domingo, 31 de agosto de 2014

O CAIS INVISÍVEL

Quando inadvertido...
e vez por outra… olho o meu passado...
lá, não tenho nada mais a buscar.
Construí... ao longo desse tempo, um cais invisível,
para sempre... parar,
e ter uma reflexão íntima de mim mesmo,
e um cultivo do meu mundo espiritual.
Eu vim... o abastecendo... só do que preciso,
fiquei seletivo e fui perdendo toda a luxaria,
claro que... tenho algumas preciosidades que coleciono,
mas, não são mais as coisas... nem as pequenezas,
lá... tenho os meus amores, a minha poesia,
tenho uma coletânea de emoções... essa coisa... imortal.
Então... reabasteço-me... encho minha alma de energia,
e volto... a sair de mim...
enfrentar todos os meus fantasmas,
sem permitir que me empurrem... nem que me segurem,
nem... tapem os meus olhos... nem os abram em demasia,
eu decido os meus vôos, e onde pousar,
eu corrijo os meus erros, sem ninguém julgar.
Mas, todas as vezes que a incerteza me aborda,
arrasta-me para a solitude...
e tenta me jogar nesses vazios abissais,
tenho um vento... que me leva de volta para casa,
para o meu cais,
e aí... viro silêncio,calmaria.
E continuo o meu caminho...
e nas minhas andanças pela vida,
faço eu as minhas escolhas.
E quando me acham... e olham-me...
pareço isolamento,
é que... para uns... isso vira tormento,
mas, transmudo em beleza, leveza,
estico, diminuo às vezes, torno-me resiliência,
e tudo vira encantamento.
E vou aprendendo que solidão... não é ir sozinho...
é... quando fores e tiver que voltar,
não ter alguém para te abraçar,
ninguém para saber o tamanho dos seus combates,
nem onde descarregar suas histórias, seu destemor,
nem contar suas aventuras,
alegria... amargura,
medos... segredos,
e que dentro dessa sisudez... tens brandura,
e da alma... amor.
Solidão... é não ter um cais... para atracar.

Ari Mota

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