com leveza,
sem inculpar a si mesmo às decisões do destino,
e sem desespero seguir... singular,
sem nenhum desatino, e como um menino,
inda... crer no abraço, no calor da pele,
na força da própria escolha,
no rastro... de amor, que deixar,
em sutileza.
Existir é... sem segredo,
jamais vitimar a alma, ou sacrificar o sonho,
por medo.

Ari Mota

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A MINHA NATUREZA... É LIVRE

Demorei um tanto...
mas, foi na meninice que fiz uma descoberta,
e inda foi... nas minas gerais dos meus sonhos,
onde a aridez brincava de me esconder,
silenciar-me, em madrugadas de dúvidas,
ou, às vezes de insônia... em noites de solidão,
que um dia, desatento... encontrei a minha alma,
querendo ir embora,
e já, com a porta entreaberta.
Demorei um tanto...
mas, exprimido ao meio de tantos nãos,
e inda...  perdido naquelas tardes de abandono,
naquelas manhãs de incertezas,
com aqueles encontros em desacertos,
e procuras infinitas... pura sofreguidão,
que... deparei com minha alma, me... chamando,
puxando-me pelas mãos.
Demorei um tanto...
mas, um dia arrumei as malas,
um amor, duas borboletas...  e caí na estrada,
ficaram partes espalhadas pelo chão,
inda querendo ficar... e, até que voltei,
e sem jeito... juntei tudo... e me arrastei por inteiro,
e nada levei, e invisível... parti,
e não contei a ninguém... que fui ser feliz,
e tudo foi pura teimosia,
e hoje... esse desatino... virou  mansidão.
Demorei um tanto...
e faz tempo...quase uma vida,
para entender que o silêncio também é rebeldia,
e aquietei-me... em demasia,
e nenhum medo me estremeceu...  nem me aprisionou,
nem me abateu em pleno vôo, em pleno salto,
eu me atirei no inusitado, em ruas descalças, no asfalto,
nunca me importei com quem nunca quis saber quem eu sou,
nunca me importei com outros olhares, como quem me espia,
como quem me apequena...  julga-me ou condena,
comecei logo cedo... a desconstruir as minhas vaidades,
escolher os meus livros, os meus poemas,
as minhas musicas, o meu norte, os meus dilemas.
Demorei um tanto... pensei que não tinha fim,
para ouvir a minha alma, e aprender... nunca me abandonar,
e descobrir que minha natureza... é livre,
sou como... um rio descendo a serra, indo para o mar,
às vezes raso... corredeira, às vezes profundo, cachoeira,
viro brisa, contorno barreira, outras vezes sou aragem,
sou uma eterna viagem,
buscando o melhor ...
de mim.

Ari Mota

sexta-feira, 20 de março de 2015

OS MEUS CAPRICHOS

De todos os caprichos que tenho,
tem um, que me é... amar-me... incondicionalmente,
nutro-me... de poesia, e mansidão,
rego-me, com o orvalho das madrugadas em fantasia,
com a brisa invisível do meu silêncio,
e depois... adorno-me com as estrelas da minha imaginação,
cuido-me, replanto-me em todas as estações,
escoro-me com esteio... em todas as tempestades,
amparo-me... como se, improvável fosse o meu fim,
insisto tanto no meu reedificar...
que... fiz tudo do meu jeito... e  jamais desisti... de mim,
e repagino-me... sem sofreguidão.
Às vezes sou palco, sou platéia, sou bastidor, torcida de si mesmo,
e às vezes, sentado com o meu anjo, em fins de tarde,
peço-lhe:
Que, me... deixe sempre... a dúvida, e nunca a cisma,
e que a minha substancia seja sempre indefinida,
e que, eu... seja sempre um mistério,
e tenha sempre a liberdade de me procurar,
nos dias de desespero,
e nas noites de solidão,
e que, eu... seja sempre esta obra inacabada,
uma ponte que ainda não alcançou a outra margem,
mais, que nunca perdeu a velocidade de chegar,
nem que seja... a nenhum lugar,
que, eu... me veja... sempre... indo,
retocando-me, raspando as ferrugens,
aplicando uma demão de atrevimento nos meus sonhos,
buscando outros trajetos, sem perder a direção.
Que... em mim, exista sempre o desejo, de só... ir,
de mudar de rua, de consciência, de paradigma,
e a coragem de provocar sempre uma assepsia mental,
para nas partidas... nada levar...
nem ressentimentos, nem coisas... somente leveza,
e que minha lucidez demore a ir embora, partir,
e que eu possa ser sempre diferente... dos iguais,
e a minha alma... fique jovem para sempre,
e eu, me desapegue de toda e qualquer certeza.
Que, eu... seja ânsia descabida, fervor,
e que todo o ardor da descoberta... não me abandone,
nem o fulgor dos meus olhos apague... vire escuridão,
o que... quero é desentrevar o negrume dos meus medos,
e reiniciar-me... antes do próximo... vendaval.
Que, eu... nunca perca os meus caprichos,
e acima de outras tantas coisas,
nem a absoluta certeza da própria imperfeição,
mais, continue tendo a coragem de ser sempre amplidão,
e carregar dentro da alma... e para onde for,
o que tenho de excesso...
amor.

Ari Mota

sábado, 21 de fevereiro de 2015

FUI...TENTAR

Amo aqueles que se aventuram,
embrenham-se... destino afora,
e deixam sutilmente... tatuado no próprio sonho,
ou preso do lado de fora da alma...
um recado... simples assim: fui embora.
Fui tentar.
Fui repartir uma parte de mim,
fui me perder... com um... outro alguém.
Me... embebedar de delírios,
reconhecer as minhas loucuras,
enfrentar os meus temporais.
Fui... para não construir muros em minha volta,
ficar em desalinho.
Fui tentar... ter somente o que preciso...
não o que mereço,
fui ser feliz... nem que sejam lampejos,
instantes infinitos,
fui me apaixonar pela vida... só para me encontrar.
Amo quem mesmo distraído:
vai embora sem despedir,
quem não teve tempo para os desassossegos,
não conseguiu, nem sequer um minuto...
para as dúvidas,
e nunca chegou a descrer... do seu próprio caminho.
Amo... quem... desconecta de outros juízos,
e em silêncio nada pede, segue... vive em calma,
e vai embora... das coisas... dos desamores,
vai embora... dos seus medos,
vai embora... para ficar mais perto...
de quem na verdade... é,
vai embora para aprender a não ferir ninguém,
e sabe que depois de tudo...
só, dá mesmo... para levar:  a sutileza da alma.
Amo quem...
leva a vida aprendendo com os contrários,
e nas tempestades...  quando a vida sacode,
não se desespera... tranqüilo...  vira-se...
faz o que pode.
Amo... quem... foi ser o que decidiu... ser,
quem arrumou a alma para o inesperado,
sem jamais deixar no abandono... a si mesmo,
quem... semeia equilíbrio de maneira visceral,
e o que é superficial... não mexe com o seu interior,
transforma emoções instantâneas, em riso desmedido,
e atrevido... nunca diz:
o quê fazer para... que você me ame,
ama sem volta... sem troca... com a pureza do seu amor.
Amo... quem... sem desespero... vai embora,
e sem demora... deixa um recado do lado de fora da alma:
Fui tentar... ser feliz.

Ari Mota

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

BUSCO... QUEM GOSTA DO IMPOSSÍVEL

Foi nesta busca... do melhor pra mim,
que por um descuido... e distraído,
encontrei a minha alma entreaberta,
e tudo me foi permitido...
enveredei nas profundezas de mim mesmo,
despertei... este anjo adormecido,
esta leveza escondida, esta luz desmedida,
e tudo me foi crível,
e algumas das minhas verdades... descoberta.
Foi nesta busca... do melhor pra mim,
que me encontrei... e me vi assim...
um paradoxo descomunal:
frágil como um rochedo... enfrentado o mar,
dócil como um tigre... matando a própria fome,
violento como uma borboleta... provocando uma suave brisa,
destemido diante da solidão... a procura de alguém para amar,
e me descobri... profundamente raso,
escondendo o que tenho de... abissal.
Busco quem me passa coragem para viver este desatino,
amo os que já são felizes,
os que... como eu... emana um para o outro... sinergia,
sem vaidade... sem nada em troca, sem barganha descabida,
quem desassocia seus sonhos das expectativas alheias,
quem socorre o outro na travessia.
Busco... quem me faz crescer quando me apequeno,
quem me estica quando me diminuo,
quem me dá o colo... o olhar... quem me faz ir,
quem sabe abrir o peito nas tempestades ocasionais,
quem foge do volume morto desta sociedade em decadência,
quem me puxa... me levanta... me pega pela garganta,
e me estimula a prosseguir.
Busco... quem gosta do impossível,
de pouca bagagem... de nenhuma certeza,
dos que buscam uma terceira razão,
abortando as demais... só para evoluir.
Busco... aqueles que tentam de novo,
para ter tudo outra vez... sem medo,
daqueles que amam em quietude,
que chegam com brandura,
sem fazer segredo.
Bom mesmo foi... que nesta busca... do melhor pra mim,
por um descuido e distraído,
encontrei os meus amores... já felizes,
no seu interior.
Eu que busquei tanto... quis tanto,
cheguei a pensar que viver,
seria um intricar de coisas:
- E tudo me foi... muito fácil,
só tive que compartilhar...
- O meu amor.

Ari Mota

sábado, 17 de janeiro de 2015

DEPOIS DA VIDA...

De todos os caminhos... de todos os atalhos,
de todas as vezes que acertei o rumo...
ou das vezes que me perdi.
De todas as vezes que tentei voltar...
ou das vezes que apenas fui,
de todos os amores que tive... de todos os desencontros,
de todos os gritos que dei... de todo o silêncio... que fiz,
só agora... depois de envelhecido... me pergunto:
E depois da vida?
Depois desta passagem...
talvez eu descanse numa dessas estrelas,
que ficam ali... penduradas... acima dos meus desejos,
antes de continuar.
É que... fiz o que pude... ofereci o possível de mim...
sei que...  me, foi tênue existir...
e demorei... para me entender, encontrar,
quase sofri de vazios, quase virei solidão,
e tudo... me, foi fugaz... como uma tempestade,
até que minha alma escolheu viver,
e passei a semear candura... para evoluir,
e... virei mansidão.
E depois da vida?
Vou levar o que fiz nesta... e tenho me completado como posso,
faço alguns remendos nas asas... e mantenho o vôo,
evidentes são as nuances... de ficar ou ir,
sei que posso deixar resíduos... mesmo depois de partir:
Posso ficar na minha poesia,
na minha coragem de partilhar os sonhos,
na minha maneira tímida... de amar,
no meu cuidado em não machucar outras almas,
nem maltratar aqueles que passaram no meu caminho.
Nunca combati usando a fraqueza de alguém,
perdi diversas vezes... por lutar com os mais fortes,
e foi pura teimosia,
- é que... sempre estou entre o medo e a coragem,
e são essas resiliências... que me fazem... vivo,
das vezes que perdi... tudo ficou muito estranho,
eu que achava que iria diminuir... aumentei de tamanho.
E depois da vida? O que preciso...
estará tudo em mim, e não precisarei... ir a nenhum lugar...
a procura de um paraíso.
Terei relâmpagos ocasionais na memória, sem nada lembrar.
Talvez só sinta saudades... não sei do quê... não sei de quem,
não saiba quem fui... por onde passei... andei,
não saiba... mais dos meus amores,
mas... todas às vezes, em outras vidas:
que arder o peito... silenciar a alma,
saberei o quanto... vivi intensamente...
em outros lugares...
um grande amor.

Ari Mota

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O SILÊNCIO QUE PRECISO

Passei a ter cuidado com os meus desejos,
com o que... quero que caiba dentro dos meus sonhos,
e ande ao meu lado para sempre.
Fui... ficando seletivo sem saber,
e o meu grito foi em direção... das profundezas da minha alma,
passei a não me fantasiar de abandono,
ocupei de amor... os meus desertos,
e deixei o melhor de mim... para mim,
evoquei... o que nunca fui,
para descortinar o que de improvável eu tenho,
e saiba... fui me metamorfoseando,
para desconstruir o tamanho da minha solidão,
mudei de caminho, mudei de crença... mudei de livros,
até que a voz ficou vazia...
e calei-me... passei a olhar em demasia,
e silenciar... foi-me... a maior de todas... as minhas gentilezas,
e quando me olho... sei que virei contemplação.
Com o tempo... e depois que envelheci,
percebi... que nada me será definitivo, antes de partir,
e que...  de todas as certezas que tive,
nenhuma delas... suportaria o por do sol,
e que todas...  são fugazes... como uma ventania sem fim.
E saiba... passei a ter cuidado com os meus desejos,
consegui com muito custo... fazer uma limpeza na minha alma,
uma assepsia profunda nas minhas dúvidas.
Removi de dentro... sentimentos que guardei,
magoas que escondi,
as tempestades ocasionais,
utopias que vivi,
folhas secas que rastelei,
escolhas que me aprisionaram... inibiram a minha expectativa,
cativaram as minhas asas,
e o que não amei.
Passei a ter cuidado com os meus desejos,
e o silêncio que procuro e preciso,
está na imensidão do amor que me habita,
nos meus poucos... abraços de improviso,
neste meu descomedido contentamento,
nesta minha risada larga,
neste meu jeito de amar... aqueles que eu amo.
O silêncio que procuro... está aqui ao meu lado...
fantasiado de anjo... de borboletas,
e existir tem sido um espetáculo... um luxo... um esplendor.
Passei a ter cuidado com os meus desejos,
os escondo... aqui dentro da alma,
vou soltando aos poucos, lentamente, em gotas...
e todas... regam os meus sonhos,
o melhor de mim... a minha singeleza...
- e assim eu vivo... por amor.

Ari Mota

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A RESSONÂNCIA DA MINHA ALMA

Ao longo dessa minha estada... dessa passagem... por aqui,
não consegui amealhar coisas... nem juntar quinquilharias.
Tentei...  reinventei-me... e tudo fiz,
e entender tudo isso... foi um esforço descomunal,
às vezes me pergunto?... como existir... com tão pouco,
e ter a coragem de ser feliz.
E hoje... só posso oferecer:
A ressonância da minha alma,
o meu olhar... o meu silêncio, a minha calma,
o que não cabe mais em mim,
o que transcendeu... das dúvidas que tive,
das vezes que errei, e das poucas... que acertei,
de todos os meus descaminhos, de todos os meus desencontros,
de todos os meus reinícios,  e de todas as vezes que... ousei.
Como hoje... só tenho a alma, e nada mais carrego,
vou olhar para você... para sempre,
em todas as outras vidas... que tiver.
Podes atracar em qualquer lugar... estarei lá te... esperando,
e todas as vezes que partir... serei aquela infinita brisa,
verás que ao seu lado...  navego.
Tome o rumo que achar melhor, e enfrente o temporal que vier,
a minha alma em ressonância, estará ali... para os recomeços,
faça as suas escolhas... sabendo que existe... pessoas certas,
outras nem tanto,
mas, jamais esqueça... de mergulhar no seu interior...
 e ouvir a própria voz, o seu próprio encanto:
- encontre o que de indomável tens... pense... o que quiser,
dê uma chance... aos sonhos... viva-os intensamente,
respeite o que passou, observe o que virá... mais viva o hoje,
e saiba encontrar as suas verdades,
apronte-se para o próximo combate... o enfrente,
e que tudo seja... lições,
e que em todas as gentilezas que praticar... a primeira,
seja consigo mesmo,
e que possa se amar... demasiadamente,
e deslumbrar com o pouco que tens... o resto são vazios existenciais.
E se, sair para competir... que seja só... com você,
e se achar que tens... que perdoar... que sejam os seus erros infantis.
E sabe?  aqueles ínfimos momentos... transforme-o em beleza,
cuide do corpo... da alma... esse  templo sagrado, esse esplendor,
não permita que te invadam... como uma terra sem ninguém,
e que seu maior segredo seja o quanto... é feliz.
E depois... faça outras travessias... procure outras raízes,
pode ser um livro, uma musica... um abraço de alguém,
não fique no mesmo lugar,
experimente o amor.
Ofereço-te... a ressonância da minha alma,
e a emoção de amar,
é o que de sereno eu tenho... e carrego,
foi  o “tudo” que consegui,
- e, a ti... entrego.

Ari mota


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A ESCASSEZ E OS EXCESSOS DO AMOR

Vez em quando... vem à memória,
os idos tempos, em que à míngua... eu andei,
quando a aridez tomou de assalto a minha alma,
e a tudo... desamei:
Virei folha seca, deserto sem fim,
abismo, poço sem água,
- e, era tudo... na verdade... escassez de mim.
E nesse fluxo e refluxo de coisas, dúvidas... até,
o destino... irônico como tal,
ofereceu duas vertentes, duas infinitas estradas,
e nesta busca... você já não sabe quem é,
e assim tudo chega... acontece,
e duas emoções instalam por dentro,
como se fossem... uma prece,
e perplexo... disperso, sem saber ,se... ama ou odeia,
perdido... nesta fronteira tênue,
descobre a demasiada condescendência de odiar,
desconstruindo outros sonhos, outros vôos...e a tudo pisoteia,
- e passa a existir da forma mais fácil... mais veloz,
e inicia a desdenhar outras alegrias,
e em vez de silenciar... enfim,
imprudente... grita... emudecendo a outra voz,
inibindo outros saltos... nos abismos de si mesmo,
e passa quase uma vida... sem amar.
Vez em quando... vem à memória,
os idos tempos... e confesso... já fui assim.
E hoje envelhecido... e sem rancor,
tenho poucos amores, e são intensos, imensos,
é que... ao longo do tempo... abandonei as mascaras,
sei que não consegui amar a todos como devia,
é que... fiquei célere, rápido como um relâmpago,
não demoro com quem não exala amor.
E hoje envelhecido... como um mago em descompasso,
aprendi que odiar é... acorrentar-se... a uma outra alma,
e deste medo eu não sofro, e esse não é mais o meu disfarce,
não fico preso em outro... destino, a espera de um ressarce,
amo em demasia... é o que eu faço.
Consegui me desgarrar destas pequenezas,
bom, foi que... embora o tempo tenha encarquilhado a pele,
esqueceu... e inadvertidamente...
abasteceu a minha alma de brandura, e singelezas,
desfiz todas as dúvidas... hoje já não sofro de escassez,
e o que me ultrapassa... é só o amor,
entrego-me tanto... que não sinto a minha falta,
tornei-me silêncio...    roubaram-me a insensatez,
não sou constância exacerbada, sou presença suave... sem fim,
descobri que amar é... tocar o intocável,
atingir o inatingível... e em resiliência redescobrir a alma...
que se recompõem diante de tanta doação,
é um desapego a infinitude... à solidão,
é o que de excesso... há em mim.

Ari Mota

sábado, 1 de novembro de 2014

A SOLIDÃO DA ÁGUIA

Amo... quem edifica pontes,
quem se constrói... só para esperar alguém,
quem desveste a fantasia... e vai ser feliz,
quem cansado... dos vazios,
atreve-se a encher a alma de amor,
e seus sonhos priorizam... sem ferir ninguém.
Amo... quem projeta pontes,
e permite... que passem nela sem ... tributos,
e livres... dançam em noites de isolamento,
aquietam-se em madrugadas de desespero,
não se lastimam... nem repartem a dor,
apreciam um novo vento,
e se renovam em todos os minutos.
Amo... quem em resiliência...
transformam-se em ponte,
e abrem caminho para a convivência,
jogam fora a mesquinhez das coisas,
e sabem o tamanho e a fugacidade do tempo,
e agigantam-se por dentro... com suas dúvidas e certezas,
entregam-se em demasia... em alegria,
sem medo do incomum,
e reconhecem a dimensão de uma ausência.
Amo... quem se transforma em ponte,
só para esperar por alguém que ficou para trás,
estendendo-lhe a alma... só para ele entrar.
Amo... quem não quis ficar pelo caminho... e sozinho,
não ter ninguém para...  esperar.
Amo... quem instalou uma ponte...
que o levasse para dentro de si mesmo...
em grandeza,
leveza,
só para... se encontrar.
Sabe...
amo as pessoas que carregam essa luz desmedida,
essa coragem... de tentar... quantas vezes... for,
em quietude... em solitude:
a sua essência, o... amor.
Sabe...
amo...  as pessoas que destilam forças de outras... vidas,
e não morrem na praça como uma pomba qualquer,
e nem... em vão.
Amo... quem... insiste... e continuam,
e são pessoas que iluminam a si mesmas,
mesmo sabendo...
que podem morrer como águia,
no pico mais alto,
na solidão.
Amo... aqueles que se doam... até o fim,
sem pedir... espere por mim.
 Ari Mota


sábado, 18 de outubro de 2014

O CAMINHO SOLITÁRIO DO SONHO

Se perceberes... solidão, por onde passas,
se perceberes... isolamento, onde andas,
se perceberes... poucas pegadas... espalhadas à frente,
e vez por outra... sentir calafrios de desamparo,
e estremecer diante do abandono,
e quase todas às vezes...  se achar... sozinho,
certeza é... este é o solitário caminho... do sonho,
e poucos transitam nele,
é descomedido, extenso... finito para que tem pressa,
é só para os que teimam... e em tenaz atitude continuam,
tem obstáculos imaginários, abismos em fantasia,
é árido de convivência, severo de companhia,
é como um deserto... só os fortes sobrevivem...
em teimosia.
Se perceberes... criticas, e olhares de desdém,
assevera mais ainda os passos...  olhe apenas o horizonte,
sem sair do percurso...
e sem seguir rastros de ninguém,
e saiba...  poucos, são os que têm a exuberante coragem de...
sonhar.
E sonhar é escolher o que busca,
reinventar-se... em ousadia,
criar laços... consigo mesmo,
construir abrigo dentro da própria alma,
iluminar a negrura do seu interior,
embelezar as dúvidas, e poetizar a angustia,
e desconstruir esses medos invisíveis... sem temor.
Mas, bom mesmo... é trilhar este destino... com alguém,
para repartir a solidão...
para experimentar o amor,
devanear a dois... dividir a emoção.
Sabe!  Nem todos os sonhos... conseguimos alcançar,
haverá dias... em que terás que decidir,
e sem ruptura... somente parar... sem desistir,
e saber a hora de se recolher,
e na alma... alguns, guardar,
outros recompor,
insistir com outros tantos, sem nada tirar...
seja o que for.
Sonhe... em ter coisas... ser um atleta... um líder... um poeta,
o que quiser,
sonhe com tudo que te faça feliz,
podes até sonhar... em delírios ou a esmo,
mas... embora, seja solitário o caminho do sonho.
- que seja uma explosão... a descoberta:
Quando experimentar,
 sonhar...
“ser você mesmo.”
Ari Mota


sábado, 27 de setembro de 2014

AMAR É TRANSCENDER A SI MESMO

Perdi... o que de selvagem eu tinha,
quando te encontrei.
Você me socorreu sem saber... daquele temporal.
Estendeu-me... a alma,
quando meus pés brincavam a beira do abismo.
Você me acolheu com o olhar,
quando... quase fui acometido por uma desordem neural.
Você dançou em meus braços em noites de solidão,
e nunca me deixou sozinho.
Sua luz... grudou no meu corpo,
sua pele aderiu à minha:
Não sei... se, sou um pouco... você,
ou você, um pouco... eu.
De todas as dúvidas que tive,
e em todos os descaminhos que me... perdi,
você silenciosamente me abraçava... sem duvidar.
Achei em ti o que procurava no vazio... de mim,
me... sacudiu, me virou do avesso, fez-me... até poeta,
colocou certeza no meu talvez,
me fez perder a braveza... amansou esta alma inquieta.
Espalhou beleza onde... eu destilava rudeza,
levou-me... onde eu nunca consegui andar.
Passei a te achar em tudo... e sem ilusão,
na sutileza de um riso, nessas loucuras ocasionais,
nestes devaneios que não envelhecem,
nesta lucidez que me assusta,
- até na escuridão.
Você me fez amadurecer ao seu lado,
com todos os vendavais que tivemos,
quando achava que estávamos apequenando,
você me olhava ternamente:
na verdade... era uma imersão em nossos sonhos,
coragem de ser feliz... mesmo quando perdemos.
Você me fez rir... quando o soluço me espreitava,
e o choro... ameaçava romper de dentro.
Você me acolhia em madrugadas de temporal,
e como um anjo afável... me...amava.
Quando te encontrei... você me individualizou,
passei a entender que amar é transcender a si mesmo,
e aí... passei de mim,
passei do que sou,
passei a não acreditar no fim do amor,
talvez, uns... ainda... o ignoram,
outros... nem ainda o reconhecem,
talvez para muitos... ele só...
- não começou.

Ari Mota

terça-feira, 16 de setembro de 2014

UMA EFÊMERA EMOÇÃO

Tudo passa...
Tudo vem e vai embora,
e nada é desmedido... que não possa suportar.
Existir... não passa de um vôo contumaz,
de um salto no abismo de si mesmo,
de uma imersão na teimosia de sempre tentar,
na ousadia de chegar aos limites, e do que se é capaz.
Como tudo passa... tente outra vez... sem temer,
procure ser feliz...  isso pode ser apenas um ensejo,
um desejo,
uma efêmera emoção,
mas... com o passar do tempo, verás que é um dever,
não sucumbir à solidão.
Como tudo passa... faça do seu jeito,
não espere ninguém iluminar a sua estrada,
nem vislumbre coragem de quem sempre se apequena,
acovarda-se na entrega... e só... encena,
e não consegue amar.
Como tudo passa... prudente é...
sempre recalcular a rota,
somos assim, se não avivar-se... desbota,
se não decrescer... não tem como agigantar-se,
se não encher... esgota,
temos que contemplar a rosa e reconhecer o espinho,
seguir... mas, dimensionar a lonjura do caminho.
E sem temor navegar para dentro... na vastidão da alma,
para se encontrar,
pode ir sem destino, sem rumo,
pode até se perder... só não pode naufragar.
Tudo passa... e nem tudo fica,
só o que escolher,
não busque nada além, nem depois das estrelas,
não há respostas distantes,
nem perguntas tão perto... para fazer.
-há apenas descobertas e nenhuma certeza,
e que, em vez de um esboço... tenha um projeto interior,
que armazene na alma... leveza.
Como tudo passa... não deixe a emoção acabar,
viver é um desassombro,
só os que não temem... reinícios... temporais,
só os que não priorizam as coisas,
conseguem crescer por dentro,
descortinam a sutileza do amor,
amam melhor, e em demasia...
ficam maravilhosamente... descomunais.

ari mota




domingo, 31 de agosto de 2014

O CAIS INVISÍVEL

Quando inadvertido...
e vez por outra… olho o meu passado...
lá, não tenho nada mais a buscar.
Construí... ao longo desse tempo, um cais invisível,
para sempre... parar,
e ter uma reflexão íntima de mim mesmo,
e um cultivo do meu mundo espiritual.
Eu vim... o abastecendo... só do que preciso,
fiquei seletivo e fui perdendo toda a luxaria,
claro que... tenho algumas preciosidades que coleciono,
mas, não são mais as coisas... nem as pequenezas,
lá... tenho os meus amores, a minha poesia,
tenho uma coletânea de emoções... essa coisa... imortal.
Então... reabasteço-me... encho minha alma de energia,
e volto... a sair de mim...
enfrentar todos os meus fantasmas,
sem permitir que me empurrem... nem que me segurem,
nem... tapem os meus olhos... nem os abram em demasia,
eu decido os meus vôos, e onde pousar,
eu corrijo os meus erros, sem ninguém julgar.
Mas, todas as vezes que a incerteza me aborda,
arrasta-me para a solitude...
e tenta me jogar nesses vazios abissais,
tenho um vento... que me leva de volta para casa,
para o meu cais,
e aí... viro silêncio,calmaria.
E continuo o meu caminho...
e nas minhas andanças pela vida,
faço eu as minhas escolhas.
E quando me acham... e olham-me...
pareço isolamento,
é que... para uns... isso vira tormento,
mas, transmudo em beleza, leveza,
estico, diminuo às vezes, torno-me resiliência,
e tudo vira encantamento.
E vou aprendendo que solidão... não é ir sozinho...
é... quando fores e tiver que voltar,
não ter alguém para te abraçar,
ninguém para saber o tamanho dos seus combates,
nem onde descarregar suas histórias, seu destemor,
nem contar suas aventuras,
alegria... amargura,
medos... segredos,
e que dentro dessa sisudez... tens brandura,
e da alma... amor.
Solidão... é não ter um cais... para atracar.

Ari Mota