terça-feira, 13 de setembro de 2011

TEMPORAL

Foi como um temporal,
quase que imperceptível,
vivi quase que sem perceber o sentido da luta,
as batalhas foram assustadoras,
os dias passaram sem inicio e sem fim,
as noites mal dormidas... foram para descansar o corpo,
a alma necessitava de repouso, e eu não percebia.
As pessoas passavam como o vento, quase nem as notei,
o mundo mudou diante dos meus olhos, e não o vi.
As horas eram minhas terríveis inimigas, eu tinha pressa,
afoito quis mudar o mundo, as pessoas.
Atormentado dizia sim aos outros, e não a mim.
Atropelei as minhas vontades, tropecei nos meus desejos,
abri janelas que sempre me mostravam o nada,
e fechei portas que me levavam direto ao meu coração.
Caminhei por becos, vielas, avenidas e sempre a procura,
foram tantas as caminhadas,
esqueci... de encontrar comigo mesmo,
e de repente o meu eu necessitava de uma companhia,
que por incrível que pareça era o meu equilíbrio,
que eu não conhecia.
E quando o tempo iniciou a pintar meus cabelos,
a minha alma apareceu reclamando moradia,
percebi que não era a temível velhice,
mas docemente a experiência... batendo em minha porta,
e como uma eterna inquilina, apossou-se do meu ser,
e como numa entrega... fez-se dona da minha vida.
São quase 60 anos,
pode ser uma vida ou apenas o inicio dela,
mas a vontade de estar em quietação,
é indubitavelmente o que aprendi nesta inevitável existência.
Hoje... danço enlouquecido ao meio dos temporais,
salto livre... embriagado das dúvidas que ainda tenho,
e sem medo.
Brinco em devaneios com as ventanias,
sem jamais sentir-se no abandono, sozinho.
Parei o tempo... sou calmaria,
espio a solidão da noite e a minha.
Não tenho pressa, nem o fim me assusta.
Quando os temporais chegam dilacerando a alma,
resisto... insisto, cresço por dentro, sem ruir,
teimo em ser feliz,
amo existir.

Ari Mota

2 comentários:

Denise disse...

Li, reli, tornei a emocionar-me...vc se supera Ari, e eu aplaudo teu dom de expor-se com esta sentimentalidade que ultrapassa a palavra - vc faz dela o alicerce de tua escrita (que parecem purificar a vida através das experiências) que conosco compartilha.

Fechando portas que te levavam direto ao teu coração, tornou-se resiliente - e hj divide conosco essa conquista. Obrigada por esta partilha preciosa!
Um grande e terno abraço!

Penélope disse...

Um texto carregado de emoções e experiências.
Um olhar magnífico para a VIDA!
Teimar em ser FELIZ e AMAR existir... pronto! Não precisa de mais nada...
Abraços